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40 anos depois daquela terça-feira

1007836Por Walmyr Júnior, no JB *

Entre os dias 6 e 7 de setembro, foi realizado o Encontro Nacional de Formação Política do Coletivo Enegrecer, na cidade de Salvador, Bahia. Jovens de 11 estados brasileiros se reuniram para debater as questões que envolvem a juventude negra.

Diante das diversas lutas travadas pelo movimento negro e das manifestações da juventude ocorridas em junho, assim como as conferências municipais e estaduais de promoção da igualdade racial, o Coletivo Enegrecer construiu seu seminário no intuito de formar novos militantes para intervir nos espaços que debatem a questão racial e nos setores que carregam o conservadorismo e o preconceito. Tudo isso tendo em vista romper com o racismo em todos os espaços.

O objetivo é debater não somente as políticas de ações afirmativas no Brasil nos últimos 10 anos, mas também os problemas que afligem cotidianamente a população negra, como a agressão policial e as mortes. Além disso, têm destaque as políticas que garantam a qualificação do SUS no atendimento dos jovens negros nos hospitais, políticas que aprofundem o debate sobre a participação dos negros no mercado de trabalho e nas decisões públicas, em especial nos espaços tidos como “prestigiados” na sociedade.

Para tarefas tão complexas é preciso uma juventude preparada a partir da história do movimento negro no Brasil e fora dele. É preciso que nós, jovens, busquemos uma formação que some a esse capital histórico para atualização das pautas que cotidianamente estão sendo esquecidas pelos movimentos sociais. Só com força e protagonismo da juventude será possível superar o medo da renovação que nossa sociedade conservadora tem.

Marcaram presença no debate diversos atores e atrizes que constroem o movimento negro. Uma das falas que me marcou nesse encontro foi a do Nilo Rosa e da Marcela Santos. O membro da Associação de Pesquisadores Negros, Nilo Rosa, trouxe para o debate as possibilidades históricas dos movimentos sociais no cenário latino-americano, com suas expansões democráticas e perspectivas de ações populares. Essa contribuição é uma ferramenta essencial para olharmos os espaços que temos que ocupar, enquanto jovens que somos, mas cheio de utopias e expectativas para com a necessidade de reescrever nossa história.

Já a diretora de Combate ao Racismo da UNE, Marcela Santos, falou sobre o anti-racismo e o feminismo. Marcela deu enfase às opressões do modelo de sociedade atual. Uma delas é o machismo. O modelo político sustentado sobre o patriarcado tende a excluir as mulheres de todos os espaços de decisão, e em aliança ao racismo faz com que as mulheres negras estejam em situação de maior vulnerabilidade social. Essas mulheres ocupam os piores postos de trabalho, assim como possuem menos condições de estudar.

“Nós temos que trabalhar na cozinha da mulher branca para que ela possa estar em outros espaços públicos”, disse Marcela. O projeto de vida de boa parte das mulheres negras está condicionado ao interesse de uma elite social que usa sua força de trabalho para se beneficiar.

Saímos desse seminário com as energias renovadas e, principalmente, com o compromisso de levar o enfrentamento ao racismo em todos os espaços da sociedade. Temos tarefas importantes nesse próximo período, como a construção de uma agenda política que tenha a forte presença da juventude negra na próxima Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que acontecerá de 5 a 7 de novembro, em Brasília.

* Walmyr Júnior é graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

 

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