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Aids, beterraba e banana com casca

Há fanáticos para tudo. Na área da saúde, não é diferente. Há inclusive aqueles que negam o avanço da ciência. Em seu fanatismo, são contra as vacinas, os medicamentos, as cirurgias, etc. Alguns deles afirmam que a cura de tudo está na natureza e na alimentação natural (vegetariana ou macrobiótica).

A senhora Manto Tshabalala-Msimang está inserida em pelo menos uma das três categorias a seguir: fanatismo, ignorância ou má-fé. Manto pede para seu povo comer beterraba, alimento no qual estaria a cura da Aids. Não a conheço nem li nada sobre sua formação científica, mas acho que tal recomendação é mesmo fruto de má-fé.

Manto Tshabalala-Msimang é nada menos que a ministra da Saúde da África do Sul, país pobre, de maioria negra, analfabeta e desinformada. A África do Sul tem uma das maiores populações doentes de Aids. O próprio governo sul-africano estima que quase seis milhões de pessoas sejam portadoras do vírus. Em decorrência da Aids, morrem cerca de 900 sul-africanos por dia.

Sabemos que o tratamento da doença se dá pelo uso de medicamentos (caros), e que os países do continente africano não têm recursos suficientes para comprá-los. Dependem de campanhas ou de fundos internacionais. Ao invés de informar e orientar o seu povo sobre esses problemas, Manto prefere não falar a verdade e pedir para que comam beterraba.

Na África do Sul a coisa não pára por aí. No primeiro semestre de 2006, o ex-vice-presidente Jacob Zuma —exonerado em 2005 por corrupção—, acusado de estuprar uma portadora do vírus HIV, disse que tomou uma ducha após a relação sexual para não contrair a doença.

Através de tal declaração, passa para a população a falsa idéia de que qualquer ducha após a relação sexual previne a Aids. Detalhe: Zuma já liderou o Conselho Nacional de Aids do país.

A ministra da Saúde, com a anuência do presidente Thabo Mbeki, minimiza o impacto da doença e defende a ingestão da beterraba, alho e limão para o tratamento da Aids. Com esta postura, nega os avanços da ciência e a relação entre o HIV e a Aids. Ao mesmo tempo, nega a eficácia dos remédios anti-retrovirais.

Tal postura levou, recentemente, mais de 80 cientistas e acadêmicos de diversos países a condenar a política da África do Sul contra a Aids. Estes cientistas enviaram uma carta ao presidente Thabo na qual pedem a demissão da ministra.

Na carta, afirmam que negar que o HIV cause a Aids é um absurdo, e que “diante das evidências científicas, promover políticas ineficazes e imorais contra o HIV/Aids põe vidas em risco; ter como ministra da Saúde uma pessoa que não tem o respeito internacional é um embaraço ao governo sul-africano”.

A carta já foi a segunda manifestação da comunidade científica internacional sobre o tema. Em agosto de 2006, foi realizada em Toronto a Conferência Internacional sobre a Aids. Durante a realização do evento, mais de 130 representantes da África do Sul pediram asilo ao governo canadense, dizendo que suas vidas corriam perigo devido à política de seu país contra a Aids.

A redução do número de casos de HIV/Aids passa por uma política de prevenção que necessita inclusive da mudança da cultura e dos hábitos sexuais. As declarações dadas pelas autoridades sul-africanas mostram desinformação ou até má-fé para economizar recursos. Também permitem que sua população permaneça ignorante em relação à doença.

Prova dessa ignorância é dada pela declaração de uma mãe sul-africana a respeito do uso da camisinha: “Não se come banana com casca”.

Dr. Rosinha é médico pediatra e deputado federal (PT-PR). dr.rosinha@terra.com.br – www.drrosinha.com.br

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