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Armindo Trevisan fala sobre a refundação do PT

Em ato realizado na noite de segunda, 12, em Porto Alegre, militantes e simpatizantes do PT falaram sobre a proposta de refundação do Partido. Realizado no auditório da Federação da Alimentação, o ato político reuniu dirigentes partidários, parlamentares, militantes dos movimentos sociais e simpatizantes da sigla. Chamado por lideranças petistas como Tarso Genro e Raul Pont, o ato contou com o apoio da Executiva do Diretório Municipal e teve como auge um pronunciamento do escritor Armindo Trevisan (Leia também: PT: A construção permanente da utopia).

ELIANE SILVEIRA – Porto Alegre

Durante o ato, fizeram uso da palavra o presidente do PT de Porto Alegre, Chico Vicente, o presidente do PT/RS, Olívio Dutra, a vice-presidente da CUT, Rejane Oliveira, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Jurandir Damin, o ex-presidente nacional do PT, Tarso Genro, o Deputado Estadual Estilac Xavier e o Deputado Estadual e Secretário-Geral do PT, Raul Pont. Encerrando o evento, o escritor Armindo Trevisan falou sobre a crise vivenciada pelo PT e a proposta de refundação. Também acompanhou o ato, o Deputado Estadual Elvino Bohn Gass. Os deputados Adão Villaverde, Henrique Fontana e Maria do Rosário mandaram mensagens em apoio à iniciativa de debate.

Programa de Solidariedade
O poeta e escritor Armindo Trevisan iniciou destacando o nível de consciência dos dirigentes presentes no ato. Comparou o sentimento dos petistas com o sentimento dos cristãos quando surgiram as denúncias de pedofilia na Igreja. “Houve o abalo de uma espécie de fé política que está na base do PT, mas não está na base de nenhum outro partido”, disse.

Ele contou sobre a doença que o atingiu recentemente, quando teve que combater um grave linfoma. Lembrando que sua mulher foi a primeira a perceber, disse que as mulheres petistas têm muito a contribuir nesse processo de refundação do PT. “As mulheres são sempre mais observadoras e eficazes”, ressaltou. Trevisan lembrou que passou por uma série de exames até iniciar o tratamento que ativou o seu sistema imonológico. “O PT também tem o seu linfoma hoje e precisa usar os meios adequados”, disse o escritor, que hoje está clinicamente curado.

Armindo Trevisan disse que sua presença no ato se devia a convite de amigos e à sua simpatia pelo projeto político que o PT representa. Defendeu que o PT precisa reassumir o seu DNA e levantar novamente a bandeira da utopia. Ele encerrou propondo um programa emergencial para o PT que inclui a salvaguarda da imagem de um Brasil possível e realizável, a soma de desejo suprapessoais que acionem um programa de solidariedade, a manutenção de uma atitude de crítica permanente e o compromisso de jamais deixar de consultar as bases.
O que disseram os dirigentes

Armindo Trevisan
Depois de tudo o que aconteceu, nos últimos meses, em nosso país: o caso Waldomiro Diniz, a CPI do Mensalão,.e demais fatos, acompanhados por novos escândalos, com destaque para os de tráfico de influências e Caixa Dois -.o que é possível dizer, caros amigos?
Prefiro, previamente, endossar duas declarações, uma atribuída ao Senador Aloizio Mercadante por Josias de Souza e inserida no seu blog da da Folha Online (12-12-2005): “erramos onde não podíamos, na ética”; outra, de  um intelectual que sempre respeitei, Paul Singer: “Faço parte dos perplexos, dos frustrados e dos traídos”. (Zero Hora, 22-08-2005).

No entanto… eis-me aqui, nesta Plenária de porto Alegre!

Extraído do artigo PT: A Construção permanente da Utopia. [Link Indisponível] Clique no artigo e leia.

Jurandir Damin
É um ato muito importante e de muito significado para nós, militantes de esquerda, que lutamos contra a ditadura militar e há 25 anos desenvolvemos essa experiência partidária. Neste momento, nos reunimos para dizer que esta é uma experiência que precisa avançar e se consolidar. No movimento sindical muitas pessoas que não são filiadas tem se aproximado neste momento, para dizerem que querem participar e contribuir. Antes do final do ano estaremos realizando um grande ato de filiação de metalúrgicos.

Rejane Oliveira
Quero destacar a importância desta iniciativa tendo por referência o programa histórico do PT. A eleição de Lula à presidência da República foi resultado de um patrimônio de duas décadas de lutas. Precisamos de mobilziação popular para impulsionar o governo Lula para uma condução de esquerda. Refundar o PT é necessário para reencontrar a militância, nosso programa e nossos sonhos contruídos coletivamente.

Estilac Xavier
Sou solidário a todos movimentos internos do PT que possam reavivar o ambiente partidário. Nossa ideologia interna nos afastou da sociedade real. Precisamos encontrar o elo perdido entre o que éramos e o partido eleitoral que nos tornamos, tendo consciência de que não deixaremos de disputar eleições. Neste sentido, é fundamental promover alterações no nosso estatuto e refazer o programa estratégico para o país.

Tarso Genro
Esse movimento de refundação é um movimento de resistência política, de recriação da nossa cultura política. Podemos ter divergências dentro do PT, mas temos uma afinidade estrutural: o que pode substituir Lula na presidência é a turma do ACM e não daqueles que se consideram mais a esquerda. O RS tem que ser exemplo neste processo, onde devemos secundarizar nossas divergências pois o que está em jogo é uma luta política de fundo sobre o futuro do Brasil. O que está em jogo não é um movimento pela ética e pela limpeza do sistema partidário brasileiro, e sim uma campanha contra o PT e o Lula. Estamos falando de uma luta social de classes, mas não vamos, com isso, desculpar nossos erros. Mas também não permitiremos que se valham dos nossos erros para desconstituir o processo democrático que elegeu Lula presidente do país.

Olívio Dutra
O que precisamos é resgatar os valores fundantes do nosso Partido. O PT não é e nem pretende ser o sal da terra, mas tem que ser o diferencial da política nacional e da esquerda socialista. Esse movimento tem que trazer a tona aquilo que ficou no substrato das origens do nosso Partido. Mas para isso a cidadania em nosso Partido não pode se reduzir aos momentos de disputa interna, e nem a militância reduzida a cabo eleitoral de nossas candidaturas. Temos que reafirmar o PT como um partido de esquerda, socialista e democrático.

Raul Pont
Esse movimento surgiu no meio do PED e no auge da crise. Não é do Partido, de nenhuma tendência. Brotou da necessidade de espaço para pensar o Partido. Ele aponta a importância de parar na luta política para pensar e fazer a reflexão. Devido à nossa pluralidade, vários nomes são considerados – refundação, resgate, reconstrução, reencarnação – mas há um sentido em comum, que é a convicção de que não podemos ficar parados diante de tudo que aconteceu. Não há como desvincular os problemas de caixa dois das alianças que fizemos, pois a política de alianças não é só caldo de soma de votos, ela envolve outras questões.

O nosso crescimento também teve participação nesta crise. Pulamos, em duas décadas, de centenas de militantes para 800 mil filiados, de alguns vereadores para a Presidência da República. O PT tomou cuidados de se precaver da burocratização como nenhum outro partido no país fez. Inauguramos novas práticas na política brasileira, como a transparência do contracheque dos eleitos, a contribuição partidária, a fidelidade partidária, o fechamento de questão. Tivemos a ousadia de expulsar três deputados federais quando tínhamos apenas oito no Congresso. Mas todas essas medidas se revelaram insuficientes.

Nossa democracia interna, por exemplo, não foi suficiente para garantir o controle das finanças. Não fomos suficientemente ousados para disputar regras que melhorem o nosso sistema eleitoral. Qual a reforma política dos socialistas? Qual o nosso compromisso partidário com as nossas experiências de Democracia Participativa, uma vez que nem todos os nossos governos a praticam? Se somos socialistas não podemos dizer amém ao parlamento que herdamos.

O último texto que debatemos profundamente no Partido, com o conjunto dos filiados, sobre o Socialismo Petista, já tem 15 anos. E esse é o sentido do movimento de refundação. Sacudir o partido para um debate estratégico que nos facilite acertar na tática.

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