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Belém: PT não conseguiu barrar a direita

Corresponder à energia militante e aos mais de 300 mil votos

Não vou teimar com quem diz

Que viu ferro dar azeite

Um avestruz dando leite

E pedra criar raiz,

Ema apanhar de perdiz

E um rio fora do leito

Um aleijão sem defeito

E um morto declarar guerra,

Porque vejo em minha terra

Prefeitura sem prefeito.

Patativa do Assaré

 

Após administrar Belém por duas gestões consecutivas, o PT e a Frente Belém Popular foram derrotadas na última eleição. A disputa teve como candidatos Ana Júlia (PT) e Duciomar Costa (PTB), ambos senadores eleitos em 2002. O vencedor da eleição, Duciomar Costa, disputou por três vezes, nos últimos 12 anos, a prefeitura da capital. Nesse período, assistiu-se ao crescimento do seu peso político e eleitoral, sem que fosse estabelecida uma campanha sistemática de desconstrução de sua imagem de “protetor dos pobres”.

 

A disputa em 2000

Na eleição de 2000, já na condição de deputado estadual mais votado do Pará, contando com um tempo de televisão de pouco mais de três minutos no primeiro turno, conseguiu chegar ao segundo turno. Duciomar foi derrotado pelo prefeito Edmilson, que concorria à reeleição, por uma diferença de apenas 1,5% dos votos.

 

Foi decisiva para aquela apertada vitória de 2000 a percepção, por parte da população mais pobre, da existência de uma inversão nas prioridades do investimento público, sobretudo a implantação do Orçamento Participativo que, mesmo contando com inúmeros problemas, mobilizou uma rede de defensores da administração para além da militância partidária, fator fundamental para o enfrentamento rua a rua e a consolidação da vitória eleitoral.

 

Por outro lado, entre os extratos médios da sociedade, nossa vitória foi favorecida pela revelação, em larga escala, da condenação de Duciomar por uso de diploma falso de médico. Apesar desse fato ter se tornado público nos anos 90, nunca havia ganhado centralidade em uma disputa eleitoral.

 

Duciomar, derrotado pela segunda vez na disputa à prefeitura de Belém, aliado e contando com apoio e recursos públicos mobilizados por meio de diversos esquemas de corrupção, engendrados pelo PSDB que comanda o executivo estadual, vicejou e cresceu levando a cabo aquilo de mais antigo na política brasileira: o favor.

 

A força do favor

Ao analisar como o favor se enraizou na política brasileira e suas características, Roberto Schwarz afirma que: “o escravismo desmente as idéias liberais; mas insidiosamente o favor, tão incompatível com elas quanto o primeiro, as absorve e desloca, originando um padrão particular. O elemento de arbítrio, o jogo fluido de estima e auto-estima a que o favor submete o interesse material, não podem ser integralmente racionalizados. Na Europa, ao atacá-los, o universalismo visara o privilégio feudal. No processo de sua afirmação história, a civilização burguesa postulara a autonomia da pessoa, a universalidade da lei, a cultura desinteressada, a remuneração objetiva, a ética do trabalho, etc. – contra as prerrogativas do Ancien Régime. O favor ponto por ponto pratica a dependência da pessoa, a exceção à regra, a cultura interessada, a remuneração e serviços pessoais”.

 

Parte da força eleitoral de Duciomar decorre exatamente do não atendimento democrático pelo Estado das demandas básicas da maioria da população e cresce com a restrição de mecanismos que permitem ao povo a possibilidade de participação concreta, para além das eleições, na gestão pública.

 

Derrotado para a prefeitura de Belém em 2000, Duciomar consolida sua aliança com o PSDB para as eleições de 2002. O grupo que governa o estado do Pará mantinha diversos esquemas de corrupção. Um deles, em troca de favores fiscais, cobrava propinas de empresas. Somente uma destas empresas, a CERPASA, doou ilegalmente R$ 16,5 milhões para a campanha de Simão Jatene, um quase desconhecido secretário de estado, ao Governo do Estado e para a de Duciomar ao Senado da República.

 

Edificou-se assim uma poderosa máquina eleitoral que patrocinou diversos outros atos ilícitos durante a campanha de 2002, dentre eles a doação pelo Governo do Estado de mais de R$ 22 milhões de forma ilegal a prefeituras do interior. Práticas que podem inclusive resultar na cassação dos mandados dos eleitos: Simão Jatene, governador; e Duciomar, senador. Ana Júlia, apesar de ter obtido mais de 1,1 milhão de votos, a maior votação na história do Pará concedida a um candidato ao senado, perdeu em Belém para Duciomar por uma diferença superior a 28 mil votos.

 

 

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O cenário em 2004

Em 2004, os debates que precederam a configuração da estratégia que seria adotada para dar continuidade à presença do PT no comando da administração de Belém confirmaram um cenário eleitoral nem um pouco tranqüilo para o Partido. Dentre as dificuldades que seriam enfrentadas estava a percepção negativa que o povo de Belém tinha das administrações municipal e federal.

 

As pesquisas de junho indicavam que, ao se confrontar o percentual dos que tinham uma avaliação positiva do nosso governo municipal (25%) com os que tinham uma avaliação negativa (31%), obtínhamos um saldo de seis pontos negativos. A percepção popular captada naquele momento pelas pesquisas não era muito diferente em relação ao governo Lula. O saldo da avaliação positiva do governo federal (22%) menos a avaliação negativa (33%) resultavam em um saldo de 11 pontos percentuais negativos, certamente vinculados a frustrações em relação à esperança depositada no governo Lula de mudança real nas condições de vida.

 

Já a situação da avaliação do governo do padrinho político de nosso adversário, o governador Simão Jatene do PSDB, era inversa: a pesquisas apontavam saldo positivo de 38%. Evidentemente que num quadro como este, a influência do apoio do prefeito Edmilson no voto para o novo prefeito de Belém aumentaria 34%, diminuiria 39%, deixando um saldo negativo de 5%.

 

Em conexão direta com a avaliação negativa dos governos municipal e federal, também o PT, preferência partidária em Belém, atingiu em julho percentual de 19%, que sequer representava a metade dos 42% registrados em novembro de 2001. A este quadro se somou o fato de o PPS, que havia composto a Frente Belém Popular nos dois mandados, ter lançado candidatura própria e hostil a qualquer candidatura do PT.

 

Esse quadro também explica porque foi inevitável que a escolha de nossa candidatura recaísse na companheira Ana Júlia, única liderança partidária que poderia partir de um patamar de representatividade social capaz de fazer frente à oposição sistemática do PSDB ao governo Edmilson e ao governo Lula.

 

Perspectivas

Apesar da derrota nas eleições, parte de nossas tarefas foi cumprida. Revertemos a intensa disseminação de versões negativas sobre nossa candidatura e sobre as ações da prefeitura. Tanto que encerramos a campanha com a ampliação significativa da avaliação positiva do nosso governo: ao final do pleito, ao comparar os percentuais de avaliação positiva e negativa passamos a obter um saldo de dezenove pontos positivos. Conseguimos levar a militância partidária às ruas, apesar da grande pressão do discurso dos adversários que diziam que ganhariam a eleição ainda no primeiro turno.

 

Os mais de 300 mil votos obtidos, que representam 42% da votação no segundo turno, confirmam o nosso grande nível de representatividade social e nos impõe a responsabilidade de manter o contato e oferecer alternativas de direção política a essa expressiva base social.

 

“Também a mim a propaganda cansa

É tão fácil alinhavar romanças,

Mas eu me dominava entretanto,

E pisava a garganta do meu canto”

Maiakovski

 

 

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