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Comentários sobre um domingo de abril

2158025Lúcio Costa

As grandes empresas de comunicação – que passaram os últimos dias convocando aos atos golpistas – falam que, em todo o Brasil teriam participado cerca de 160 mil pessoas. Na certa, não chegou-se a metade disso. Assim, os que previam a repetição das manifestações conservadoras do último 15/03 deram com os burros na água.

A magnitude dos eventos do 15 de março – a qual, diga-se de passagem, foi absurdamente magnificada pelos barões da mídia – pode ser explicada por diversas razões.

Certamente, houve o componente da frustração de uma oligarquia pela quarta vez batida nas urnas pelo populacho e os populistas lulo-bolivarianos; aqui havia dor de cotovelo da derrota somadas a um secular desprezo pelo povo em alguma medida explicam aquela explosão catártico-conservadora.

A esse caldo, acrescentem-se os temperos postos pelo mutismo do Governo Federal, por um discurso de ajuste fiscal feito sem prévia combinação com os partidos e segmentos sociais que deram a Presidenta Dilma a vitória; a morosidade e os limites da Direção Nacional do PT em responder com firmeza ao escândalo da Operação Lava-Jato e, provavelmente ter-se-á as razões a explicar as dimensões das marchas golpistas as quais, aliás, como hoje se sabe, obtiveram a adesão basicamente das oligarquias e das classes médias conservadoras que já haviam votado na oposição paleo-liberal.

As razões do encolhimento das manifestações do dia 12 de abril podem ser localizadas em variados quadrantes. Houve, o anticlímax da lista dos denunciados na Operação Lava-Jato eis que, ali os grandes presentes não foram os petistas, mas o PP e, em especial, o PP gaúcho e, o PMDB. Logo após, a Operação Zelotes trouxe a luz do sol maracutaias tributárias bilionárias supostamente praticadas pela fina flor da sociedade: Santander, Safra, BankBoston, Pactual; Ford, Mitsubishi, BR Foods, Camargo Corrêa, Light e RBS/Rede Globo. Por fim, o depoimento à CPI do Sr. Vacari, Tesoureiro do PT Nacional, desde o ponto de vista da direita e de seus telejornais foi como tosa de porco: se prestou a muito gritedo, mas a pouca lã!

Por fim, é legitimo cogitar que a recente aprovação do PL 4330 pela maioria conservadora da Câmara Federal tenha tanto, arrefecido o ânimo de certas parcelas de assalariados das classes médias que são tão conservadoras em política como o são no desejo de manterem seus empregos bem como, ampliado as desconfianças do povo diante daqueles que só fazem por atacar ao presidente Lula e falar em cortar direitos trabalhistas.

A redução das marchas conservadoras não deve levar a que seja menosprezada a força da direita social golpista, pois graças a capacidade renovada de mobilizar sob as bandeiras do Fora Dilma e Fora PT parcelas das oligarquias e das classes médias esta constituiu-se num elemento a ser considerado na disputa política.

De assinalar, a presença em praticamente todas as manifestações de apelos ao golpe militar. Assim, o golpismo social de direita convive no mesmo espaço político com a ultradireita fascista aliás, com esta compartilha da violência simbólica e de um discurso do ódio que, potencialmente criam as condições para a prática da intimidação através de atos de terrorismo e violência política.

Não há de se cair na tentação de caricaturizar dos “Vem Pra Rua”, dos “Revoltados On-Line”. Tenhamos presente, esses e outros grupúsculos da constelação golpista são apenas a expressão de algo muito mais sério e perigoso: a decisão presente em largos setores das organizações patronais, das ONGs de direita, do bloco do PSDB/DEM/PPS e de frações de outros partidos a direita e ao centro de pôr fim a distribuição de renda e poder em curso no Brasil nestes últimos 12 anos.

A similaridade do discurso da direita de hoje com as pautas e a histeria política udenista não são gratuitos. Novamente, como em 1955 e 1964, tratam as oligarquias e as classes médias conservadoras de buscar encerrar um ciclo de afirmação democrática, nacional e popular. Ontem foram Vargas e Jango e o trabalhismo. Hoje são Lula e Dilma e o petismo.

Ontem, a maioria conservadora da Câmara ao votar o PL 4330 começou a rasgar a CLT.  Amanhã, se não for detida pela força do povo, a contrarrevolução conservadora rasgará a Constituição e excluirá o povo da vida político-social da Nação. Essa é real a disputa dos dias que correm.

Criar-se-ão as condições de serem mantidos abertos os caminhos da revolução democrática se unificarem-se os movimentos em defesa da reforma política e da luta contra a corrupção; se unificarem-se a CUT, a CTB e os movimentos sociais populares na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e, em especial, contra a terceirização.  Esse é o desafio posto.

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