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Como a turma de Pinda derrotou os cardeais do tucanato

Na foto do anúncio oficial não aparece José Serra. Só depois o escolhido vai ao encontro do preterido.

JOAQUIM SORIANO

A imprensa noticiou com mais espalhafato do que merecia a candidatura do atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, à Presidência da República pelo PSDB. A aliança entre o PSDB e a grande mídia buscou mostrar o impossível: o PSDB unido em torno do seu candidato. Na foto do anúncio oficial não aparece José Serra. Só depois o escolhido vai ao encontro do preterido.

O PSDB é um partido que se formou – depois da cisão com o PMDB –  a partir do exercício do governo federal, com Fernando Henrique Cardoso à frente. Um partido onde mandava quem podia e obedecia quem tinha juízo. A tal ponto que a escolha do candidato a enfrentar Lula e o PT em 2006 seria feita por apenas três pessoas – o Senador Tasso Jereissati (presidente da legenda), o Governador de Minas, Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique. A preferência da cúpula do tucanato era por José Serra. Eles queriam a volta da mesmíssima patota ao centro do poder da república.

José Serra, prefeito de São Paulo disse que só topava a tarefa se fosse consenso no seu partido. A soberba nunca foi boa conselheira.

Geraldo Alckmin nasceu em Pindamonhangaba, lá foi vereador e prefeito. Foi deputado estadual e federal. Foi vice de Mario Covas, do qual se diz herdeiro. Herdou o governo e logo tratou de colocar a turma de Covas para fora. Ocupou os lugares com os seus fiéis. Na turma do Alckmin não tem intelectuais nem economistas famosos, como é do gosto de tucanos como Serra e outros. Para quem vai acompanhar a disputa nacional é bom ir conhecendo estes nomes: Luiz Salgado Ribeiro, jornalista e secretário especial do governador – cujo irmão é o atual prefeito de Pindamonhangaba;  José Carlos Meirelles, secretário de Ciência e Tecnologia; Edson Aparecido, líder do governo na Assembléia;  Silvio Torres, deputado federal; o atual chefe da pasta da Habitação, Emanuel Fernandes, ex-prefeito de São José dos Campos e Orlando de Assis Baptista Neto, secretário especial, oriundo de Caçapava e conselheiro de Alckmin desde os tempos de deputado estadual. Esta turma, a turma de Pinda, resolveu no início do ano dizer que Alckmin seria pré-candidato até o fim e que ele deixaria o governo no dia 31 de março.

A força de Alckmin, no entanto,  não deriva da acertada tática interna para inviabilizar a candidatura “consensual” de Serra. Sua força é melhor explicada pela pesquisa divulgada pela revista Exame e já tratada pelo Periscópio   de fevereiro de 2006:

“Em uma pesquisa encomendada ao Instituto Vox Populi em outubro de 2005, a revista Exame pesquisou a preferência de 231 companhias do ranking Melhores e Maiores da revista, contabilizando os votos do presidente ou do principal executivo da empresa pesquisada. Na votação espontânea, Alckmin obteve 40% dos votos contra 21% de Serra e 6% de Lula. Na estimulada, sem Serra, Alckmin obtém 84% dos votos contra 7% de Lula. O seu exercício de governo em São Paulo e a sua maior nitidez conservadora-liberal fazem de Alckmin o preferido do grande empresariado brasileiro. “Alckmin administra o estado como se fosse uma empresa privada”, afirma José Gallo, presidente das Lojas Renner na reportagem da revista. Em entrevista à Exame, Alckmin chega a afirmar: “É tocar as reformas das quais já falamos. É dar à administração pública os mesmos critérios da iniciativa privada. O caminho é eficiência, eficiência, eficiência. Trabalho, trabalho e trabalho.”

Confirmada a pesquisa. A escolha foi muito bem acolhida por lideranças empresariais. Antônio Ermírio de Moraes (grupo Votorantim), Paulo Skaf (presidente da Fiesp) e Armando Monteiro (presidente da CNI) se esmeram em elogios à administração Alckmin . O mercado financeiro também gostou.

Alckmin é o preferido dos mais ricos dos ricos. É de direita. Seu discurso político não deixa dúvida. Na primeira oportunidade depois de escolhido disse a uma platéia de “jovens empreendedores” que “a pátria são as famílias, a religião, os costumes, a tradição”. Estas e outras idéias deve aprender nas palestras semanais que promove no Palácio dos Bandeirantes com representantes da organização católica de ultra-direita, Opus Dei.

Estas são as credenciais e a força do principal adversário de Lula em 2006: é de direita e o preferido da classe dominante. Promete um governo mais liberalizante, mais privatista e com mais quebra de direitos sociais do que foram os dois mandatos de Fernando Henrique.

A candidatura de Alckmin incita a uma polarização política e social com muita nitidez. Cabe ao PT se colocar como o principal agente para recompor os laços do movimento democrático e popular. Construir uma aliança política e social para desbloquear a transição interrompida. Uma aliança com os partidos de esquerda, os movimentos sociais e todos aqueles e aquelas que lutam por uma nação democrática, pela ampliação de direitos, pelo crescimento econômico com distribuição de renda, onde o protagonismo popular seja o principal artífice do futuro do país.

Joaquim Soriano é Secretário Geral Nacional adjunto do PT e membro da Coordenação nacional da Democracia Socialista.

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