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Feminismo radical nas ruas e na ação

Manifestações mostram diversidade na ação feminista e força do movimento.

O 8 de março foi marcado por ações e mobilizações por todo país. A principal atividade foi a marcha em São Paulo, com a presença de quase 30 mil mulheres, tendo a representação de 16 estados. Essa atividade foi convocada como o início das Ações Internacionais da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) em 2005 e lançamento da Carta das Mulheres para a Humanidade.

A passeata trouxe as reivindicações políticas dos vários setores do movimento de mulheres, e demonstrou a força de auto-organização das mulheres e sua capacidade de construir alianças com o conjunto dos movimentos sociais e forças que lutam por mudanças. Estiveram reunidas na mesma passeata militantes que lutam pela descriminalização e legalização do aborto, pela valorização do salário mínimo, por moradia, pela reforma agrária, contra a violência sexista, contra o racismo, contra a guerra, a militarização e pela paz, entre outros temas.

Desde que a MMM iniciou suas ações no Brasil, tem procurado recuperar e/ou manter expressões típicas do feminismo, tais como os adereços coloridos. Ao mesmo tempo, busca ampliar e construir seus próprios símbolos e expressões, como contraponto aos padrões de consumo. E lá estavam as faixas de tecido florido, o caminhão de som enfeitado com chita, a batucada feminista.

Em Porto Xavier, uma cidade pequena na fronteira com a Argentina, mais de 3 mil mulheres participaram das mobilizações. O dia de lutas reuniu um amplo setor de mulheres rurais e militantes de Porto Alegre e várias regiões do RS, o que comprova o enraizamento do movimento.

 

Marcha Mundial das Mulheres. Protesto de movimentos em defesa dos direitos das mulheres reune centenas de menifestantes em passeata que percorreu a av paulista e a rua da consolacao. Sao Paulo SP 09.03.2005 Foto: Marlene Bergamo/Folha Imagem
Cores Vivas. 30 mil nas ruas de São Paulo no Dia Internacional de Lutas pelos Direitos das Mulheres

O 8 de março foi marcado pelo alto índice de presença de jovens, identificadas com um feminismo militante. Desde que surgiu, a Marcha Mundial de Mulheres retomou um tipo de mobilização mais radical, com o combate à mercantilização, em diálogo com a crítica ao neoliberalismo. O espírito de Seattle trouxe a insígnia “o mundo não está venda”. A Marcha, por sua vez, afirma que a mulher também não é mercadoria

Mais uma vez, o 8 de março foi também um momento forte de denúncia da violência, que trouxe com força o questionamento do machismo e da desigualdade de gênero. Nesse sentido, fica claro que os momentos de mobilização tornam-se também de educação popular, que contribui no processo de formação e possibilita às mulheres dar um salto de consciência.

As mobilizações se inserem num processo de retomada militante de um setor do feminismo. Isso combinou para uma superação da visão triunfalista que havia prevalecido nos anos 90, e que não permitia enxergar um retrocesso da luta. Como conseqüência desse retrocesso, aconteceram perdas de direitos e a reimposição de padrões de comportamento conservadores, além do acirramento do machismo.

O 8 de março conseguiu conciliar a multiplicidade de pautas com um sentido geral unificador, de questionamento da orientação geral das políticas que impedem a garantia de direitos. A conseqüência foi uma manifestação de grandes dimensões e a possibilidade de pautar os temas feministas nos mais diversos campos de atuação social.

Termômetro

Por fim, é preciso salientar que uma mobilização dessa dimensão funciona como um termômetro da intenção de lutas. A abertura do calendário de mobilizações aponta a condição e a disposição da sociedade para mobilizações de massa no país. As mulheres se colocam como protagonistas desse processo, e mostram a importância de um projeto estratégico, que permita avançar na luta contra o neoliberalismo e todas as formas de opressão, indo além da resistência.

A presença massiva se deu pelo fato de que essa convocatória unificou e envolveu vários setores do movimento de mulheres e dos movimentos sociais. O desafio é dar continuidade a esse processo para que 2005 seja um ano de ascenso das lutas e de construção de formas organizativas que mantenham esse grau de mobilização. Hoje, mais do que nunca, mulheres em movimento mudam o mundo.

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