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Imprensa destaca derrota governista e Cristina aposta em reviravolta até outubro

942753Do Opera Mundi

Um dia depois das eleições primárias legislativas, a imprensa argentina destacou nesta segunda-feira (12/08) as derrotas sofridas pelo governo de Cristina Kirchner nos maiores distritos do país. Como já é costume, os principais jornais fizeram fortes críticas à atual administração e chegaram a anunciar o fim dos dez anos do “kirchnerismo” no poder.

A imprensa mostra um cenário em que o modelo do atual governo, iniciado em 2003 com Néstor Kirchner, estaria esgotado. Defensores da família Kirchner, no entanto, lembram de uma derrota semelhante em 2009, quando Francisco de Narváez bateu a presidente nas primárias, mas não evitou a reeleição de Cristina.

Depois da derrota de 2009, o governo argentino foi obrigado a se reinventar e deu início a alguns de seus principais projetos, como a nacionalização das previdências que eram privadas, a lei de meios e o casamento igualitário. Com isso, ela obteve 54% dos votos no pleito presidencial de 2011.

Resta saber se há espaço político para tomar iniciativas que aproximem o governo do povo novamente ou se, depois de uma década de gestão, o governo teria chegado ao seu limite eleitoral. Outra dúvida diz respeito à oposição, que, nos últimos anos, não tem conseguido se unir em torno de um nome.

A vitória mais comemorada pelos jornais argentinos foi a de Sergio Massa, chefe de gabinete do governo entre 2008 e 2009, que obteve uma diferença de seis pontos percentuais (35 a 29%) no estado de Buenos Aires sobre Martín Isaurralde, o candidato de Cristina Kirchner.

Líder da Frente Renovadora, Massa se candidatou há não mais de 45 dias e, desde então, recolheu adesões e apoio de setores kirchneristas mais ou menos críticos ao atual governo, além dos claramente antikirchneristas. No começo da campanha, ele manteve um discurso que reconhecia o que o kirchnerismo fez bem e criticou o que fez mal. O governo o classificou como Capriles argentino”, em referência ao opositor venezuelano que foi derrotado por Hugo Chávez, em outubro de 2012, e Nicolás Maduro, em abril passado.

Nas últimas semanas, ao perceber que essa estratégia não era eficiente, Massa adotou um discurso mais confrontador, sublinhando os problemas de segurança — aos quais às classes médias são sensíveis —; fazendo oposição a uma reforma constitucional que permitisse a reeleição de Cristina Kirchner; e culpando o governo de alimentar um suposto confronto entre os argentinos.

A campanha governista, por sua vez, teve como grande protagonista a presidente, através de atos em todo o país. Seus principais pontos foram o destaque às políticas sociais, de direitos humanos e de soberania energética.  Insaurralde, prefeito de um município da Grande Buenos Aires, deu a largada em sua candidatura com um nível de reconhecimento muito baixo e agora estaria ganhando popularidade.

Para a eleição de outubro, o oficialismo aposta em tornar mais conhecido seu candidato e tirar de Massa alguns votos de setores que ainda simpatizam com o kirchnerismo. Por sua vez, o ex-chefe de gabinete da presidente vai tentar ganhar os 10% de votos que o direitista Francisco de Narváez somou, tentando se transformar no único voto útil para derrotar o governo.

Resultados

Além da capital, o governo nacional também foi derrotado nas principais cidades e estados argentinos: em Santa Fé e Mendoza ficou em terceiro, enquanto em Córdoba caiu para o quarto posto. Em todos os casos ficou pelo menos a dez pontos percentuais de distância dos respectivos ganhadores.

A aliança governista Frente Para a Vitória obteve o primeiro lugar da somatória global das eleições primárias legislativas que aconteceram ontem, chegando a 30% dos votos. Em segundo, ficou a Frente Renovadora (de ex-kirchneristas aliados à centro-direita) que obteve 13%. O terceiro lugar ficou com a social democrata Frente Progressista Cívica e Social que chegou a 8%.

Por não ser uma eleição presidencial, o resultado global do país é menos importante: se dá mais atenção às cifras distritais. Buenos Aires – onde Massa triunfou – representa 37% do padrão eleitoral do país, por isso sua importância.

No dia 27 de outubro – data em que se cumprem três anos da morte de Néstor Kirchner –  serão realizadas as eleições que vão definir a composição legislativa dos dois últimos anos de mandato da presidente. Se se mantiver o resultado de ontem, a Frente para a Vitória continuará a ter quórum próprio, mas por pouco.

Novo movimento político

Enquanto o governo disputa com a oposição a maioria dos votos pelo país, a novata Frente Pátria Grande ficou satisfeita com seus 4,32% em La Plata, capital do Estado de Buenos Aires.

“O resultado foi excelente e nos permite participar das eleições de outubro e, se mantivermos essa cifra, ter um vereador na legislatura platense”, assinalou o candidato Leandro Amoretti a Opera Mundi.

Pátria Grande é a união da FPDS (Frente Popular Darío Santillan) com a União do Povo. A FPDS é uma organização surgida no calor da crise econômica de 2001 e cujo nome recorda um dos mortos no Massacre da Ponte Avellaneda, em 23 de junho de 2002. A repressão perpetrada pela polícia naquela tarde obrigou o governo de Eduardo Duhalde a adiantar a eleição, que foi vencida por Néstor Kirchner. A União do Povo é o braço eleitoral da Juventude Guevarista, que é parte do Partido Revolucionários dos Trabalhadores.

Apesar de o FPDS ter um importante braço militante em todos os bairros, centros culturais, universidades e sindicatos de professores, surpreendeu o bom resultado eleitoral que obteve, já que não conta com os fundos que têm os partidos tradicionais.

De acordo com Amoretti, os eixos centrais de sua campanha foram “a necessidade de avançar em políticas que visem o ordenamento urbano para deter o crescimento imobiliário indiscriminado e injusto; enfocar a desigualdade urbanística e social entre a periferia de La Plata e a área central urbana; advertir sobre a lógica do transporte na cidade, que privilegia os critérios de rentabilidade sobre os de bem-estar social; e a necessidade de aprofundar a participação e o protagonismo popular para que os vizinhos possam criar políticas públicas, que possam eleger de maneira direta os delegados municipais e maior nível de transparência”.

Amoretti também disse que a referência política da organização é o processo bolivariano da Venezuela.

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