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O PT como resposta

O PT como resposta

Reproduzimos artigo do companheiro Miguel Rossetto publicado hoje no Jornal Zero Hora sobre a crise política e partidária que o PT atravessa.

“A crise do PT não nasce de sua história, mas de sua negação. Não é uma crise de continuidade, mas sim de ruptura. Quem permitiu a mistura do PT com mensalões, malas de dinheiro e dólares nas cuecas não errou apenas de conduta. Errou também de partido.”

MIGUEL ROSSETTO

Foi no chão do Rio Grande que a planta cresceu mais vigorosa. Em Porto Alegre, frutificou-se em democracia, participação, ética, direitos humanos e justiça social. Estas palavras não se desmancharam no ar. Através da prática, adquiriram densidade e solidez. Depois, a árvore abriu sua copa, espalhando-se pelo Estado e o Brasil.

Agora, porém, os gaúchos e os brasileiros percebem flores estranhas e frutos de sabor irreconhecível na planta que cultivaram com voz e voto. E, sob a tormenta, a árvore frondosa se verga sob o peso de suspeitas e denúncias. Este espectro em meio à tempestade é o Partido dos Trabalhadores.

Neste momento, quando se cogita de que o PT, como um todo, por insuficiência de ações e baixa capacidade de refletir sobre seu destino, engendrou o próprio suplício e pavimentou sua via-crúcis, há a necessidade de uma distinção. Este PT exposto ao apedrejamento em praça pública não está sendo execrado por conta das suas convicções mais caras.

A crise não é de continuidade. É de ruptura.

Suas raízes não residem, por exemplo, no imprescindível controle da sociedade sobre o Estado, desde sempre uma bandeira petista. Nem é possível debitar qualquer responsabilidade à democracia direta, ao Orçamento Participativo. Nenhum naco de culpa cabe às iniciativas republicanas de valorização da cidadania, da justiça, da igualdade, da transparência administrativa e, nunca esquecendo, da inflexível defesa da ética na política. Aliás, foi a prática destas propostas inclusivas e generosas que chamou a atenção do mundo. E levou Porto Alegre a se transformar na sede do Fórum Social Mundial.

Cerne do PT, nenhum dos princípios guarda parentesco com a convulsão que o dilacera. Isto porque a crise não nasce de sua história mas de sua negação. Não se corporifica pelo que sempre foi, mas, ao inverso, pelo que nunca foi. Não procede da construção coletiva, mas de deliberações isoladas da realidade do partido e do país. Justamente tendo como instrumento esta política geneticamente modificada, de reduzida oxigenação partidária, operou-se o afastamento das bases e dos movimentos sociais. E imperou a lógica eleitoralista, a despolitização da política, as alianças de ocasião. Tudo como resultado da auto-suficiência de uma cúpula enclausurada em si mesma.

Não há, portanto, nada de errado com os ideais dos 800 mil militantes e dos milhões de simpatizantes país afora – são eles, por sinal, que diariamente enfrentam o sarcasmo da direita, agora travestida de sentinela da moral pública num notável seqüestro da memória coletiva. Sem aquelas idéias antigas – e, no entanto, permanentemente novas -, certamente o Brasil seria mais injusto e menos democrático. São elas, aliás, que vão redimir o PT.

É desta água pura que deve beber a nova direção partidária. Se o Congresso deve ao país uma reforma política, a atual direção do PT precisa honrar dívidas ainda mais importantes. À sociedade, deve uma apuração profunda e sem contemplações. Capaz de demonstrar, sem qualquer dúvida, que quem permitiu a mistura do PT com mensalões, malas de dinheiro e dólares nas cuecas não errou apenas de conduta. Errou também de partido. À alma petista, deve devolver o direito de empunhar sua bandeira, colocar a estrela no lado esquerdo do peito e sair à rua para dizer, com orgulho: “Este é o meu partido”.

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