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O PT e a luta do povo brasileiro

Jornal DS – 19. Nascido da luta do povo, PT precisa reencontrar sua vocação socialista.

VÂNIO DOS SANTOS, GILBERTO DEL´POZZO E JACIR ZIMMER

Nascido da luta do povo brasileiro, dos movimentos sociais, sindicatos, base da Igreja, intelectuais de esquerda e da resistência à ditadura militar, o Partido dos Trabalhadores surgiu carregando o sonho de uma sociedade justa e igualitária. Definiu-se como partido de massas e sempre se orgulhou de ser um partido de trabalhadores e sem donos, no qual as decisões eram discutidas pela militância e tomadas de forma democrática.

Rejeitando alianças amplas e com um discurso muito afinado com os movimentos sociais, sacudimos o país e quase elegemos Lula em 89, na primeira eleição presidencial pós-regime militar. Foram mais duas tentativas de chegarmos à presidência antes de 2002, quando finalmente obtivemos êxito. Nesse período, muitas questões consideradas caras ao PT foram sendo, pouco a pouco, deixadas de lado em nome do pragmatismo eleitoral.

Em 2002, especialmente, ampliou-se a política de alianças e ainda mais a questão programática, expressa na Carta ao Povo Brasileiro, que contrariava o debate realizado no 12º Encontro Nacional do PT. Buscava tranqüilizar o mercado e principalmente o capital financeiro, para, dessa forma, atrair os setores com interesses antagônicos aos sempre defendidos pelo PT. Embalados por décadas de lutas e acúmulo de forças, pelo patrimônio ético construído nesse período e pelo desgaste de dois governos de desmonte nacional do PSDB/PFL, conseguimos uma expressiva vitória e elegemos Lula presidente.

A conquista do governo
A chegada de um trabalhador à presidência da República cativou boa parte da sociedade brasileira. O anúncio do Programa Fome Zero e a intenção de resolver essa dívida social se contradiziam com o anúncio de Meirelles para o Banco Central e a indicação de continuidade da política econômica de altas taxas de juros e superávit primário, que vinha sendo implementada no governo anterior. Em vez de utilizar a legitimidade obtida nas urnas e a grande popularidade do presidente Lula para “fazer uma caravana de transformação do Brasil”, chamando a sociedade e os movimentos sociais para discutir e implementar um projeto transformador, o governo preferiu, quase que com exclusividade, discutir a “governabilidade” nos marcos tradicionais da política brasileira, dentro da institucionalidade do Congresso Nacional e com partidos fisiológicos que sempre estiveram do outro lado da trincheira da luta do povo brasileiro.

As vozes discordantes dessa política eram tratadas como sonhadores utópicos e até estorvos daqueles que “trabalhavam pelo governo Lula”, detentores da verdade absoluta. O resultado dessa política em relação ao conjunto da base partidária e a outras correntes de pensamento da esquerda democrática existentes na sociedade brasileira foi o desastre da crise de 2005, que colocou em cheque o PT e o governo. A crise, que nasceu dos erros de alguns dirigentes que chamaram para si a tomada de decisões fundamentais de um partido que foi construído para defender a maioria da sociedade brasileira, serviu e ainda serve de munição aos setores conservadores para tentar destruir o PT e o governo Lula.

É importante ressaltar que esse ataque se justifica muito mais pela ameaça que o PT representa aos setores conservadores do que pelos erros cometidos por alguns companheiros, embora representantes de uma visão política hegemônica dentro do partido. Pelo ódio de classe tão bem expresso no ato falho do senador Bornhausen: “A gente vai se ver livre desta raça (sic), por, pelo menos, 30 anos”.

A resposta a esse ataque não veio da direção do PT ou do governo, veio dos 320 mil militantes petistas que compareceram ao PED e mostraram que o PT é muito maior que a prática equivocada de alguns de seus dirigentes. Foi também no PED que a militância manifestou sua discordância com as posições políticas que foram as principais responsáveis pela crise: a descaracterização da política de alianças e, conseqüentemente, de sustentação do governo Lula no Congresso Nacional; o afastamento dos movimentos sociais e a centralização das decisões. Fruto da construção desse debate, o companheiro Raul Pont foi ao segundo turno e por pouco mais de dois por cento dos votos não foi eleito presidente nacional do PT.

O 13º ENPT
O documento-base do 13º Encontro Nacional do PT, construído pelas diversas forças internas, recolocou o debate coletivo para o partido. O documento repudia condutas antiéticas e aponta para a necessidade de apuração de responsabilidade de dirigentes e parlamentares acusados de corrupção. Outra grande vitória foi a retomada dos grandes eixos do 12º Encontro, que haviam sido abandonados. Apontam para um governo com participação popular e para a afirmação de políticas com um paradigma anti-neoliberal para a economia e a sociedade brasileira, além da crítica a alguns aspectos da política econômica que está sendo aplicada.

Não tivemos o mesmo avanço em relação à política de alianças e de sustentação partidária. As propostas apresentadas pela DS e Coletivos Socialistas não foram vencedoras. As correntes Articulação de Esquerda e Movimento PT (que, no PED, que apresentaram discurso crítico às duas questões), ao se unirem à Articulação Unidade na Luta, permitiram a aprovação de uma política de alianças que inclui partidos de direita como PP, PTB, PL e PMDB. Também inviabilizaram, ainda que momentaneamente, a volta da contribuição militante mensal dos filiados.

Todo esse debate deve ser aprofundado no 3º Congresso Nacional do PT, em 2007. Até lá, temos uma grande tarefa pela frente: garantir a reeleição do companheiro Lula e trabalhar para que o PT saia fortalecido nas próximas eleições. Do ponto de vista programático, lutar para que ocorram mudanças na política econômica, com um viés anti-neoliberal, e que o governo promova maior desenvolvimento econômico e social, aprofundando o projeto transformador do PT.

Nesse sentido, consideramos fundamental o fortalecimento de um campo de esquerda dentro do partido que promova esse debate. A chapa Coragem de Mudar, liderada pelo companheiro Raul Pont no PED, constituiu-se num pólo crítico e construtivo para realizar essa tarefa. Isso teve continuidade no pós-PED. Por isso, nos sentimos honrados de estarmos juntos com os companheiros e companheiras da DS e demais Coletivos Socialistas na construção de uma nova corrente interna com conteúdo, disposição e força para o PT cumprir seu papel nos desafios de transformação do Brasil e da América Latina.

Vânio dos Santos, deputado estadual (PT/SC); Gilberto Del’Pozzo, secretário-geral do PT de Florianópolis, e Jacir Zimmer, presidente do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região, são militantes do Movimento Socialista.

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