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SYRIZA: Oposição de esquerda Grega faz seu 1º congresso 01/08/2013 03:05

914241Pedro Filipe Soares, no Esquerda.net

Durante o fim de semana de 10 a 14 de julho, no primeiro congresso de Syriza (Coalizão da Esquerda Radical), era óbvio que a história estava sendo escrita com tinta permanente. Este foi o congresso que mudou a esquerda grega.

Ante o desafio de suas perspectivas de crescimento, que lhe abrem as portas para um futuro governo, a coalizão de esquerda tomou a decisão de se converter em um partido. E isso explica a dinâmica desse primeiro congresso, no qual tudo foi posto sobre a mesa: desde os princípios fundacionais até a orientação política e os estatutos. E, é claro, no qual tudo foi discutido e as diferentes posições esclarecidas, sempre com uma paixão tipicamente grega.

Assistência: 3.430 pessoas. Essa estatística revela o enorme compromisso do partido na preparação do congresso. Era uma sensação extraordinária entrar na sala e sentir a energia dos delegados, a intensidade da discussão e a atenção prestada a todos os pontos específicos.

Debate político: o debate sobre o projeto de declaração de princípios e o documento político teve lugar durante os dias do congresso em um grupo representativo dos delegados eleitos para tal fim. As sessões plenárias se dedicaram à discussão e votação da linha geral e à votação de emendas e posições contrárias. Começando com o objetivo de resgatar a Grécia das garras da austeridade, o novo partido adotou o socialismo como objetivo estratégico.

Vale a pena mencionar a discussão em torno de questões que também nos são próximas (em Portugal); a posição do partido em relação ao euro e a dívida pública, e a composição de um futuro governo comprometido em derrubar a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). O objetivo final é a renegociação da dívida, com uma forte redução do seu valor, mas sem nenhum tipo de cessão dos direitos dos gregos na zona do euro.

E também sem ceder a chantagem sobre a moeda comum, um governo dirigido por Syriza não tirará a Grécia da zona do euro, porém não irá aceitar mais sacrifícios em nome da moeda comum. O partido reforçou seu compromisso de governar rechaçando a austeridade.

O ponto culminante do congresso foi o abraço de Manolis Glezos e Alexis Tsipras. O nonagenário combatente da resistência grega na Segunda Guerra Mundial é famoso por ter baixado a bandeira nazista que ondulava sobre a Acrópolis e substituí-la pela bandeira grega, um ato que inspirou aos gregos a resistir à ocupação.

No congresso, Glezos fez uma primeira intervenção inoportuna, rechaçando o enfoque proposto para transformar os partidos existentes na coalizão em tendências internas. As notícias das divisões internas em Syriza não demoraram em sair à luz e tudo parecia ir mal no desenrolar do congresso.

No dia seguinte chegou a reposta de Tsipras, na qual fez um chamado à imprescindível unidade e de que Syriza se projete como um partido para ganhar as próximas eleições. Manolis Glezos se pôs em pé e deu um enorme abraço em Tsipras, e a continuação pediu a palavra com o objetivo de demonstrar a unidade entre as distintas gerações da esquerda. O partido terminou o Congresso unido, deixando um curto período de tempo para que as forças políticas da coalizão que ainda não haviam se dissolvido o façam.

A discussão dos estatutos e das eleições atraiu uma grande participação. O método de eleição do presidente e do comitê central ocupou a maior parte das intervenções e finalmente a forma de eleição do presidente foi por voto direto de todos os delegados. Alexis Tsipras foi eleito presidente da nova Syriza com 74% os votos, um resultado superior às expectativas iniciais.

O método de eleição do comitê central também foi debatido profundamente. Entre osmétodos que se propuseram, a proposta vencedora foi a de uma lista unida e aberta, que competiu com as listas alternativas.

Os resultados foram os seguintes: a lista unida obteve 67,61% dos votos, a Plataforma da Esquerda 30,15%, os membros não alinhados em tendências 1,03%, a Corrente Comunista 0,74% e Intervenção Cidadã 0,27%. A Tendência Intervenção para a Unidade não elegeu nenhum membro, tendo recebido 0,21% dos votos.

A nota pessoal vai para a reunião que Alexis Tsipras teve com a comitiva do Bloco de Esquerda. De Portugal, eu, a Marisa Matias e a Alda Sousa, levamos um abraço de fraternidade para a nova página que se abriu na história da esquerda grega, na esperança da derrota breve da troika. Da Grécia, chegou uma palavra de esperança para o povo português na luta contra as políticas de austeridade, certos que se há um mar que nos separa, são mais fortes os valores que nos unem.

* Pedro Filipe Soares, matemático, é deputado do Bloco de Esquerda no Parlamento de Portugal.

 

Leia abaixo a intervenção central de Alexis Tsipras no primeiro congresso nacional do Syriza em 13 de julho de 2013

Companheiros e companheiras,
Sabem qual é a mensagem que nos chega de fora? Qual é a mensagem de uma sociedade agonizante e lutadora, com todas as coisas que estão se sucedendo nela?
A mensagem é: consegui-lo ou estamos perdidos.
Os estamos seguindo, estamos esperando, mas não nos resta muito tempo.
Nos afundamos, nós estamos afogando.
A mensagem é: agora ou nunca.
A mensagem não é apenas política: Syriza ou os memorando.
A mensagem é: Syriza ou uma catástrofe humanitária.
Porque esses desavergonhados representantes dos credores, os executores da aplicação dos memorandos, não têm nenhuma vergonha.
Não tem respeito nem compaixão por nada e por ninguém.
Se movem com a facilidade de um gangster entre suas histórias de êxito e sua ação supostamente benévola e a eliminação de grupos sociais inteiros.
Porque isso é o que manda a troika.
Assim que, cada hora, cada dia que passa, o rolo compressor do governo de Samaras-Venizelos esmaga mais pessoas, mais direitos.
Cada hora, cada dia, a exigência de uma poderosa, eficiente, militante Syriza é cada vez mais imperativa.
Viram o que aconteceu com o multi-projeto de lei que pretende legalizar mais uma atrocidade – ou melhor, uma grande quantidade de atrocidades – e que pretende varrer a toda uma série de pessoas que nunca quebraram um juramento, que retira pessoas que não perjuraram, que não são preguiçosos, que não foram designados ou nomeados ilegalmente?
Simplesmente passaram a pertencer a categoria dos “proscritos”: na polícia municipal, no governo municipal, na educação.
E muitos outros estão esperando a sua vez.
E por que foram proscritos?
Para que se alcance a quota de “executados”, que exigem os credores.
Esse é o resultado do multi-projeto de lei que a Comissão competente do Parlamento aprovou, indiferente aos dramas que provoca.
Esse multi-projeto de lei que é a razão pela qual os governos municipais, os prefeitos e os funcionários públicos municipais estão indo a rua e estão lutando para defender algo tão básico como a autonomia dos governos locais e o pão de seus filhos.
Uma vez mais, aproveito a oportunidade para saudar sua luta e declaro que estamos e estaremos com eles até o fim – até a vitória final.
Até a derrubada desse perigoso governo dos memorandos para as pessoas.
Sua luta, assim a luta dos trabalhadores da ERT [a Rádio e Televisão Nacional de propriedade estatal subitamente fechada pelo governo], é parte de uma luta geral sem trégua em defesa da democracia e da coesão social.
Vamos estar juntos nessa sua luta até o final, de forma militante, pacificamente, sem vacilações.
Ao mesmo tempo vemos que o golpe de Estado na ERT se completa através de uma série de mini-golpes.
O que começou como um ato legislativo ilegal e inconstitucional é seguido de novas ilegalidades.
Com uma emissão de sinal pirata e programas descuidadamente elaborados, de baixa qualidade que se transmitem desde um estúdio privado.
E com o absurdo ridículo – a barbárie da extrema direita é sempre de alguma forma absurda e ridícula – de nomear a sua monstruosa primeira Televisão Pública Grega, a continuação, só a Televisão Pública, cujas siglas iniciais em grego são uma reminiscência das iniciais gregas do FMI!
Entretanto, apontemos:
A luta dos empregados da ERT se desenvolve há mais de um mês. E essa luta, junto com o movimento de solidariedade que se desenvolveu, mudou a dinâmica política.
Mostrou a disposição do povo grego para lutar não apenas por “pão e educação” (um velho lema da luta dos estudantes contra a junta militar), mas também pela liberdade e pela democracia. Pôs em evidência que existem boas possibilidades de ganhar o povo, já que esse movimento provocou a queda do governo tripartido.
Companheiras e companheiros,
O novo governo que se formou após a saída do Dimar (Esquerda Democrática) é pior que o anterior.
E pode fazer coisas ainda piores, dizer piores mentiras, arrastar a sociedade a uma espiral decadente ainda pior, e levar a Grécia a um destino ainda pior.
Levando em conta a suas obras, incluindo a dos últimos dias, é fácil chegar a seguinte conclusão:
Esse governo se formou – e é apoiado pelos credores e pela senhora Merkel – com o objetivo de completar o desastre.
Na verdade, não tem absolutamente nenhum plano – só improvisa para satisfazer a troika.
O Sr. Kyriakos Mitsotakis (Secretário da Reforma Administrativa recém nomeado), por exemplo, declarou a um importante jornal estrangeiro que não pode dormir a noite porque tem que assinar demissões de pessoas dos seus postos de trabalho.
Como Olli Rehn , que uma vez nos disse que arruinávamos os seus fins de semana, que já não pode jogar futebol e, em lugar disso, tem que lutar com os problemas gregos.
O Sr. Hadjidakis, que está elaborando uma lei para que as lojas abram todos os domingos, se pergunta por que o povo protesta por isso e não pelas tardes de domingo.
A Sra. Bakoyannis indicou que a entristece as disposições do multi-projeto de lei, mas no entanto, assegurou que votará favorável a elas, porque a Grécia não tem margem de manobra.
O Sr. Samaras afirma que é quase feliz porque estamos indo bem e que em 2014 vamos sair da crise e iniciaremos o caminho do crescimento.
E o Sr. Venizelos, nesses tempos de austeridade, após apresentar uma emenda ao multi-projeto de lei que está destruindo a vida do povo, exige viajar no avião do Primeiro Ministro.
Uma vez mais, gostaria de me referir aos democratas que depositaram suas esperanças e expectativas no Pasok e lutaram pela mudança:
Esse sócio do Nova Democracia chamado Pasok tem algo a ver com o 3 de setembro (o Pasok foi fundado por Andreas Papandreou em 03 de setembro de 1974) e o Pasok que prometeu a mudança, a independência nacional e a justiça social?
Tem o Vicepresidente do Sr. Samaras algo a ver com o fantasma da chamada centro-esquerda?
A política desse partido tem algo a ver com o que prometeu e se comprometeu a defender?
Porém esse não é o momento para chorar pelas glórias perdidas, é a hora da ação, a luta e a resistência, antes que o país seja destruído totalmente e de forma irreversível.
Esse é o chamado a luta que Syriza dirige a todos e cada um dos gregos. A todo o povo de esquerda – qualquer que seja o partido ao qual pertençam – que sua vida e ação está motivada pelos ideais de democracia, justiça social e socialismo.
A todos os democratas e patriotas, a todos aqueles que ainda acreditem que a democracia é a quintessência de uma sociedade civilizada e solidária.
A todos aqueles que põe a liberdade e a soberania nacional na frente do cálculo e do interesse próprio.
Aos intelectuais, às pessoas das artes e das letras, que vêem a Grécia origem de nossa civilização jogada no chão e arrastada aos mercados de escravos dos credores.
Aos jovens que crêem que podem mudar o mundo – isso é o que acreditamos, nós também.
Incluindo aqueles cidadãos conservadores que hoje se sentem ofendidos pela propaganda racista contra Grécia, pelos gestos de Merkel, e as humilhantes imposições da troika a nosso país.
O que dizemos é que chegou a hora de que unam a grande maioria do nosso povo a sensibilidade democrática, o estado emergência nacional, o amor ao nosso país e à liberdade, o desejo de se desfazer dos memorando e nossos “protetores”, a visão de uma Grécia livre e democrática que não jogue no lixo nenhum de seus filhos.
Uma luta sem trégua contra o autoritarismo, a repressão, as violações da Constituição, e todo o “negro”. (Como as telas pretas da emissora nacional fechada.)
Em uma luta pela salvação nacional e a reconstrução de uma Grécia dos interesses escusos e a falta de transparência, as fraudes, a corrupção, o clientelismo, a barbárie cotidiana do neoliberalismo.
Que considera um inimigo e trata como um inimigo a democracia e qualquer cidadão que protege sua Termópilas.
Esse é o nosso chamado, camaradas.
E todos os debates, as propostas, os desacordos, as controvérsias em nosso Congresso tem apenas esse objetivo.
Como fazer Syriza mais sólida, mais eficiente, mais dispostos a governar e liderar esse país passo a passo até tirá-lo desse pântano de destruição.
Isso é que há por trás da discussão sobre a transformação de Syriza, sobre seu renascimento como um só partido, sobre o papel dos militantes do partido, sobre como garantir a democracia interna do partido.
Houveram um monte de opiniões, pontos de vista, comentários, propostas.
Essa é a verdadeira riqueza do nosso partido.
Até os desacordos são uma riqueza.
Porque nós não somos e não queremos ser um partido de instrutores políticos, ou de professores do poder, um partido com a boca grande, mas com as orelhas pequenas.
Escutamos, escutamos e nos  escutamos uns aos outros e sabemos como sintetizar e seguir adiante.
Companheiras e companheiros,
A medida que o estado de bem-estar é derrubado, milhares de pessoas estão se auto-organizando e criam centenas de estruturas de solidariedade social através da Grécia.
Para que ninguém fique abandonado ante a crise. Sem exclusões. Para todo mundo.
Essa é a reação coletiva de um povo e o EAM (a Frente de Libertação Nacional) volta a memória coletiva. O EAM que salvou o país da fome e organizou a épica Resistência Nacional.
Hoje, companheiros de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Áustria e Inglaterra nos visitam para compreender esse grande movimento de autogestão.
As estruturas de solidariedade social constituem âmbitos de apoio social, de desenvolvimento da consciência coletiva e de ativação política.
Syriza se envolveu desde o começo nesses movimentos.
Sobretudo com a participação de nossos membros.
Com o Fundo de Ajuda Mútua que o partido fundou e que é financiado com 20% da remuneração dos deputados.
Com as campanhas nos países europeus, que hoje estão dando frutos políticos, sociais e financeiros.
Então, o que devemos fazer como Syriza? Temos que dar mais um passo na solidariedade.
Pelos fundos de alimentos
-ajudar a todas essas estruturas com grandes campanhas e dinheiro, porque as necessidades das pessoas aumentam de maneira espetacular.
-defender politicamente ao Movimento Sem Intermediários.
Pela saúde
-necessitamos combinar as estruturas de saúde com os sindicatos da área e levar as estruturas de solidariedade aos hospitais
Por habitação
-construir um movimento contra as execuções hipotecárias e aos desalojamentos
Isso requer a implicação e o compromisso de todas as seções e setores de Syriza.
O povo não apenas se mobiliza pelo discurso político, mas também pela ação social e política.
Não se deve subestimar isso.
Temos que fortalecer com paixão as estruturas de solidariedade, tomar parte nessas grande aventura de nosso povo, nesse grande processo histórico, que é o apoio fundamental e a garantia de um futuro governo de esquerda, para uma grande transformação social: solidariedade, resistência, subversão.
Companheiras e companheiros,
Não se esqueçam: amanhã nosso partido inicia um novo curso que enfrentará a atual correlação de forças e se chocará de frente com os memorando.
Estamos começando um caminho difícil.
Frente a nós temos um adversário definido.
Um oponente disposto a lutar até o final.
Porque se perdem, perdem tudo: os interesses escusos, privilégios, o acesso ao poder.
Esse rival nos bloqueia o caminho, disposto a aproveitar qualquer deslize que cometamos, qualquer erro de nossa parte, qualquer pretexto que os dermos.
Usarão todos os meios a sua disposição para nos causar dano.
Estamos chegando a frente com o objetivo de desencadear grandes mudanças e subversões.
Não apenas em Grécia, mas em toda Europa.
Podem ficar seguros que ninguém vai nos fazer nenhum favor.
Nem nossos inimigos nem nossos amigos.
Esses últimos serão nossos juízes mais severos.
Agora que os olhos da sociedade se fixam em nós, temos que demonstrar que somos capazes de fazer o que estamos dizendo.
Que somos capazes de governar.
E isso será decidido também por esse Congresso.
Que sabemos, queremos e podemos.
E que somos capazes não apenas sair daqui unidos, mas também de golpear nossos martelos em uníssono.
Companheiros e companheiras,
Nesse ponto, eu gostaria de esclarecer e corrigir certas falsas ideias, intencionais ou não.
Em primeiro lugar, escutei o argumento: Como você pode decidir por nós? Quem te deu esse direito?
E aqui quero corrigir esse erro.
Ninguém quer ou pode decidir pelos demais. Que o céu não permita!
Mas para Syriza – nosso lugar comum, o novo ator unificado e democrático de seus membros – tudo depende de nosso Congresso de 3.500 delegados eleitos pelos milhares de membros para que decidam.
O Congresso – e apenas o Congresso – decidirá.
Ninguém mais!
E o que o Congresso decida, será aceito por todos.
Qualquer outra coisa seria um insulto aos milhares de militantes que participaram nos procedimentos prévios ao Congresso.
Seria um insulto para o órgão soberano que é o Congresso, que decide tudo. Seria uma ofensa a própria essência de nossa natureza democrática e dos procedimentos democráticos, que são a base do nosso funcionamento coletivo!
Quero falar da essência das coisas e eu quero viver tudo.
Falemos como camaradas que respeitam as diferenças de opinião das demais, mas clara e abertamente. Porque estamos em um momento histórico que exige falar claramente.
E primeiro lugar, o Congresso decidirá sobre todas as questões apresentadas e discutidas nas organizações do partido.
Nosso dever é sair daqui com respostas claras.
Sair daqui com compromissos com o povo sobre o que vamos fazer, como vamos governar.
Respostas claras, marco claro e regras de funcionamento claras do novo ator político unificado.
Em segundo lugar,
Em essa fascinante viagem de Syriza, no caminho á grande vitória de nosso povo, não se exclui ninguém – pelo contrário, não podemos nos dar o luxo de prescindir de ninguém.
Há espaço para todos nós – e ainda mais – nessa viagem histórica.
Todos nós – e ainda mais – mas ninguém mais igual que o outro.
Todos nós diferentes, todos ricos com nossos antecedentes e opiniões, mas todos iguais e todos responsáveis ante nossos membros.
Escutei a Manolis Glezos com muito cuidado.
Tenho que dizer que não me surpreendeu o núcleo de suas opiniões, mas o tom que utilizou.
Manolis tem esses mesmos pontos de vista desde 2003. Devo felicitá-lo por sua constância e persistência.
Os mesmos pontos de vista que havia expressado durante nossa Conferência Nacional em dezembro, na qual não estive de acordo abertamente com suas resoluções.
Assim que não quero fingir ignorância ou surpresa.
Porém não vou fingir que sou indiferente.
O discurso de Manolis me fez sentir triste.
Mas não me senti atacado.
Não se pode sentir-se atacado pelas pessoas que ama: se sente triste.
Me senti triste, não por causa de seus pontos de vista e seus argumentos, mas porque escolheu esse momento histórico para falar como representante de uma das forças que formam nossa coalizão. E estou dizendo isso porque o companheiro Manolis, ante nossos olhos e ante os olhos do povo grego não é representante de uma corrente concreta.
Manolis representa a personificação da geração da Resistência, a geração da luta por democracia, a geração das Esquerda Democrática Unida e Juventude Democrática Lambrakis.
Ele representa tudo o que ajudou a esquerda a sobreviver a perseguição e a ilegalidade e existem na atualidade como uma grande força de resistência e poder.
Ele representa tudo o que comoveu a muitos de nós no transcurso de nossas vidas e nos aproximou à esquerda e à visão de uma sociedade livre de exploração.
Portanto, escutar companheiros, e você companheiro Manolis, um par de palavras que saem do coração.
Honramos e respeitamos nossos símbolos.
Mas nossos próprios símbolos nos ensinaram primeiro a honrar essa luta, nosso dever e nossa verdade – ao menos na forma em que cada um de nós a percebe e crê nela.
E a verdade é ditada pela própria Vida.
A realidade é a que nos cria a obrigação de responder às exigências de toda a sociedade, a que nos convida a superar as antigas normas e estabelecer outras novas.
1.650.000 cidadãos votaram em nós há um ano.
Foi um grande passo para eles.
Não haviam se convertido prontamente em especialistas da Syriza nem de seus componentes internos.
Nem sequer tinham se tornado esquerdistas.
Devemos educá-los e estimula-los a ser mais radicais e de esquerda.
Porém quando as pessoas transcendem a si mesmas e vêm até você, não se pode rechaçar qualquer transcendência, nenhum risco, nenhum desvio de nossas certezas.
Porque não se trata de um capricho, mas de um desafio histórico que se refere a própria vida, a sobrevivência de centenas de milhares de pessoas.
Porque se refere a própria existência e a independência de nosso país, não há lugar para o sentimentalismo.
O que acreditamos tem que ser dito com clareza e o Congresso deve decidir: com profundidade da alma, do coração e da mente.
Com motivos.
E isso é o mais simples que entendo:
Não vamos ganhar essa batalha se a mensagem que enviamos às pessoas que já votaram em nós e já colocaram suas esperanças em nós é:
“mude e nos siga”.
Não mudamos nada de forma alguma.
A maneira que trabalhávamos quando Syriza tinha 3% dos votos é a mesma que estamos utilizando agora que temos 30%.
E não podemos cometer o mesmo erro de pensar que essas pessoas estão para sempre com Syriza, não podemos toma-lo como definitivo.
Eles nos estão observando de perto. Nos estão colocando a prova.
Vamos ganhar a muitos mais só se nos movermos adiante, com passos firmes que demonstram nossa convicção.
Decididos a mudar nós primeiro para mudar o mundo.
Primeiro devemos por nossas próprias certezas a prova com o objetivo de persuadi-los a abandonar suas certezas sobre os partidos burgueses.
Em primeiro lugar devemos sacrificar a nós, chamando-os a apoiar ardentemente uma grande luta pela subversão, independência e dignidade.
Além disso, o que podemos dizer a esse povo?
Que o partido que os chama a unir-se para poder mudar o país é um partido com 14 estatutos diferentes e 14 programas diferentes?
Que os chamamos a confiar a sorte desse país a um partido com seus órgãos nomeados e não eleitos democraticamente por seus membros e seu congresso?
Que o futuro do país será decidido por algumas pessoas que não são responsáveis ante um órgão eleito democraticamente?
E se eles não são responsáveis ante os órgãos de seu partido, como podem prestar contas perante o povo?
Também escutei algumas vozes que falam de ultimatos e de chantagens com os prazos.
Escutem, camaradas: não há nenhum ultimato, nenhuma chantagem.
Estamos construindo um ator político democrático, pluralista multi-tendência.
Sim, mas com um marco unificado tanto externamente quanto para uso interno.
E posto que não gosto de me esconder atrás de meu dedo, meu desacordo com Manolis é diferente do que tenho com outros companheiros que querem continuar em Syriza, mas sem construir com todos nós nosso novo ator político comum, de maneira que cada um de nós seja nosso próprio ator político.
E aqui eu gostaria de levantar uma pergunta que não é de procedimento, mas substancialmente política.
Há uma opinião que diz:
Em Syriza podemos recrutar membros e construir nossa própria organização revolucionária independente.
Por um lado, os estatutos ambíguos de Syriza, as tendências, as listas e a democracia. Por outro lado, nosso centralismo democrático e disciplina interna.
Isso, companheiros, não pode ser aceitável.
E não é uma questão de redação ou de estatutos, é uma questão de acordo e entendimento político.
Não é uma questão de prazos e falsos pactos.
Se trata de uma questão de fundo.
Ou estamos obrigados pelos estatutos de Syriza – e desde então, no marco de Syriza, podemos ter tendências e organizações, correntes e componentes e tudo o que queremos, porém dentro de Syriza.
Ou cada um de nós vai estar obrigado apenas pelos sues próprios estatutos, o que significa que o esqueçamos todo.
Palavras claras.
Compromissos claros.
E permitam-me esclarecer outro erro.
Não estamos falando aqui de direito não negociável, contido em nossos estatutos, de expressar uma opinião diferente.
Não estamos falando aqui do direito de tendências contido em nossos estatutos.
Tampouco sobre os coletivos próximos ou paralelos ao partido, nos quais participam os membros do Partido.
Ninguém pode ser privado do direito de constituir esses coletivos de caráter ideológico, com suas próprias publicações e trabalho ideológico.
Podem e devem contribuir ao debate de ideias e a oferecer opções ideológicas.
O que significa, para dize-lo claramente, é que se algum dos componentes atuais que não optaram por dissolverse e integrar seus membros no partido unificado sentem que suas opções ideológicas não são expressas plenamente em Syriza, têm o direito de apoiar seus pontos de vista através das ações coletivas.
Porém o que é evidente é que estão no marco Syriza.
Que estão obrigados pelos seus estatutos e resoluções.
Portanto, resumo:
Um membro, um voto.
Sem privilégios, sem exclusões.
Revogabilidade, prestações de contas, funcionamento democrático.
Acordo político de que os estatutos e as resoluções políticas coletivas de Syriza nos unem a todos.
E não se trata de um ultimato, mas de um compromisso evidente.
Compromisso que, obviamente, necessita de um período razoável – alguns meses – para que se aplique plenamente e em todos seus detalhes técnicos.
Porém no que se refere ao princípio de acordo, não necessita tempo, senão coragem e vontade e alma.
Para dizê-lo tudo agora, em nosso Congresso, e todos juntos.
Para não deixar ninguém no caminho nessa fascinante viagem.
Para deixar atrás a terra.
Para chegar ao mar aberto: todos juntos.
Ninguém quer nem pode decidir pelo outro.
Todos vamos a decidir nesse Congresso sobre como vamos viajar.
Todos somos membros iguais do histórico primeiro Congresso de Syriza.
E à pergunta crucial de nosso querido Manolis: “Não vamos mudar, que você irá fazer?”
Eu o respondo:
O que, Manolis, você vai fazer – como sempre o fez em toda a sua vida – é o que acredita e pensa que é o correto.
Ninguém vai te impor nada.
Só podemos fazer uma coisa:
Tomar nossas decisões coletivas juntos.
E qualquer que seja o resultado dessa decisão, isso é o que vamos aplicar segunda-feira pela manhã:
Te levarei comigo aos empregados municipais despedidos a lutar nessa batalha, ao edifício da ERT, aos bairros pobres de Atenas, às zonas industriais de desemprego, às minas de ouro de Halkidiki, aos nossos povos abandonados – iremos por toda a Grécia juntos.
Para lutar a batalha e dar a mensagem:
Apesar de nossas diferenças, estamos aqui.
Estamos unidos com o mesmo objetivo.
Para deter esse furacão do memorando.
Para salvar ao país e ao povo dos desastres e reconstruir nosso país a partir de uma sólida base de justiça social, independência, soberania popular e dignidade.
Companheiros e companheiras,
Podemos ganhar e vamos ganhar,
Vamos dar o passo adiante: todos nós juntos.
E saberão.
Devem ficar orgulhosos dos frutos de nossa luta até agora – e seguir adiante.
Mas devem saber de uma coisa: não cantamos nossas canções mais belas ainda.
E as vamos cantar juntos.
Adeus, camaradas!

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