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Texto da Kizomba na 10ª Bienal da UNE

kizomba bienalUma geração de lutas e superações – Os desafios de construir uma nova cultura política num estado de exceção

Vivemos um estado de exceção. O recente golpe parlamentar que destituiu a Presidenta Dilma Rousseff e violou a democracia popular abriu um cenário onde as violências institucionais aprofundam as dores da sobrevivência do povo brasileiro, em especial da juventude, das mulheres e LGBTs, dos negros e de toda a classe trabalhadora. Em contrapartida, a população dá respostas concretas e imediatas de resistência: as ocupações estudantis, as grandes mobilizações de rua, as inúmeras manifestações e articulações nas redes sociais, demonstram que há em nosso país um tecido social costurado com muita sede de transformações.

Os conspiradores golpistas que circundam o governo ilegítimo de Michel Temer articulam um projeto de morte para a população brasileira. A PEC 55 (antiga 241), aprovada em grande maioria na Câmara de Deputados e no Senado, é uma ameaça permanente à manutenção da vida e cidadania das pessoas que mais dependem dos serviços públicos para a sobrevivência. Além de congelar por 20 anos investimentos em saúde e educação (o que implica uma precarização absurda destes serviços, já que a demanda aumenta com o passar do tempo), a PEC do Fim do Mundo, abre precedente para o crescimento da especulação financeira internacional e corrobora com os esquemas fraudulentos em torno da dívida externa.

A Kizomba não descansou um dia sequer no meio desta turbulenta conjuntura. Construímos as ocupações secundaristas e universitárias, cujo protagonismo das mulheres, negros e lgbts, demonstrou o quão enraizada está nossa construção histórica de uma nova cultura política no movimento estudantil. A UNE e a UBES se mantiveram na linha de frente, junto com outras organizações do movimento social brasileiro, das grandes caravanas à Brasília e dos atos de resistência em todos os estados e cidades do Brasil.

A polarização social cresce em torno das lutas de classe, raça, gênero e sexualidade. Está cada dia mais difícil ficar em cima do muro diante de um cenário onde os projetos de país estão cada vez mais nítidos na disputa de hegemonia. De um lado, aqueles que defendem o retorno da ditadura militar com uma economia liberal de um estado entreguista, a privatização das cidades, o monopólio da informação, a concentração de renda e poder, o aprofundamento das estruturas opressoras do Estado capitalista: o racismo, o machismo, a lgbtfobia, a intolerância religiosa, a xenofobia. Do outro, um grito de socorro e a efervescência de alternativas que apontam outros rumos para o Brasil, tendo em vista a solidariedade com os outros países, em especial os da América Latina e África. A construção de uma economia criativa e solidária, calcada na sustentabilidade e no fim da acumulação capitalista, a emergência de culturas subalternas como expressão de novos modos possíveis de vida e identidade, a defesa irrestrita da democracia participativa e dos mecanismos de inclusão popular nos espaços de poder, a construção do Direito à cidade, a radicalidade da luta por reformas estruturantes, com urgência imediata para as reformas política, agrária, tributária, dos meios de comunicação e do sistema de segurança pública, visto que o atual atende ao projeto de genocídio ao povo negro.

São algumas das bandeiras que estarão aglutinando força em 2017, mobilizando corações e mentes das escolas e universidades para as ruas, redes e todos os espaços da sociedade onde seja possível lutar e resistir por justiça social. Para tanto, precisamos derrubar este governo golpista que ataca direitos e eleger representantes consonantes com as vozes que gritam por liberdade nos quatro cantos do Brasil em uma só melodia: DIRETAS JÁ!

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