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Trabalhistas britânicos ensaiam um giro à esquerda para eleições de 2015

1037475Da Carta Maior

O dilema do Partido Trabalhista na oposição tem sido girar à esquerda, à direita ou buscar esse elusivo e quase mitológico “centro” que, segundo muitos analistas e políticos, é o preferido pela maioria dos britânicos. Nesta terça-feira, no marco do Congresso Anual Partidário, o líder trabalhista Ed Miliband tentou resolver a questão com uma mensagem populista e keynesiana e uma outra pequena guinada à direita, tudo transmitido ao vivo pela BBC. “David Cameron diz que a Grã-Bretanha está em uma competição global. O que não diz é que para ganhar necessita que vocês percam, que tenham salários mais baixos, trabalhos mais precários e que a competição seja ao menor preço”, assinalou Miliband.

Desde que foi eleito líder partidário em 2010, depois da primeira derrota eleitoral trabalhista em 13 anos, Miliband tentou evitar o dilema esquerda-direita dizendo que faltava muito para as eleições de 2015 e que não podia atar as mãos com promessas fixas em meio a uma realidade em mutação. Mas os números não o acompanham. Segundo uma pesquisa divulgada na semana passada, após mais um ano de cômoda vantagem nas preferências de voto, os conservadores ficaram praticamente empatados com os trabalhistas graças a uma tímida recuperação da economia.

O congresso anual dos trabalhistas serviu para Miliband lançar uma série de anúncios com o objetivo de dar substância às suas críticas ao governo. O trabalhismo prometeu construir 200 mil novas moradias, diminuir os impostos para um milhão e meio de pequenas empresas, reverter o despejo em moradias populares, reforçar o salário mínimo e a capacitação dos trabalhadores e congelar as tarifas de gás e eletricidade, pesadíssimas durante o duro inverno britânico. “Temos uma crise do custo de vida e trabalhos muito mal pagos. Os que ganham em nossa economia são os privilegiados”, assinalou Miliband.

Em uma guinada na direção de temas que costumam ser impulsionados pela direita e que se tornaram muito populares em uma Europa que busca bodes expiatórios para sua crise, Miliband indicou que em seu primeiro ano de governo introduziria uma lei imigratória para obrigar as empresas a capacitar um “aprendiz” para cada trabalhador estrangeiro não europeu que empreguem e que obrigaria as empresas a pagar o salário mínimo para que não usem os imigrantes como ferramenta para baixar os custos, substituindo assim aos trabalhadores britânicos.

O discurso de Miliband de mais de uma hora e sem anotações obteve uma extraordinária aclamação dos milhares de membros do partido presentes no Congresso. Como era de prever, os conservadores e liberal-democratas criticaram a fala dizendo que suas promessas eram um regresso à velha política trabalhista de “mais impostos e mais gastos” e terminaria por custar postos de trabalho. Os representantes das grandes empresas, reunidos em torno da Confederação de Empresas Britânicas (CBI), também criticaram o que consideraram um recuo em uma das “grandes conquistas” do governo de coalizão, a redução de impostos para as grandes corporações que a entidade representa.

O grande enigma agora é o eleitorado. As pesquisas mostram que o primeiro ministro David Cameron é mais popular que Miliband. Mas as pesquisas estão cheias de paradoxos. Apesar deste menor carisma, uma ampla maioria pensa que Miliband pode assumir o papel de cidadão comum, enquanto Cameron é visto como um membro das classes privilegiadas. Um dado histórico põe também panos frios nesta competição pela imagem mais popular. Em 1979, Margaret Thatcher era muito menos popular que o trabalhista Jim Callagham e, no entanto, ganhou amplamente as eleições.

A economia será fundamental. O governo celebrou o crescimento de 0,9% no último trimestre depois de três anos (2010-2013) de um aumento quase nulo do Produto Interno Bruto (PIB). Este crescimento, porém, é idêntico ao que existia às vésperas das eleições de 2010 quando o estímulo fiscal aplicado pelo último governo trabalhista para enfrentar os estragos causados pelo estouro financeiro de 2008 começava a se refletir na economia.

Essa incipiente recuperação foi detida pelo violento ajuste orçamentário anunciado pelo novo governo, equivalente a cerca de 140 bilhões de dólares em cinco anos, mas os conservadores conseguiram atribuir ao “esbanjamento trabalhista” a responsabilidade da crise. Com a inestimável ajuda de meios de comunicação inclinados à direita, o eleitorado segue comprando esta narrativa dos fatos.

A nova mensagem trabalhista aponta para aqueles que foram os perdedores de um ajuste sem precedentes no Reino Unido. Em uma frase muito celebrada, Miliband disse em relação à tímida recuperação econômica que “costumava-se dizer que uma maré ascendente elevava as embarcações de todos, agora só eleva os iates”. Se conseguir impor esta visão, terá muito mais chance de ganhar as eleições de 2015, para além das vicissitudes da economia britânica.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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