“Para manter o lucro, donos do capital destróem e matam; enquanto Bolsonaro ficar, isso só aumentará”
Na introdução do livro “América Latina y el capitalismo global: una perspectiva crítica de la globalización” (Ed. Siglo XXI, México, 2005), William I. Robinson caracteriza a crise econômica por seis aspectos:
1. Ecológico
2. As desigualdades globais sem precedentes
3. A magnitude dos meios de violência
4. O limite da expansão extensiva e intensiva do sistema capitalista
5. O aumento das filas dos marginalizados
6. A destruição da autoridade baseada em um Estado-Nação.
Desses seis aspectos, um breve comentário sobre a questão ecológica.
Robinson chama a atenção para a verdadeira possibilidade de um colapso da sociedade humana.
No planeta Terra, já há degradação irreversível; por exemplo, a perda da diversidade tanto da flora como da fauna.
Há espécies já extintas. E, mantido o atual modelo de desenvolvimento, possivelmente chegaremos a um ponto sem retorno.
Não se sabe ao certo quantas espécies existem no nosso planeta, portanto é impossível precisar o quanto está sendo perdido.
Segundo a WWWF, estimam-se 100 milhões de espécies diferentes na Terra.
Já o índice de extinção é de 0,01% ao ano. Ou seja, no mínimo, 10 mil espécies são extintas por ano.
Detalhe: contrário das ondas anteriores de extinção, acredita-se que o ser humano é a única espécie responsável pela destruição contemporânea.
A lista de estragos causados pelo homem é imensa: derrubada das florestas, extração do petróleo e de minérios, exploração da terra através da agricultura intensiva, da monocultura, uso de agrotóxicos (desde 2008, o Brasil é o maior consumidor do mundo, inclusive de produtos já banidos em outros países) e da água.
Tudo com único objetivo: o lucro.
O animal capitalista não considera a si próprio e a espécie humana como fazendo parte da natureza, coloca-se fora.
Coloca-se como ser superior e intocável.
O dono do capital não pensa no futuro. E, quando cobrado, responde que o “futuro a Deus pertence” ou “no futuro já estarei morto”.
Para ele não há outras gerações, não há vida além e ao redor da dele.
Ele é único no universo, ele e sua família são o aqui e o agora.
A vida vegetal e animal, com exceção da dele, não faz parte do sistema de preservação da vida.
Na hegemonia capitalista, os Estados atuam defendendo o capital e os capitalistas.
Relaxam nas leis e na execução delas, não fiscalizam e, pior, autorizam ações de exploração/destruição da natureza.
Exemplo maior a destruição da floresta amazônica.
O desmatamento da floresta amazônica aumentou 171% em abril deste ano, se comparado com o mesmo período de 2019.
Foi o maior desmatamento em dez anos no Brasil.
Estudos mostram que está aumentando a concentração de gases na atmosfera, principalmente devido à queima de combustíveis fósseis, incêndios florestais e derrubada de florestas tropicais.
A busca do lucro com a exploração intensiva da terra tem levado à degradação do solo.
De acordo com estimativas de ONU, cerca de um terço dos solos do mundo está degradado devido a problemas de manejo.
Leia-se: uso de venenos, excesso de nitrogênio e traços de chumbo, mercúrio e de outras substâncias que prejudicam o metabolismo das plantações e as colheitas.
Quando esses poluentes entram na cadeia alimentar, existem riscos para a segurança dos alimentos, fontes de água e a saúde humana.
Para manter os lucros, os senhores do capital destroem a terra, matam e mandam matar os que sonham com outro mundo e outro modelo de vida.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 2019 foi um ano violento: foram 1.833 conflitos, 23% a mais do que em 2018 e o maior dos últimos 15 anos.
São cinco conflitos por dia. Dos 1.833, “1.254 estavam relacionados à terra e 489 à água, enquanto 90 tiveram origem trabalhista”.
Foram 32 pessoas assassinadas, 47% eram lideranças indígenas ou rurais.
Pior disso tudo é que enquanto Bolsonaro estiver no governo a destruição só aumentará.
Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Publicação original: www.viomundo.com.br
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