Jornal DS – 22. Democracia, socialismo e organização marcam a história do jornal.
Raul Pont
O jornal Em Tempo nasceu na continuidade das primeiras experiências de imprensa alternativa que, nos anos 70, resistiam e abriam espaços contra a censura e o autoritarismo. Seu objetivo era ser um jornal nacional, que fosse referência para os setores de esquerda que haviam sobrevivido ao regime militar, e que se encontravam atomizados e pulverizados, em meio a um processo de reconstrução dos grupos que haviam feito a crítica e a ruptura com a esquerda tradicional, populista e reformista nos anos 60.
Primeiro, o jornal se caracterizou por uma frente jornalística marcada pelo controle editorial e pelo trabalho de seus colaboradores. A marca do Em Tempo era colocar na ordem do dia a luta e a propaganda do socialismo, além de fazer do jornal um instrumento de troca de experiências e organização de grupos ou indivíduos que entendiam e defendiam a necessidade da organização independente dos trabalhadores.
Dificuldades no caminho
A idéia e o projeto do jornal, apesar de oportunos e necessários, não garantiam uma coesão entre os responsáveis por consolidar sucursais, bem como os compromissos decorrentes da sustentação material do projeto. Desde a escolha do nome e a chegada das primeiras edições às ruas, a frente do jornal era um permanente tensionamento. O peso desigual das várias sucursais tornava a disputa editorial e a orientação de cada artigo ou matéria uma disputa de táticas e estratégias entre seus protagonistas.
Aos poucos, mais que as divergências políticas de linha editorial, foram os compromissos e a seriedade na sustentação do projeto que começaram a garantir um núcleo de efetiva direção para o jornal. O tensionamento e as dificuldades materiais levaram a uma redução das sucursais do jornal, que se viu obrigado a passar sua periodicidade de semanal para mensal.
A democracia interna, a definição pela perspectiva socialista e a luta e apoio à organização da classe trabalhadora fizeram com que a identificação editorial do Em Tempo com o movimento pró-PT fosse total. Os primeiros passos do PT determinaram uma coesão mais firme e decidida da linha editorial do Em Tempo. O projeto petista não aglutinava toda a esquerda brasileira, o que fez com que a frente jornalística do Em Tempo sofresse novas defecções e, num determinado momento, o próprio projeto esteve prestes a desaparecer.
A determinação das sucursais de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre manteve o projeto e o engajamento editorial na defesa da construção do PT. O jornal passou a ser a principal expressão de uma das correntes internas do partido, a Democracia Socialista, e de outros setores partidários que encontravam no Em Tempo o canal para expressar suas posições sobre a luta política no país e a construção partidária.
Testemunha e agente das lutas
O Em Tempo esteve a serviço da luta pela democracia interna, pelo direito de tendências e de representação proporcional nas instâncias de direção do PT. Teve posição de vanguarda para que o PT assumisse plenamente em seu estatuto o direito de proporcionalidade em suas executivas. Esteve presente na conquista, pelas companheiras, da cota de 30% de mulheres nas esferas de direção partidária. Também marcou sua presença na defesa da concepção do PT como partido e não como frente política ou frente eleitoral, tema que dominou os primeiros anos de existência do partido.
Foi assim, ainda, na luta pela anistia, no apoio à construção da CUT e na defesa das Diretas Já, as grandes manifestações populares que deram ao PT a vanguarda da luta pela democracia. Estivemos, também, no processo de defesa da Assembléia Constituinte, livre e soberana, como bandeira globalizadora na superação do regime militar, e na denúncia dos limites do Congresso Constituinte. O internacionalismo, bandeira tão cara aos socialistas, sempre encontrou no Em Tempo um veículo para sua difusão. O Em Tempo foi veículo das nossas experiências de lutas parlamentares, das conquistas das primeiras prefeituras e dos espaços que fomos alargando na vida política do país.
Nos últimos anos, o Em Tempo assumiu a identificação da própria corrente, com o objetivo de fortalecer a ação orgânica e a identidade dos seus apoiadores com as contribuições que a Democracia Socialista tem feito no debate interno e na prática política do PT.
Essa rica experiência completa 30 anos. Nossa trajetória, a coerência política e a identificação partidária são referências que, hoje, vão além do PT.
Fiéis a essa história, queremos continuar contribuindo para as conquistas e avanços na luta do povo trabalhador, sem perdermos a perspectiva original da independência classista e da luta pelo socialismo. No final de 2007, queremos comemorar com os companheiros e companheiras do partido esta referência da qual nos orgulhamos. Vida longa para oEm Tempo – Democracia Socialista!
Raul Pont é membro do Diretório Nacional do PT e Deputado Estadual PT-RS.