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Eleições nos EUA deixam esquerda sem opção

Polarização eleitoral disfarça proximidade política de Bush e Kerry.

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As eleições de 2 de novembro nos Estados Unidos colocam os militantes de esquerda numa encruzilhada. Há os que não apóiam ninguém, os que votarão em Ralph Nader, do Partido Verde, e os que defendem o voto útil em John Kerry. O único consenso é a necessidade do fortalecimento das mobilizações sociais. A situação fica ainda pior por conta do sistema eleitoral norte-americano, que favorece o bi-partidarismo e torna a eleição extremamente dependente do poder econômico.

A proximidade crescente de Bush e Kerry

Sem saída. A falta de opções para a esquerda nas eleições norte-americanas.

No dia 2 de novembro, os eleitores norte-americanos poderão escolher quem ocupará a Casa Branca até 2008. Para os eleitores de esquerda, as opções são difíceis. Para sair da polarização entre democratas e republicanos, alguns apóiam a candidatura de Ralph Nader. Outros continuam a defender “Qualquer um menos Bush”, numa campanha pelo voto útil em Kerry. E há os que mostram que mais do que escolher um candidato é preciso fortalecer as mobilizações sociais.

Kerry=Bush?

A linha política da campanha de Kerry tem evidenciado que a diferença entre democratas e republicanos é pequena. Como senadores, tanto Kerry quanto seu vice, John Edwards, votaram pela guerra no Iraque. Ambos apoiaram também o Ato Patriótico, que limita os direitos civis em nome da “segurança nacional”. No campo internacional, a política de imposição da ALCA também deverá fazer parte de um suposto governo Kerry, notável entusiasta do livre comércio, e que recentemente atacou Bush por não fazer mais para reprimir movimentos sociais na Bolívia e na Argentina.

Ainda assim, milhões de eleitores que se colocam contra a guerra e o Ato Patriótico devem votar em Kerry. Peter Camejo, candidato a vice na chapa de Ralph Nader, aponta o sistema eleitoral como o grande empecilho para o crescimento dos independentes. “A única explicação de dezenas de milhares votarem contra o que manda o coração é a falta de eleições livres nos Estados Unidos”. Camejo refere-se à primazia do bi-partidarismo e à ausência de segundo turno ou mecanismo similar (clique aqui e leia sobre).

A anti-war protestor poses during a rally of A.N.S.W.E.R., the Coalition against War and Racism, at the Democratic National Convention in Boston, July 25, 2004. REUTERS/Marc Serota
Morte anunciada. Militante protesta contra a guerra no Iraque durante a convenção democrata, em Boston

Outras opções

A candidatura de Nader, aliás, gera reações diferenciadas nos setores de esquerda. Segundo Jane Slaughter, da organização Labor Notes, o foco dos movimentos sociais deve ser o fortalecimento de lutas nas ruas, tendo como foco especialmente o movimento Anti-Guerra. Jane diz que a possibilidade de apoiar Nader fica comprometida com a constatação de que não se pode confiar nele para uma real alternativa de esquerda a longo prazo. “Ele tem se portado apenas como um indivíduo. Não tenho a ilusão de que ele esteja ajudando a fortalecendo um partido de esquerda”, afirma ela, embora ressalte que a falta de opção provavelmente a levará a votar em Nader.

Alguns setores militantes, no entanto, vêem em Nader a afirmação de um voto independente, que denuncia o fato de Kerry e Bush compartilharem boa parte do programa. Nader se colocou contra a guerra e o Ato Patriótico, e tenta a candidatura pelo Partido Verde, que diferentemente dos verdes europeus tem um perfil mais à esquerda. Ao aparecer à esquerda dos democratas e questionando sua política, a candidatura Nader é constantemente pressionada por aqueles que vêem o risco dos votos em Nader tirarem Kerry da Casa Branca.

Intrigas internas

Essas artimanhas são possíveis por causa do sistema eleitoral nos Estados Unidos. Como ele reflete a estrutura federalista, permite situações como Ralph Nader ser candidato pelo Partido Verde em alguns estados, pelo Partido Reformista em outros, candidato independente em outros e ainda não ter conseguido nem colocar o seu nome na cédula em colégios eleitorais importantes, como a Califórnia. Nas prévias de lá, 86% dos verdes votaram em delegados que teoricamente apoiavam Nader, mas na convenção o escolhido foi David Cobb. Suspeita-se que isso seja fruto participação de democratas infiltrados no processo.

Ann Menasche, do grupo Solidarity e ativista do Partido Verde, diz que a campanha de Cobb tem sido invisível, mesmo depois de conseguir estar como candidato dos verdes em 29 estados. “Enquanto isso, a campanha de Nader e Camejo cresce, com todas as dificuldades “, diz Ann.

Qualquer um menos Bush

Alguns setores militantes de esquerda buscam a derrota eleitoral de Bush sem dar igual valor à construção de uma alternativa política a ele, o que tem levado a defenderem o voto em Kerry. Naomi Klein, por exemplo, acha que derrotar Bush é condição para uma reorganização dos movimentos sociais em torno dos temas que realmente importam, construindo movimentos suficientemente rápidos e ágeis para fazer frente a eles. Segundo ela, a presença de um presidente como Bush na Casa Branca desloca a atenção dos verdadeiros problemas a serem combatidos pelos ativistas.

Com Nader fora do baralho, a eleição de Kerry ou Bush parece não significar grande mudança no cenário internacional. A essa altura, dificilmente Kerry mudará os rumos da guerra no Iraque, e sem dúvida manterá o foco no livre comércio. Do lado de fora dos EUA, aos militantes altermundistas de outros países só restaria a torcida. Mas se para os eleitores norte-americanos parece não haver opções eleitorais, não há nem mesmo para quem torcer.


 

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