Movimentos sociais pressionam por antecipação das eleições gerais.
A renúncia de Carlos Mesa e a posse de Eduardo Rodríguez, ex-presidente da Suprema Corte de Justiça, como presidente da Bolívia deram um arremate prévio a mais um capítulo da mobilização popular que se estende desde 2003. O desafio que os movimentos sociais se colocam no momento é garantir o cumprimento da “Agenda de Outubro”.
Determinada em 2003, quando houve a saída de Sanchez de Lozada pelas pressões populares, a pauta não foi encaminhada por Carlos Mesa, que impôs uma política burguesa de defesa das multinacionais que exploram os hidrocarbonetos (petróleo e gás) no país. A nacionalização dos hidrocarbonetos é, aliás, o primeiro ponto dessa agenda. Constam da pauta também a convocação de uma Assembléia Constituinte, a expulsão da transnacional Aguas del Illimani-Suez de El Alto e o rechaço do TLC e da ALCA.
A despeito das visões distintas entre os diferentes movimentos – Confederação dos Povos Indígenas (CIDOB), Confederação Operária Boliviana (COB), Federação das Associações de Moradores (Fejuve) – e partidos – como o Movimento ao Socialismo (MAS) e o Movimento Indígena Pachakuti (MIP) – o interlúdio político tem proporcionado uma agenda mínima conjunta, cobrando a realização de eleições gerais antecipadas, que devem se dar num prazo de 150 dias.
O MAS é quem mais joga peso na via institucional nesse momento, e aposta nas eleições gerais para fazer Evo Morales presidente. A expectativa é que, além do presidente, seja eleito também um novo Congresso. Há implícita nessa proposta uma oposição à agenda que a burguesia tenta impor, de um plebiscito sobre a autonomia de Santa Cruz de la Sierra. Por trás dessa idéia está a busca por pagar menos impostos e por fazer negócios com as multinacionais que exploram os hidrocarbonetos.
Nos últimos meses, indígenas, plantadores de coca, mineiros, lavradores e operários fortaleceram os protestos contra a exploração dos hidrocarbonetos pelas multinacionais, questionando também a representatividade do legislativo e do executivo bolivianos. Embora acentuado recentemente, o processo de conflitos na Bolívia é fruto da histórica polarização entre a elite branca e os trabalhadores indígenas, e tem sua origem na colonização espanhola. Um dos fatos mais marcantes dessa luta se deu em 1952, quando, numa revolta contra a exploração burguesa, os trabalhadores nacionalizaram as minas e conquistaram o voto universal.
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