O PT no seu 3º Congresso, em 2007, decidiu por candidatura própria para a sucessão do presidente Lula. A decisão mais condizente com a história pós-ditadura militar. O PT é o único partido que disputou todas as eleições desde 1989. Esta história lançou profundas raízes na sociedade brasileira e as políticas públicas do governo do presidente Lula fortemente as consolidaram.
No entanto, atrelar o debate sobre alianças eleitorais municipais em 2008 com a tática eleitoral para 2010 tomou vulto quando o governador de Minas Gerais, Aécio Neves do PSDB e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel do PT, anunciam aos quatro cantos do mundo um acordo para as eleições de Belo Horizonte, mas tendo em mira as eleições de 2010.
O PT de Belo Horizonte renuncia a liderar a frente de esquerda que governa Belo Horizonte há quatro mandatos e passa a apoiar um candidato do PSB, que também será apoiado pelo PSDB de Aécio Neves. Mais que um “arranjo local”, o governador e o prefeito proclamam identidades políticas e programáticas para governar a cidade, o Estado e o Brasil.
Ao propor uma convergência programática, seus proponentes devem esclarecer pelo menos quatro pontos:
– qual convergência na política externa, a submissão de FHC ou a altivez de Lula?
– qual acordo face ao Estado: será em torno da reforma liberal de Aécio ou em torno do estado indutor do desenvolvimento de Lula?
– qual identidade face às desigualdades de renda e de poder no Brasil, da propriedade da terra, da miséria e da concentração de renda?
– qual a relação com os movimentos sociais, a de FHC – criminalizando-os – ou a de Lula?
O Jornal “O Estado de São Paulo” de 17 de março noticia o seguinte:
[… o governador diz que trabalha para “criar um espaço novo na política brasileira”, que não é de confronto. Ignorando o embate entre tucanos e governistas no Congresso, a cada dia mais agressivo, Aécio argumenta que “2010 não é agora, mas é sempre hora de mostrar que é possível haver diálogo entre as forças políticas, mesmo as que disputam o poder há 20 anos”. E aponta Belo Horizonte como o exemplo concreto de que a convergência é não apenas desejável, mas sobretudo possível. Lá, ele e o PT do prefeito Fernando Pimentel fecharam um acordo para lançar Márcio Lacerda (PSB) à corrida municipal. Pimentel disse na sexta-feira, em entrevista ao Estado, que o PT mineiro não criará entraves à aliança. Ressaltou seu respeito por Aécio – “Se o Brasil o elegesse, estaria elegendo um excelente presidente” – e frisou a simpatia de Lula pelo governador. Mas frisou que o presidente jamais poderia apoiá-lo, enquanto estivesse no PSDB.]A última vez que Márcio Lacerda freqüentou o noticiário nacional foi quando de seu afastamento da Secretaria Executiva do Ministério da Integração Nacional, em agosto de 2005. À época foi citado pelo publicitário Marcos Valério, durante a CPI, como pessoa que sacou recursos de suas contas em 2003 e 2004.
Na ocasião, o Ministro Ciro Gomes fez uma defesa enfática de seu secretário. Ao deixar o Ministério no dia 31 de março de 2006, Ciro Gomes fez questão de desagravar Márcio Lacerda. “A Polícia Federal e a CMPI dos Correios comprovaram o que eu já afirmara, em nota pública, no dia 2 de agosto do ano passado: o senhor Márcio Lacerda é inocente das acusações que lhe foram assacadas”.
O problema para o PT de Belo Horizonte é explicar em qual projeto o candidato comum estará engajado em 2010.
A estratégia de “baixa conflitividade” encabeçada por Aécio Neves, e em suas palavras designada como “pós-Lula”, reconhece a grande força eleitoral do presidente, especialmente no momento da sua sucessão. Não quer aparecer como anti-Lula, como o seu adversário interno, José Serra – mesmo que também não queira, não consegue livrar-se da histórica derrota para Lula em 2002.
Aécio Neves tem como primeira hipótese ganhar a disputa dentro do PSDB. A hipótese de filiação ao PMDB é fraca. Além disso, o PMDB não demonstra desde a eleição de1989 nenhuma capacidade de hegemonizar uma disputa nacional. Desde 1994 a polarização é entre PT e PSDB
Em boa hora o Diretório Estadual do PT de Minas, em resolução tomada em 15 de março, registra que “O governo Aécio não se coaduna com o que o PT quer para Minas e muito menos para o Brasil. Reafirmamos nossa oposição programática ao governo estadual, conforme resolução do 3º Congresso Estadual, em razão de ações como: mínimos investimentos na área social, ausência de participação popular, falta de transparência no gasto público e sua concepção de Estado mínimo”.
A proposta de candidatura comum para a prefeitura de Belo Horizonte – o arranjo de Aécio – só serve a ele mesmo. A única hipótese de não servir pessoalmente a ele será se não for candidato, mas, mesmo nesse caso, servirá indiretamente à sua causa, que é justamente a de descaracterizar o PT como portador de um projeto novo e alternativo para o Brasil.
Joaquim Soriano é Secretário Nacional de Formação Política do PT.