Jornal DS 26 [Jul2010]. Passado o “intervalo” da copa do mundo, campanha começa pra valer.
Depois de dois anos de lançada como pré-candidata pelo presidente Lula, a companheira Dilma firma-se como favorita em todas as pesquisas, que a apontam, no quesito “expectativa de vitória”, como nova e primeira presidenta do Brasil. Desde quando iniciaram, as pesquisas sobre sua intenção de voto mostram crescimento contínuo e consistente em termos de declaração espontânea e estimulada. Quando se associa a essas medidas o nível de aprovação do governo e se verificam os setores que ainda não foram alcançados pelo debate eleitoral – e supondo que a TV joga um papel amplificador na consolidação de todos os aspectos positivos que conformam a identidade político-eleitoral da nossa candidata e chega a todos os setores do eleitorado – é possível dizer que alcançamos um patamar de favoritismo na corrida presidencial.
O que está ocorrendo é a formação de uma maioria política – ou, mais corretamente, uma hegemonia em construção – na sucessão de Lula, fortemente identificada com ele e com o governo, que precisa completar-se com a “utopia concreta” do futuro do Brasil pós-Lula, mas com Lula, com o PT e, obviamente, com Dilma presidenta.
A explicação superficial (isto é, da imprensa conservadora) para esse fenômeno tem sido a popularidade de Lula ou os altos índices de aprovação ao governo. Essa lógica costuma atribuir aos programas sociais essa aprovação, como se houvesse uma troca utilitária entre o povo pobre e o presidente. Não que esses fatores não existam, mas eles apenas desenham alguns traços de um processo político-social e de um sujeito histórico em formação muito mais substantivo e profundo.
A divulgação de dados econômicos e sociais que mostram que a centralidade da evolução recente do Brasil está na elevação do emprego e da “renda” do trabalho bastaria para desmontar a visão simplista conservadora. A histórica aversão ao povo professada pela direita revela-se, mais uma vez, limitadora da sua compreensão do Brasil.
Injeção de programa
Nossa interpretação do “fenômeno Dilma”, em contrapartida, deve partir da compreensão de que o Brasil de hoje está à esquerda quando comparado com 2002, ou seja, que o legado do governo Lula é um país menos liberal e mais “democrático-popular”. Desde as conquistas do 1º mandato e, sobretudo, desde o embate do 2º turno de 2006 com Alckmin, que culminou com a derrota do neoliberalismo por um projeto nacional de desenvolvimento democrático e popular, passando pelo enfrentamento da crise internacional sob uma perspectiva de esquerda, Lula conquistou uma larga maioria – uma hegemonia “em construção” – para um projeto de nação com democracia, efetiva participação popular nos frutos do desenvolvimento e soberania nacional. É necessário frisar que esse é um processo em andamento, e que, desde o ponto de vista do programa socialista do PT, esse projeto ainda não alcançou o estágio de democratização (e transformação) do poder, mas sim o de representação no poder de um projeto que tem esse potencial.
Além de representar um legado com sentido democrático-popular, a companheira Dilma deve assumir uma identidade socialista-democrática, que só pode ser conferida como expressão partidária. É o PT que assegura essa identidade, essencial para que, além da continuidade de um projeto, se acentue o seu avanço qualitativo. Essa unidade entre candidatura e partido ainda não está plenamente constituída, mas, como um objetivo determinante, pode e deve ser construída ainda no processo eleitoral.
A fobia anti-PT desenvolvida no seio das classes dominantes sempre motivou intensos ataques ao partido. Profundos equívocos internos, como o de 2005, forneceram pretextos para esse ódio de classe. Mas o PT resistiu, é a referência política para grande parte das amplas massas que se identificam com Lula; é, de longe, o partido preferido pelos que têm simpatia partidária. E, mais importante, o PT aprofundou o seu caráter de partido dos “de baixo” e da classe trabalhadora, em grande medida, em decorrência da ação do governo Lula. Mas não só.
Ainda que parcialmente, o partido superou a crise de 2005 e as vacilações programáticas do 1º governo, afirmando-se dentro das suas melhores tradições socialistas e democráticas. Evidentemente, trata-se de um processo em curso, mas que se reforça com a eleição de Dilma e com a possibilidade de abrir um novo período político mais promissor para a defesa do socialismo democrático. Longe do vaticínio sectário dos que romperam “pela esquerda” – e que hoje vivem uma profunda interrogação sobre seus experimentos partidários –, o PT vem consolidando suas bases nas classes trabalhadoras, o seu programa anti-neoliberal e seu potencial de desenvolvimento socialista.
Mulher candidata. Dilma e Lula com Maria da Penha, na convenção do PT.
O PT dentro da luta pela vitória
Muitas vezes se pensa o partido somente pelas suas instâncias de direção; esquece-se de compreendê-lo como referência histórica do governo e de movimentos sociais, sobretudo a CUT. Essa unidade é que deve ser traduzida na disputa política e na construção da identidade socialista-democrática da candidatura presidencial da companheira Dilma.
Em torno da candidatura Dilma se estrutura uma ampla frente, mas porque depende do PT imprimir à hegemonia política em construção uma perspectiva socialista democrática: essa é a razão fundamental da exigência do papel de direção do PT sobre o conjunto da campanha. Essa construção da hegemonia torna-se mais importante ainda em uma disputa na qual o PMDB ganha força, com mais nitidez, na coalizão nacional, bem como em chapas que disputam os governos em estados centrais do país.
Cabe a essa direção real e ampliada – naturalmente, ouvindo os partidos aliados, principalmente os de esquerda – sintetizar o programa para o próximo governo, para o qual nosso 4º Congresso deu uma contribuição importante que deve se somar às práticas e conhecimentos mais avançados conquistados no governo e às contribuições dos movimentos sociais.
Muito mais que um documento, o programa é um elo a ser construído com a ampla base social que apóia nossa candidatura. E que pode se movimentar em defesa dessas posições. Nesse sentido, é fundamental uma campanha “programática”. Sempre que a nossa candidatura assume essa postura, a direita recua e fica ainda mais na defensiva.
De outro lado, não há hegemonia sem força. É fundamental que o PT cresça dentro da vitória de Dilma. Nisso se destaca a conquista de governos estaduais, onde já governamos e onde podemos chegar ao 2º turno e vencer, como em SP. Também contribui a conquista de estados onde o PT, ainda que não lidere a chapa majoritária, tem papel fundamental, sobretudo aqueles encabeçados por partidos de esquerda.
Nesse contexto de extrema defensiva das forças neoliberais no plano nacional, há bastante legitimidade para se avançar no programa de transformação do Brasil e na conquista de novas posições que aprofundem a revolução democrática que temos defendido.
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