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A derrota de 2 de outubro e as perspectivas da esquerda

2723070NOTA DA DEMOCRACIA SOCIALISTA

O PT sofreu uma ampla derrota no primeiro turno das eleições municipais.  Foi o corolário do processo político que resultou no golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma. Nossa perda de capacidade hegemônica encerra um período histórico. O desafio é sermos capazes de abrir um novo período que recupere a capacidade hegemônica da esquerda. É necessária uma mudança profunda e urgente no partido para que volte a ser a ferramenta estratégica do povo trabalhador.

Raízes da derrota

A ampla derrota sofrida pelo PT nas eleições municipais de 2 de outubro de 2016 é o ponto final da crise vivida pelo partido no governo federal e os impasses em geral do modo petista de governar na última década. Encerra um período político. E cobra de nós, militantes petistas, a construção das condições para abrir uma nova etapa que relance o projeto de esquerda de superação dos impasses da experiência em curso.

Cercado por maiorias parlamentares conservadoras, uma mídia corporativa reacionária e o conservadorismo das demais instituições do Estado, o PT no governo tentou – e em vários momentos conseguiu – realizar a proeza (e alimentar ilusões) de alcançar melhoras sem acirrar a luta de classes, nem disputar mudanças estruturais na economia e sociedade brasileira. E foram as conquistas alcançadas nessas circunstâncias que acenderam alarmes das oligarquias e dos ricos contra a redução das desigualdades sociais.

De forma coerente se buscou sedimentar essa estratégia com um fortalecimento do Estado na economia e um avanço na soberania nacional buscando alianças no Sul do mundo e na região. Essa perspectiva internacional fez soar os alarmes de setores burgueses subordinados ao capital internacional e do imperialismo norte-americano.

Foram esses avanços sociais e políticos que alimentaram a campanha de ódio e intolerância antipetista que se desenvolve há mais de dez anos e que nos últimos três alcançou níveis de histeria coletiva nos meios de comunicação comercial e em segmentos de instituições do Estado.

O pretexto que permitiu alimentar essa campanha foi o erro de setores do partido de exercer o mandato nos moldes tradicionais, associando e tolerando práticas corruptas tradicionais. Desde a primeira crise em 2005-6, com o chamado “mensalão”, já advertimos sobre esse erro e suas graves consequências para nosso partido. Aquilo que é “normal” e aceito em políticos da direita, seria manipulado contra os petistas pelos setores reacionários. Sobretudo, essas práticas vão contra os princípios de uma ação socialista e de forma crescente são repudiadas pela nossa própria base.

Até outubro de 2014 a furiosa campanha de criminalização do PT e seus dirigentes não teve resultados eleitorais plenos – ao final Dilma foi reeleita no segundo turno – porque a maioria do povo sentia que o governo do PT defendia os direitos e interesses da população. Foi a trágica decisão da presidenta Dilma de dar um “cavalo de pau” na economia, adotando parte fundamental do programa que o inimigo propunha, com um ajuste fiscal recessivo, que cortou nosso vínculo com as maiorias. Essa decisão foi sustentada e justificada pela maioria da direção do PT; o partido só adotou uma posição crítica no segundo semestre de 2015. A Democracia Socialista lutou, junto com outras correntes de esquerda, com a CUT e os movimentos sociais, pelo programa eleito. Contribuiu para unificar a esquerda partidária no movimento Muda PT!  em defesa da mudança imediata da política, dos métodos e da direção do partido.

O profundo desgaste político e a perda de apoio social foram aproveitados pela direita para preparar o golpe de Estado que iria se consumar em agosto de 2016.

O resultado eleitoral de 2 de outubro foi o capítulo final dessa agonia. As candidaturas do PT tiveram que enfrentar uma brutal campanha na opinião pública que marcava-as como corruptas. Além disso, a população estava sofrendo o desemprego produzido pela guinada neoliberal da política econômica.

Retrato da derrota

Depois de doze anos de governos federais petistas, no dia 2 avançou a manipulação do discurso da anti-política, como ficou patente no aumento do total de abstenções, brancos e nulos. Sofremos importantes derrotas na maioria dos grandes centros urbanos.

Em algumas cidades importantes – como São Paulo – a direita ganhou apresentando um discurso neoliberal.

As denúncias seletivas da imprensa, do Ministério Público e do Judiciário contra petistas serviu para encurralar candidaturas, mesmo de quem nada tinha a ver com as reais ou supostas irregularidades que estão sendo investigadas.

Retrocedemos quase em todo o país. Perdemos terreno até nos dois grandes estados onde somos governo, como Bahia e Minas Gerais. A vitória no Acre ficou como um caso isolado.

Estamos no segundo turno e vamos lutar com todas as forças no Recife (PE), em Juiz de Fora – que simboliza agora toda a disputa de Minas Gerais –, em Vitória da Conquista (BA), em Santa Maria (RS), em Anápolis (GO), em Santo André e Mauá (SP) e em Aracaju (SE) com PCdoB à frente. Apoiaremos o PSOL no Rio e em Belém.

O espaço perdido pelo PT nas eleições apenas parcialmente foi ocupado por outras siglas da esquerda, o que amplia o debate sobre o futuro da esquerda brasileira. E, tão importante como nossa derrota, é o surgimento do PSDB, dirigido pelo governador de São Paulo, como vitorioso. A direita tem quem a lidere. E sua agenda é a do aprofundamento do neoliberalismo e do golpe contra a democracia.

A saída é pela esquerda e com a classe trabalhadora

A responsabilidade central dessa trajetória de derrotas é, obviamente, do nosso partido, da sua direção nacional.  Porque era quem poderia corrigir rumos e optou por se adaptar às circunstâncias, ao invés de tentar mudá-las. Essa inércia chegou até o domingo, 2, e tocou o fundo do poço. Não pode mais continuar.

Nas mobilizações sociais e contra o golpe de Estado em 2016 e nos resultados eleitorais registramos que continua a existir energia popular e de esquerda.  Fomos derrotados, mas podemos reconstruir um projeto capaz de enfrentar a direita e disputar novamente corações e mentes.

A resposta urgente e necessária é mudar o PT, construir um novo programa sob a perspectiva do socialismo democrático, definir novos métodos de organização com base em uma estratégia que inclui a disputa eleitoral e volta a combina-la com a disputa social e cultural, estabelecer claramente o compromisso com a construção da unidade da esquerda e eleger uma nova direção. Essas tarefas são urgentes e vamos lutar para realiza-las já, através de um Congresso emergencial.

Por isso, Muda PT Já!

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