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A Economia Feminista Qualifica a Economia Solidária | Drika Cordonet

Dia 15 de dezembro, celebramos o Dia Nacional da Economia Solidária em todo o território nacional. E neste ano, ocorreu a VI Plenária Nacional de Economia Solidária: Autogestão como estratégia de resistência e alternativa à crise do capitalismo, na luta pela radicalização da democracia, de 06 a 09 de dezembro em Brasília.

O evento reuniu delegadas e delegados de todos os estados para debater e aglutinar as propostas e reflexões acerca dos desafios  da Ecosol e sua organização. E neste sentido, trago a construção da economia feminista que, apesar de amplamente estudada e debatida, ainda não tem a atenção necessária, enquanto práxis das nossas formações socialistas e políticas.

Segue alguns pontos primordiais para sua compreensão, que construimos enquanto agentes da Rede de Economia Solidária e Feminista (portal.resf.com.br):

Divisão Sexual do Trabalho: Apesar das novas metodologias econômicas, conquistas de direitos e demais micro avanços na nossa relação com o mundo, a divisão sexual do trabalho é algo que nos afeta cotidianamente. A economia é construída e pensada majoritariamente por homens, e segue ainda padrões de relações arcaicos que submetem grande parte das mulheres à esfera dos cuidados domésticos e da reprodução da vida familiar, sem que isso seja considerado um trabalho. Somado a isso, as coloca em trabalhos precarizados e com baixos salários, que agrega à injusta tripla jornada de trabalho das mulheres, fazendo com que a manutenção da sua própria vida fique quase inexistente. E quando colocamos a população negra, índígena, quilombola, povos do campo, florestas e águas, nesse contexto de análise das relações sociais, a precarização da vida aumenta alarmantemente. Por vezes, a Ecosol reproduz essa divisão, mesmo as mulheres sendo a maioria nos empreendimentos e redes de cooperação, não incluindo de fato na gestão e construção coletiva. Para subverter essa lógica é que a Economia Feminista existe e resiste.

Autonomia: A Economia Feminista tem como um de seus grandes pontos pensar maneiras e ferramentas para que as pessoas retomem o controle de suas vidas, seja financeiramente, pelo bem estar, oportunidade de estudos, e etc. Notem que, ao falar pessoas ao invés de apenas mulheres, incluo aqui também, a comunidade LGBTQIA+, sobretudo a população trans, mulheres negras e quilombolas, indígenas, povos do campo, florestas e águas, e juventude, que sofrem com o patriarcado e suas metodologias de opressão e violência constante sobre nossos corpos e nossas vidas. Trata-se de colocar essas pessoas como protagonistas das cooperativas e associações que fazem parte.

Autogestão: A Economia Feminista, ao trabalhar no centro da Economia Solidária, forma atrizes e atores para o trabalho autogestionário, onde não há relação patrão-empregado. Tendo a cooperação e a solidariedade como suas ferramentas de formulação da divisão de tarefas e tempo na execução do trabalho, construída coletivamente, de modo que a qualidade de vida seja preservada. Ou seja, trabalhando para viver, e não vivendo para trabalhar. Assim, vai-se diluindo a ótica capitalista do trabalho individualista e competitivo, e dando forma ao trabalho associativo e solidário entre seus agentes.

Qualificação técnica e produtiva: A qualificação das pessoas que constroem a Ecosol deve ser constante e um processo completo de compreensão e prática de todo o ciclo produtivo e gestionário. Ou seja, desde o processo de obtenção ou compra de matéria prima e insumo, precificação, comercialização e organização destes espaços, administração de recursos e finanças solidárias, como fundos e sobras, e as etapas do processo produtivo. Isto significa que todas estarão aptas a desempenhar e construir seus coletivos, dentro de suas limitações e especificidades. Somado a esta formal metodologia de educação das empreendedoras, se alia a troca de saberes e experiências entre redes e cooperativas, fazendo-as também se tornarem multiplicadoras e agentes do desenvolvimento coletivo.

Movimento Social e Construção Política: A despolitização na Economia Solidária, faz com que por vezes caia na via produto/serviço-comercialização, esquecendo que a raiz da economia solidária é aliada ao movimento de libertação das práticas de produção e consumo capitalistas. Exemplifico com o fato de que durante as preparações para a VI Plenária Nacional da ECOSOL, a única organização que executou uma construção temática foi a Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF), com a pauta anti machista, antirracista e anti LGBTQIfóbica. Ou seja, ao se aliar aos movimentos sociais e feministas, a exemplo da Marcha Mundial das Mulheres, movimento negro, de juventudes, povos tradicionais, LGBTQIA+, direito a moradia, entre outros, forma as produtoras para fortalecer a luta por igualdade, justiça e bem estar social. Ao passo que vai organicamente criando uma consciência coletiva, questionadora e propositiva,  se torna força motriz para a construção política e organização em coletivos que pensam um projeto que trilha os caminhos para o modelo de sociedade que queremos.

Agroecologia e responsabilidade socioambiental: “(…)ciência, movimento e prática, a agroecologia se propõe a atuar no enfrentamento da exploração das grandes empresas sobre os territórios, na produção e consumo de alimentos saudáveis a partir do uso e manejo sustentável dos agroecossistemas e na promoção de relações justas, igualitárias e equilibradas entre as pessoas e a natureza. Para modificar as relações, é preciso que a agroecologia se some na luta feminista para alterar a divisão sexual do trabalho, valorizando e reconhecendo as atividades produtivas e reprodutivas das mulheres, e, mais do que isso, buscando a sua justa divisão, em especial do trabalho doméstico e de cuidados.” (SOF, 2018)[1]

Estes elementos são apenas alguns pontos da construção base executada pela Rede de Economia Solidária e Feminista em âmbito nacional. Sua contribuição para o enfrentamento à violência contra as mulheres e minorias sociais, se multiplica através do debate e da construção junto a Marcha Mundial das Mulheres, e em sua maioria junto ao Partido das Trabalhadoras e Trabalhadores e da Democracia Socialista.

Pela sustentabilidade da vida, tecendo redes para o bem viver coletivo.

“Um novo mundo é possível, uma nova economia já acontece.”

Drika Cordonet, RESF/RS – OSCIP Guayí, Militante LGBT da MMM, Coletivo CORES/DS e Movimento Kizomba.

 

[1] Fonte disponível em: https://www.sof.org.br/a-nossa-luta-e-todo-dia-feminismo-pela-agroecologia-e-pela-democracia/

 

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