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A emoção de lideranças da sociedade civil que voltam ao Planalto depois de seis anos de golpe | Cristiane Sampaio

BdF esteve no local e conversou com diferentes interlocutores que seguiram na luta popular após deposição de Dilma.

Wikipedia/Divulgação

Foi entre lágrimas e com a voz embargada que a militante Ana Moraes, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), viveu, nos bastidores, os diferentes momentos que envolveram a posse do presidente Lula (PT) no Palácio do Planalto. Ela, que esteve no mesmo local em 12 de maio de 2016, quando Dilma Rousseff (PT) fez seu último discurso e deixou o cargo após ser deposta pelo Congresso Nacional, agora tenta conter a emoção ao saber que a cadeira volta a ser ocupada por Lula depois de seis anos da avalanche conservadora que tomou conta do país.

“Não queria falar porque eu sabia que iria chorar. É emocionante porque também é sobre os nossos corpos que estamos falando. É sobre a vida das mulheres, e o fato de esse golpe ter sido também contra as mulheres foi um retrocesso na nossa luta, mas também na luta popular. E a gente sabe o que sofreu nesses anos de golpe com o Temer e o Bolsonaro. Então, é muito significativo estar aqui, estar olhando pra essa rampa onde a esperança vai subir novamente”, disse, momentos antes de Lula pisar o solo do palácio.

É olhando pelo retrovisor da história recente do país que a militante evoca as cenas que marcaram aquele maio de 2016, quando ajudou a mobilizar o grupo de mulheres que foi ao Planalto apoiar Dilma após o golpe parlamentar. Mas nem só disso se alimenta a memória de Ana Moraes, que também esteve presente nos arredores do prédio em diferentes momentos em que movimentos populares bradaram contra a gestão Bolsonaro nos últimos anos.

“É significativo olhar pra essa Praça dos Três Poderes, onde apanhamos tantas vezes, onde a polícia nos expulsou muitas vezes e onde a gente resistiu, e vê-la vermelha, com essa multidão. Voltamos, e olha a praça: somos muitos”, deslumbra-se.

“Foi golpe”

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF), Rodrigo Rodrigues, a volta de Lula marca a consolidação e o reconhecimento dos incontáveis discursos de lideranças populares que denunciaram a ocorrência de um golpe multilateral para destituir Dilma do cargo.

“Foi golpe. Nós dissemos isso. O discurso da presidenta Dilma no dia em que foi aprovada a saída [definitiva] dela da presidência, em 31 de agosto de 2016, foi muito forte e ela já dizia ‘nós vamos voltar, vamos mostrar que é um golpe’. E aqui isso está se concretizando neste momento, com Lula subindo a rampa do Planalto mais uma vez eleito presidente, provando sua inocência, mostrando que foi golpe.”

Foto: Carl de Souza / AFP

Enquanto Lula desfilava pela Esplanada dos Ministérios e cumpria o rito oficial de posse no Congresso Nacional, milhares de apoiadores o aguardavam em diferentes pontos da área interna do Planalto para ver de perto e dos bastidores os primeiros momentos do petista após subir a rampa. No grupo, dezenas de lideranças de entidades civis se aglomeravam, compartilhavam abraços e se emocionavam enquanto a multidão vestida de vermelho aguardava do lado de fora do prédio para ver o discurso do novo presidente.

“Se eu já não tinha palavras no dia da diplomação, imagine hoje. A sensação aqui é de uma vitória imensa porque, se a gente fosse calcular naquele dia [de 2016] quanto tempo a gente passaria pra voltar aqui ao Planalto, possivelmente daria um bocado de anos [como previsão]. E, depois que o Lula foi encarcerado, aí é que as projeções ainda eram maiores”, ressalta o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Veras dos Santos.

Para o dirigente, o retorno do ex-operário ao topo do Poder Executivo dependeu, entre outras coisas, de um certo misticismo que circunda o país. “Tudo que aconteceu tem a força do povo, mas também a força dos astros, das divindades, pra gente ajudar a mudar a realidade do Brasil e voltar com essa força, essa energia num momento em que a democracia estava em risco. Hoje a democracia renasce com outro fôlego”, encanta-se Santos.

A emoção é grande também para aqueles que, pela idade que têm hoje, não podem captar pela própria memória os capítulos das duas primeiras gestões de Lula à frente da presidência (2003-2010). É o caso da militante Simone Nascimento, 30, hoje ligada à direção do Movimento Negro Unificado (MNU) e integrante do conselho de participação social que assessorou Lula durante a última transição de governo, no final de 2022.

“Estou muito feliz, emocionada. Vai marcar minha vida toda estar nesta posse aqui. Eu digo que é um encontro de gerações. E, pra gente, um governo que entende que existe racismo – diferentemente do governo anterior, que chamava quilombola de ‘arroba’ – e que fala da importância dos quilombolas já é um novo grande passo pra uma educação humana pros brasileiros.”

Planalto X luta no Legislativo

No contingente de apoiadores que presenciaram os bastidores da posse no Planalto estavam também personagens de lutas-chave que tomaram as ruas e o Poder Legislativo nos últimos anos por conta do desmonte promovido pelos governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro (2019-2022). O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, por exemplo, festejou a posse e se disse maravilhado diante do reencontro de Lula com a cadeira que comanda o Poder Executivo federal.

“O governo começa bem, e ele começa com um grande ato popular no seu primeiro dia de mandato, então, teremos com certeza esse apoio da população brasileira e também uma pressão do povo pra que o governo possa sempre permanecer à esquerda. É um governo de coalizão muito ampla, um governo em disputa, e óbvio que essa disputa vai ser feita, como aqui está sendo feita pelos movimentos populares”, pondera, ao lembrar os desafios que ainda estão por vir.

Ikaro Chaves, do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), esteve na linha de frente da luta contra a privatização da Eletrobras no Congresso Nacional nos últimos anos. A mobilização do segmento foi uma das que turbinaram a luta do campo popular para tentar frear a agenda de desestatizações de Bolsonaro, que pôs na berlinda também empresas públicas como Correios, Petrobras e Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Agora, essas três estatais estão no despacho dado por Lula nos primeiros instantes de governo para determinar que ministros encaminhem proposta de retirada de programas de privatização de empresas públicas. A medida foi energicamente comemorada pelos milhares de apoiadores que se concentravam no Planalto.

“Nós voltamos aqui pela porta da frente e pelas mãos do povo. O campo progressista volta depois de um processo muito difícil de resistência, um processo duro em que a gente teve direitos suprimidos, aviltamento da democracia e dilaceração da soberania do país. Acho que a população e os movimentos sociais organizados conseguiram resistir. Essa vitória é, sim, do presidente Lula, evidentemente, de toda a figura, a história, a personalidade e a liderança do presidente, mas é uma vitória de cada um de nós que resistiu durante esses amargos anos”, disse Ikaro Chaves ao Brasil de Fato.

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