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“A gente existe, resiste e insiste em sonhar” | Dara Sant´Anna

“Nós, mulheres negras do Brasil, irmanadas com as mulheres do mundo afetadas pelo racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia e outras formas de discriminação, estamos em marcha. Inspiradas em nossa ancestralidade, somos portadoras de um legado que afirma um novo pacto civilizatório.”

Foto: Divulgação Facebook

Abertura da Carta da Marcha das Mulheres Negras contra o racismo e a violência e pelo bem viver, de 2015, que ocorreu em Brasília e chegou a ser atacada violentamente por militantes de movimentos antidemocráticos que estavam acampados em Brasília à época.

No ano seguinte, 2016, a primeira mulher Presidenta do Brasil sofreu um golpe e a nossa democracia também. A luta das mulheres negras pelo direito de uma vida digna e pelo fim do genocídio descrita naquela carta sofre um golpe com o esvaziamento dos espaços de participação popular e com a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária.

Em seguida, a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República seguiu com a destruição dos Conselhos de participação social e com o desmonte das políticas públicas. Se em 2015 a reivindicação era por maiores investimentos que possibilitassem melhoria dos serviços públicos de saúde, educação e acirrava a discussão sobre a política de segurança pública, com a aprovação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos e um governo neoliberal e conservador, os esforços passam a se concentrar na luta para garantir a sobrevivência e manutenção das políticas já existentes.

De 2019 a 2022 passamos por um processo de resistência e constante mobilização para defesa do direito à vida, à saúde, a condições dignas de vida, que se agudizaram com o surgimento de uma pandemia, agravada no Brasil pela irresponsável e criminosa gestão de um presidente contra o povo.

Mas a constante mobilização e a construção de ações nas periferias para enfrentamento à fome e à pandemia provaram, mais uma vez, a capacidade de organização coletiva e de solidariedade que criam soluções e rompem com o abandono do Estado.

A eleição do Presidente Lula em 2022 foi fruto não de grandes campanhas midiáticas, mas de gente que estava construindo cozinhas solidárias, campanhas de arrecadação e doação de alimentos, hortas comunitárias e tantas outras iniciativas lideradas em grande parte por mulheres negras que seguem insurgentes!

Neste ano de 2023, ocorrerá a IX Marcha das Mulheres Negras, de forma descentralizada pelos estados. É o retorno de uma mobilização que já tem uma história de quase dez anos, de luta por mais: mais direitos, mais dignidade, contra a discriminação, mostrando que as mulheres seguem organizadas.  A data de 25 de Julho celebra Tereza de Benguela, líder do Quilombo do Piolho, liderança da comunidade negra e indígena que resistiu à escravidão por duas décadas no Mato Grosso.

25 de Julho é Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, dia de celebrar a vida de mulheres como Tereza de Benguela, que existem, resistem e insistem em sonhar construindo perspectivas de um novo pacto civilizatório, no qual não haverá espaço para o racismo, o machismo, a lgbtqiapnb+fobia, a violência. Um pacto para dar lugar à igualdade e ao bem-viver.

Viva as mulheres negras!

Vida longa e feliz àquelas cuja existência é revolucionária!

Dara Sant´Anna é estudante e faz parte da Coordenação Nacional do Coletivo Enegrecer e participa do Movimento Negro Unificado-MNU e da Marcha Mundial das Mulheres. Foi Diretora de Combate ao Racismo da UNE 2017-2019.

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