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A igualdade será para todas ou não será | Nalu Faria

Os horizontes da mudança do feminismo são definidos pela nossa visão do mundo e pela forma como analisamos a opressão e a desigualdade. Ou seja, está definido pela formação social em que estamos inseridos. Dessa maneira entendemos que nossa luta como feminista não trata-se apenas de agregar alguns direitos, seja em relação ao trabalho, ao corpo ou de luta contra a violência. É mais que isso. É lutar para desmantelar todas as relações de opressão, exploração e dominação. Na Marcha Mundial das Mulheres consideramos que tudo está relacionado com as classes sociais, a etnia e a situação heteropatriarcal que estrutura a sociedade atual e faz parte de nossa agenda feminista. É por isso que o nosso lema é “a igualdade será para todas ou não será”.

No Brasil, nossos desafios passam por confrontar o avanço feroz da extrema direita fascista que está tentando destruir a esquerda, os movimentos sociais e os direitos humanos. Por isso, a luta por Lula Livre e Marielle Vive também são nossas bandeiras, pois significam um ataque frontal aos processos organizacionais. Por sua vez, “Ele Não” foi o resultado de um processo de acumulação que levou a um forte movimento espontâneo capaz de enfrentar a direita ao mesmo tempo em que dois modelos de países estavam sendo contestados. Entre as mulheres Bolsonaro perdeu, mas antes disso nós já fazíamos parte da resistência ao golpe do governo de Temer que trouxe consigo uma linha de retrocessos que agora se aprofunda. Hoje estamos mais conscientes de que quanto menos Estado houver, mais trabalho temos de fazer para garantir nossa sobrevivência.

O patriarcado e a opressão não são naturais, são uma construção histórica e, portanto, estarão sempre presentes enquanto o capitalismo existir, pois estão imbricados. Neste contexto o crescimento do movimento tem a ver com a necessidade de nos unir para enfrentar problemas comuns. As mulheres do mundo instalaram o 8 de Março como a data mais importante do movimento, indo maciçamente para as ruas não só para celebrar os anos de luta e memória, mas também para denunciar e reivindicar as mudanças que queremos.

O movimento feminista sempre demonstrou a tendência de internacionalização das lutas. Frente ao debate do Paro organizar uma luta internacional, é importante ressaltar que se tornou uma experiência importante nas Américas e Europa. Mas não devemos esquecer que não tem a mesma expressão em continentes como a África e Ásia . E nós temos a obrigação histórica de estabelecer um movimento internacional pensado a partir de diferentes contextos. Estamos construindo a MMM como um movimento internacional há 20 anos. El Paro neste momento demonstra a implicação dessa internacionalização onde se somam vários processos. É importante fortalecer os processos coletivos com ele protagonismo das mulheres da classe trabalhadora em sua diversidade e pluralidade.

Desejo que possamos espalhar o feminismo para a classe trabalhadora, incluir mais e melhores práticas dentro de nossos movimentos para superar o machismo e todas relações patriarcais. É fundamental , que mais mulheres estejam referenciando espaços e que as porta-vozes sejam cada vez mais trabalhadoras. Também é muito importante que o feminismo não se torne apenas um estilo de vida individual, porque embora seja importante pensar sobre as mudanças dos processos pessoais, elas só serão transformadoras de relações sociais se estiverem ligadas a práticas coletivas.

Sejamos sempre muito presentes de onde viemos, porque lá encontraremos a força necessária para continuar lutando, para que em nenhum momento nos desanimemos pensando que não podemos, porque nossos sonhos mais cedo ou mais tarde mudarão o mundo e a vida de todas as mulheres.

Nalu Faria é psicóloga, coordenadora da SOF e militante da Marcha Mundial das Mulheres.

Originalmente publicado em La Garganta Poderosa.

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