Notícias
Home / Conteúdos / Artigos / A jogada | Dr. Rosinha

A jogada | Dr. Rosinha

A imprensa comercial, ou tradicional –como queira – brasileira, nos últimos tempos tem feito críticas ao comportamento na política de Bolsonaro, principalmente sua postura frente à pandemia provocada pelo coronavírus. No entanto, esta mesmo imprensa, em relação às medidas econômicas fazem somente alguns comentários, para dizerem que existem. Não vão, além, pois ganham ao apoiar a destruição de direitos da classe trabalhadora.

Na última semana (na imprensa comercial) a ênfase política foi a pandemia e a relação Bolsonaro versus Mandetta/Ministério da Saúde. Esta ênfase tem razão de existir, não só pela boçalidade, no sentido de ignorante, rude, tosco, do Bolsonaro, mas também porque a direita precisa de um líder ou até mesmo de um herói nacional.

Depois do golpe contra a Dilma em 2016 a direita, representada basicamente pelo MDB, PSDB, DEM, PP e PTB, entraram em disputa entre si e acabou se dividindo e nesta divisão se destacou e se construiu um setor de extrema direita, que – ganhou as eleições – não contempla a “fina educação” da burguesia nacional, principalmente da elite paulistana.

Bolsonaro, o líder da extrema direita precisa ser derrotado pela direita para que ela se constitua como alternativa de governo, para que isso ocorra precisa de um líder nacional e, ele esta sendo construído, se chama Luíz Henrique Mandetta.

João Doria governa – a “locomotiva” do Brasil – o estado de São Paulo, mas sua liderança, por ora, não tem alcance nacional e está restrita ao seu estado. Os demais governadores e/ou lideranças da direita do Brasil estão limitados aos seus estados ou com pouco alcance nacional, como Doria.

O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre sequer consegue liderar dentro das quatro paredes da instituição que preside. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, líder do ‘Centrão’, tem sua liderança limitada ao espaço institucional e destaca-se nacionalmente, graças a mediocridade de Jair Bolsonaro, que é maior do que a dele.

A pandemia deu a oportunidade à direita para construir um novo líder. Aproveitando-se da boçalidade de Bolsonaro e da competência dos técnicos do Ministério da Saúde e das orientações da Organização Mundial da Saúde, foi fácil para Mandeta, com o apoio desta direita, tomar posição em defesa da saúde e do SUS, coisa que ao longo de sua vida pública nunca fez.

A estratégia definida pela direita, da qual participa Mandetta, é de fazer a disputa com Bolsonaro, até o ‘insuportável’ e, o insuportável é construir-se como vítima. Neste caso o controle da pandemia e/ou o achatamento ou não das curvas do número de internamentos e do número de mortos pelo Covid-19 tornou-se secundário para Mandetta e a direita.

Se achatá-la é mérito de Mandetta. Ele é o vencedor.

Se não achatá-la a culpa é do Jair Messias Bolsonaro. Mandetta será o vencedor.

Portanto tem que suportar o ‘insuportável’ ao máximo para sair como vítima. A direita precisa de uma vítima para construir seu novo líder ou herói, ou mito como foi Bolsonaro.
A direita precisa de um nome para 2022 e, esse, se bem trabalhado pode ser Mandetta.

Essa é a jogada.

Nessa jogada, – estratégica – como sempre, a imprensa comercial, porta voz e voz da burguesia brasileira, busca a saída de Bolsonaro com a manutenção do modelo econômico neoliberal, por isso poupam ideologicamente críticas ao modelo econômico.

O modelo econômico de Bolsonaro/Paulo Guedes é o deles, mas, entendem que a boçalidade política não.

P.S 1. Acabei (13h30min) de receber uma mensagem telefônica, feita por robô do Ministério da Saúde.

P.S 2. O Ministério da Saúde, através de robôs faz chamadas telefônicas para obter dados e passar informações sobre o coronavírus. Louvável, se não fosse a disputa política entre o Mandetta e Bolsonaro.

O nome do Ministro não é citado nesta chamada, mas, com a cobertura nacional feita pela imprensa comercial e nas redes sociais on-line, que vem recebendo, será raro encontrar alguém que não saiba seu nome.

É a jogada estratégica: a direita, para continuar na disputa tem que ter um líder para 2022.

Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017).  De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.

Publicação original em Dr. Rosinha.

Veja também

Labirinto da extrema direita | Luiz Marques

A classe e a ideologia racista não são as únicas categorias da consciência. A “liberdade de expressão” é o ardil utilizado para propagar o terraplanismo impunemente.

Comente com o Facebook