Abrimos a quarta edição da Revista Democracia Socialista com uma homenagem ao comandante Fidel Castro, que nos deixou na última semana de novembro, com um texto do nosso companheiro Lucio Costa que ressalta sua importância para as lutas dos povos de Cuba, da América Latina e do mundo.
Esta edição está dedicada a temas-chave para a esquerda brasileira. Vivemos uma conjuntura política histórica de desafios imensos para a militância organizada no Partido dos Trabalhadores (PT) na corrente Democracia Socialista (DS). Diferente de qualquer outra que tenhamos atravessado desde a fundação do PT em 1980, nesta conjuntura está questionada a própria existência do nosso partido como ferramenta das grandes transformações sociais que o povo brasileiro cobra. E para os e as militantes da DS só alcançaremos nossos objetivos estratégicos com a conquista de uma sociedade socialista no país e em escala mundial.
Se ao longo do presente século se desenvolveu, no Brasil e em vários países da América Latina, o assim chamado ciclo de governos progressistas, nos dois últimos anos têm se avolumado derrotas para nosso campo. A conjuntura se apresenta no nosso país como uma avalanche ofensiva reacionária em que se combinam a caça judicial para proscrever o ex-presidente Lula, o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma, na sequência a aprovação de medidas legislativas para desmontar o incipiente estado social conquistado a partir da Constituição de 1988, uma feroz campanha midiática em articulação com juízes e procuradores federais para estigmatizar seletivamente dirigentes petistas, que teve seu ponto alto nas eleições municipais de outubro passado, impingindo ao PT, mas também à esquerda em geral, uma ampla derrota.
Essa ofensiva reacionária – no Brasil e em outros países da região – está no marco das iniciativas que as forças do capitalismo imperialista impulsionam na tentativa de superar a crise aberta em 2008. As pressões do capital financeiro sobre as experiências governamentais progressistas que reorientaram as economias buscando construir Estados de bem-estar na periferia do capitalismo têm sido fortíssimas. Enfrentá-las é um desafio para o pensamento estratégico das esquerdas.
Na primeira parte da revista, discutimos o cenário político. Trazemos as contribuições de Juarez Guimarães sobre as forças e fraquezas do governo golpista e de Anderson Campos sobre os adversos resultados das eleições municipais, complementadas com informes de três batalhas eleitorais-chave em que militantes petistas da DS tiveram papel central – Porto Alegre, Fortaleza e Juiz de Fora –, escritos por membros das coordenações dessas campanhas.
Os dois artigos seguintes tratam da situação do partido. A DS é uma corrente que foi fundada em 1979, já com a perspectiva de apoiar a construção do Partido dos Trabalhadores, que seria fundado só no ano seguinte, em 1980. A partir daí suas histórias estão imbricadas, no esforço de fazer do PT a ferramenta de transformação social, com uma perspectiva socialista. Temos que discutir a atual crise em uma perspectiva ampla e histórica. É a tarefa iniciada por Carlos Henrique Árabe e Nalu Faria, que nos entregam um roteiro dos principais temas organizativos e ideológicos que nossa militância deve discutir durante esse período aberto pela crise política e partidária atual. Em seguida, Raul Pont apresenta esses temas em referência ao processo do Congresso Extraordinário marcado para abril de 2017, que Raul Pont chama de nossas tarefas políticas.
Um segundo bloco temático é o da economia. Em artigo em que afirma que os fatos são teimosos, Arno Augustin, apoiado em dados, disseca as decisões erradas que o segundo governo Dilma tomou em política econômica sob pressão da hegemonia do capital financeiro, confundindo politicamente o bloco de apoio do governo, iniciando uma recessão, com o que abriu um flanco para a ofensiva vitoriosa da direita. Havia alternativa? A resposta é “Sim!”. O desacerto na economia se explica pela política de conciliação que se tentou, que, em vez de acalmar o inimigo, o encorajou a ir até o fim em seu objetivo histórico de tentar “acabar com essa raça”, como o senador catarinense fascistoide Jorge Bornhausen havia sintetizado em 2006.
Em outro artigo, trazemos a reprodução de uma palestra que o economista marxista e dirigente do Bloco de Esquerda de Portugal Francisco Louçã fez recentemente analisando a crise econômica e as políticas de austeridade com foco na Europa. Ao publicar esse trabalho, insistimos na necessidade de discutir sobre a conjuntura econômica mundial na perspectiva das ondas longas de desenvolvimento do capitalismo. Continuando o esforço – iniciado no número 3 desta revista – de análise dos sujeitos da resistência ao golpe e de relançamento da luta social, Bruna Rocha, Clédisson Júnior e Tâmara Terso, a partir do acúmulo que realizaram no âmbito do movimento Enegrecer, nos oferecem um panorama da participação política da população negra e dos desafios para uma esquerda que incorpore a luta antirracista.
Por último, publicamos dois artigos, um de Luiz Carlos Mello, outro de Túlio Batista Franco sobre o trabalho de Nise da Silveira, que revolucionou no Brasil uma dimensão-chave da luta libertária, que é o desafio de como abordar os temas da saúde mental sob uma perspectiva humanista; e sobre o Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por ela em 1952 para abrigar as criações dos ateliês terapêuticos que fundou no então Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. O que nos mobilizou para esse resgate foi o recente lançamento de um livro e de um filme sobre a vida e a obra de Nise.
O socialismo que almejamos não será somente político e econômico, mas sobretudo outra vida cotidiana.
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