O pronunciamento de Lula, na tarde do último 7 de setembro, foi o acontecimento de maior impacto para a esquerda brasileira nos últimos meses. Em cerca de 23 minutos, o ex-presidente fez o seu discurso mais importante desde que deixou o cárcere de Curitiba, onde passou quase 580 dias preso injustamente e ilegalmente. Lula cita o escritor francês Victor Hugo, como costumava fazer o presidente Chávez, para afirmar que “é do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos”
Alguns aspectos da fala de Lula merecem ocupar um lugar central no debate do PT e das esquerdas brasileiras. A crítica ao capitalismo e a denúncia da espoliação praticada pelas elites, a defesa da soberania nacional e o rechaço à subserviência aos interesses norte-americanos, a valorização do protagonismo dos trabalhadores e a necessidade de construção de uma alternativa popular são pilares fundamentais da necessária atualização programática do PT.
Mais ainda, Lula alargou o horizonte do discurso. Sem abrir mão da defesa do legado dos governos do PT e do seu lugar na História, aprofundou ainda mais a compreensão sobre as raízes e dimensões da desigualdade no Brasil. Enfatizou o racismo e o extermínio da juventude negra, o machismo e a violência sexista como elementos estruturantes da exploração capitalista.
Falou da sua e da nossa tristeza com quase 130 mil mortes de pessoas contaminadas pelo coronavírus, que retrata muito bem as desigualdades sociais do nosso país pois a maioria das mortes são de pobres, negros, e pessoas vulneráveis e que vivem nas periferias que foram esquecidas pelo o estado desde o golpe de 2016. Lembrou que o colapso só não está sendo maior, devido o papel das trabalhadoras e trabalhadores da saúde do Sistema Único de Saúde, sistema esse que é respeitado mundialmente como modelo de saúde pública.
Como não poderia ser diferente, Lula falou de algo que é tão caro a ele, e que deu origem a sua liderança política, a luta sindical, pois é através dela que garantimos direitos e renda para a classe trabalhadora, é preciso fortalecer nossas organizações sindicais para poder se contrapor a destruição de direitos e da renda da classe trabalhadora.
O pronunciamento esboçou eixos de uma nova síntese e mirou no futuro. Frente a um governo de extrema-direita e ao desmanche acelerado da nação, é preciso reorientar pela esquerda o país e isso só é possível sem arranjos com o “andar de cima”, defendendo intransigentemente a democracia e a dignidade da vida humana. O Estado deve ser promotor de uma agenda universalizante de direitos, e não um mero instrumento a serviço do rentismo, das corporações e do crime organizado.
Ao propor o lugar dos trabalhadores, da soberania, dos direitos humanos, do meio ambiente e do combate às desigualdades na agenda nacional, Lula também se apresentou para o combate. E não só para as eleições presidenciais de 2022, mas para as disputas municipais deste ano e as lutas cotidianas contra o governo Bolsonaro. Cabe ao PT responder ao chamado do ex-presidente e ir além, construindo pontes que possibilitem a formação de uma ampla frente de partidos de esquerda, movimentos sociais, intelectuais críticos, personalidades do setor cultural e ativistas, dando forma organizada ao desejado protagonismo popular (e, onde for possível, dar corpo a esta construção já nas eleições municipais).
Lula deu a senha: a reorientação do país é pela esquerda e com protagonismo popular. A opção intransigente pelos mais pobres, pelo povo negro, pelas mulheres, pelos indígenas, a valorização do SUS, da educação e das empresas estatais, a luta pela igualdade social e pela justiça são as balizas que, fincadas no nosso passado, sustentam a construção das nossas utopias. É urgente retomá-las com todas as nossas forças.
“Fiquem firmes, porque juntos somos mais fortes” Lula
Foto: Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD
Comente com o Facebook