Jornal DS – 19. A saída a partir da renovação do compromisso com democracia e socialismo.
Os entrevistados, Marilena Chauí, Leonardo Boff, Wanderley Guilherme dos Santos e João Pedro Stedile, desvendam o ataque e propõem novos rumos de desenvolvimento dessa experiência, que continua singular. Com a palavra, o autor das entrevistas.
Jornal DS – O que pretende ser a novidade do livro?
Juarez Guimarães – Talvez a grande novidade seja a de, no pluralismo de suas vozes, apontar para uma agenda de renovação e aprofundamento dos compromissos do PT com a democracia e o socialismo.
Em geral, predominou na mídia brasileira uma forte tendência anti-petista ou anti-governo Lula, que levou a um obscurecimento das raízes e dimensões reais da crise vivida. E o próprio PT ficou no meio do caminho de uma avaliação mais profunda e sistemática dos erros cometidos, a partir de seus valores.
Quando Marilena Chauí denuncia a partidarização da mídia e cobra do PT um esforço no sentido de contribuir para a construção de uma ética da política, quando Wanderley Guilherme dos Santos cobra tolerância democrática dos adversários do PT e que este partido esclareça a natureza de seus vínculos com o mundo dos interesses privados, quando João Pedro Stédile reivindica uma nova relação com as lutas sociais e Leonardo Boff propõe a reconstituição de uma cultura plena da emancipação, eles estão configurando, a partir de seus diferentes lugares sociais e na cultura brasileira, uma agenda pública de renovação não apenas do PT, mas da própria democracia brasileira.
Jornal DS – Tomando a entrevista com Marilena Chauí, o que se poderia extrair para o movimento de refundação do PT?
Juarez – O movimento pela “refundação do PT” não significa o retorno à sua origem. Mas sim, pensar os desafios da experiência vivida de governar o país, a partir dos valores fundacionais do PT, de sua identidade, os valores do socialismo democrático.
Qual a pergunta que visita e unifica as quatro entrevistas do livro? É a de qual Estado de transição o PT propõe para se alcançar uma sociedade socialista e democrática. Uma resposta a esta pergunta não é banal e não está ainda configurada na cultura do socialismo. Transitar para uma sociedade socialista a partir e através do aprofundamento da democracia, dos espaços públicos, é uma experiência que ainda não foi vivida pela humanidade. Uma resposta a essa pergunta não pode ser especulativa ou baseada em um “a priori”, em um programa definido previamente à experiência. Pelo contrário, deve dialogar com as experiências de emancipação do povo brasileiro e internacionais, nos planos prático e teórico. E constitui talvez o desafio grandioso e rico de humanidade das nossas vidas.
Jornal DS – Como comparece o tema do socialismo no debate atual?
Juarez – Retomar e desenvolver uma cultura da emancipação anti-capitalista no século XXI é o grande norte da entrevista de Leonardo Boff, que a formula nos marcos da teologia. Certamente, não é preciso apoiar-se na fé para concordar com pontos de vista fundamentais ali expressos.
O fato é que sem cultura socialista, sem a retomada e aprofundamento dessa cultura socialista, o PT fica sem referência para opor às dimensões liberais ou patrimonialistas do Estado brasileiro uma ética do público, pluralista e universal, que permita a máxima auto-emancipação. Essa cultura socialista do PT deveria dialogar e procurar sínteses com a cultura popular brasileira que, em seus momentos mais expressivos, é comunitarista e tece a bela imaginação de uma civilização fundada na felicidade pública.
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