Hoje, no Dia Mundial da Água, no Brasil não há nada a comemorar. Estamos próximos de se completar dois meses do rompimento da barragem da Vale S.A., em Brumadinho (MG) – crime que já deixou 209 mortos, 97 desaparecidos e famílias desabrigadas, além de acabar com a vida do Rio Paraopeba. O seu afluente foi atingido pelos 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho, e os 305 km do rio e moradores de mais de 10 cidades sofrem com diversas consequências que devem se estender pelos próximos anos.
A história não é uma novidade. E se repete no mesmo estado de Minas Gerais, pela mineração e responsáveis envolvidos. Há três anos vivenciamos a morte de um dos rios mais importantes do Brasil, o Rio Doce. 40 bilhões de litros de rejeitos mineração percorreram 400 km da bacia hidrográfica e foram parar no mar, privando do acesso à água, destruindo a vida do rio e prejudicando as populações nas suas adjacências.
Quando um rio morre, morre junto a sua biodiversidade, a cultura e o sustento daqueles que se encontram no seu entorno. Muitas vezes com valores incalculáveis. São violados diversos direitos, prejudicando o acesso à água e a sua proteção.
Sabemos que a mineração gera impactos no cotidiano de trabalhadores e trabalhadoras, mesmo sem acontecerem grandes desastres. Diversos estudos mostram como a contaminação das águas e a degradação do meio ambiente em geral são elementos constituintes da exploração de minérios no Brasil e no mundo, mas eles só são visíveis para a maioria da população quando crimes como o da Vale e da Samarco são manchetes de jornal.
Quando falamos da mineração, estamos falando de impactos que ocorrem em todas as etapas do processo produtivo. Seja no sistema hídrico local como na extração e no transporte, que demandam grandes quantidades de água e juntos geram assoreamento de rios, intoxicações na população e disputa com mineradoras por recursos naturais. Os piores desfechos são crimes como o de Mariana e Brumadinho.
Isto faz parte do modelo de exportação de commodities, tanto mineral como da agropecuária, onde são exorbitantes as quantidades dos recursos naturais usados. No caso da água, no estado de Minas Gerais, especialistas apontam que três minerodutos existentes consomem 8 milhões de metros cúbicos de água por mês, ou seja, uma quantidade que daria para abastecer metade da cidade de Belo Horizonte. Na agropecuária dados apontam uso do 70% da água disponível no mundo.
Uma vez que o Brasil exporta estas commodities exporta também incalculáveis quantidades dos seus recursos hídricos assim como da biodiversidade sacrificada no processo. Os custos de saúde e ambientais desses modelos não são considerados pelos órgãos públicos e muito menos visibilizados, sempre justificados por um modelo de desenvolvimento insustentável.
Daniel Gaio é Secretário Nacional de Meio Ambiente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e militante da DS.
Artigo publicado originalmente em CUT.
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