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Alianças partidárias e pressão nos estados

Boa parte do PT tinha expectativa de que a grande aliança partidária que participa do governo Lula se reorganizasse para dar continuidade ao projeto nacional com a eleição de Dilma e que se reproduzisse nos estados. Isso conferiria às eleições de 2010 a marca da polarização também estadualmente, e o vitorioso programa do governo Lula, imaginavam alguns, poderia, com mais força e coerência, realizar-se no âmbito dos estados.

A composição do PT com PCdoB, PSB e PDT, ou seja, a aliança partidária de esquerda, reproduz-se na grande maioria dos estados. Essa base reflete em seu crescimento as conquistas do Governo Lula, e deve ter papel fundamental no terceiro mandato. O PT cresceu muito sob o Governo Lula, do ponto de vista da identificação programática com esse processo de mudança, e deve reivindicar essa legitimidade ampliada.

Os partidos de centro estão fortemente marcados por lideranças regionais com interesses em determinados estados. Mas o grande problema para a aliança nacional repercutir nos estados é o PMDB. Isso porque, como podemos observar desde o fim do governo Sarney, o PMDB abdicou de liderar um projeto nacional.

Na transição da ditadura militar para a democracia, o PMDB foi o grande partido nacional. O Deputado Ulisses Guimarães presidiu a Assembléia Nacional Constituinte e afiançava o governo Sarney. Em 1986, na esteira do Plano Cruzado, o partido elegeu a quase totalidade dos governadores nos estados. Porém, o mesmo Ulisses Guimarães, candidato a presidente em 1989, fez menos de 5% dos votos.

O PMDB apoiou e participou do governo Collor, dos dois mandatos de FHC e dos dois mandatos de Lula. Muitas vezes, com os mesmos protagonistas. Talvez essa característica traga a enorme dificuldade para as alianças nos estados. A dificuldade começa na interlocução com a direção nacional do PMDB, pois é difícil determinar quem fala e em nome de quê. Mas como política de segurança máxima para a eleição de Dilma, a direção do PT está certa da responsabilidade de fechar a aliança nacional com o PMDB.

O partido que anunciou a Nova República não a concretizou. Reivindica sua presença no processo de redemocratização, mas não sobreviveu com um projeto nacional à crise da transição conservadora nem à polarização social e política iniciada com a eleição presidencial direta de 1989.

Combinações estaduais

Olhando com as informações colhidas até hoje (veja matéria abaixo), o PT participa de coligações com o PMDB em nove estados. Dessas, o PT só lidera em Sergipe. O PMDB tem a cabeça de chapa em quatro estados, o PSB em três e o PDT em um. Em outros dez estados, o PT faz parte de uma coligação e o PMDB, de outra. Dessas, o PT lidera em seis estados. O PSB em dois, o PR e o PP em um cada. No Distrito Federal, PT e PMDB marcharão separados.

Ainda há definições para serem fechadas em Minas e Pará; negociações a serem retomadas no Paraná e Tocantins. No Rio Grande do Norte, O PMDB não apóia nenhuma candidatura ao governo. No caso do Maranhão, há uma definição legítima do encontro estadual do PT e uma tentativa anunciada de alterar o resultado a favor do PMDB.

Conclui-se que a trajetória do PMDB como “grande partido nacional sem projeto nacional” e as coligações atualmente dadas em cada estado não autorizam o PMDB a exigir nenhuma condição para aliar-se à candidatura de Dilma Rousseff. As contradições do PMDB e sua regionalização são tão evidentes que até o deputado Michel Temer – pré-candidato a vice – é de São Paulo, onde o seu partido está com Alckmin e Serra.

Como está a situação hoje nos estados:

AC: O senador Tião Viana do PT, com PCdoB, PSB, PDT, na aliança, enfrenta candidato do PSDB/DEM/PPS e candidato do PMDB.

AL: O ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) com apoio do PT e do PMDB enfrentará o atual governador Teotônio Vilela (PSDB).

AM: O ex-ministro Alfredo Nascimento, do PR, com apoio do PT, enfrenta o candidato do PMN, Omar Aziz, vice do ex-governador do PMDB Eduardo Braga. PSDB/DEM também têm chapa própria.

AP: Camilo Capiberibe, do PSB, com apoio do PT, é candidato. Jorge Amanajás, do PSDB, é o candidato de Serra. O PMDB apoia a candidatura de Lucas Barreto, do PTB.

BA: A reeleição do governador Jaques Wagner, do PT, é contra a candidatura do PMDB, com o ex-ministro Geddel Vieira. Também há candidatura do DEM/PSDB.

CE: O governador Cid Gomes, do PSB, disputa a reeleição com apoio do PT, PCdoB, PDT, PMDB e PTB. Enfrenta candidato do PSDB/DEM.

DF: O PT tem candidato, Agnelo Queiroz, com apoio de PDT , PSB e PCdoB. O ex-governador Joaquim Roriz do PSC ainda aparece como favorito nas pesquisas. O DEM, o PSDB e o PTB ameaçam lançar candidaturas próprias, fragilizados depois do vendaval que varreu e prendeu o ex-governador José Roberto Arruda. O PMDB, recheado de ex-rorizistas e arrudistas, manterá a candidatura do governador interino, eleito indiretamente para concluir o mandato.

ES: A coligação que governa o estado apresenta Renato Casagrande, do PSB, com Givaldo Vieira, do PT, na vice. PMDB, PDT, PCdoB, entre outros, apoiam. O adversário é o ex-prefeito de Vitória, do PSDB, Luiz Paulo Veloso Lucas.

GO: Íris Resende, do PMDB, apresenta-se e tem na vice Rubens Otoni, do PT. Com o apoio do PDT, PCdoB, enfrentam a candidatura PSDB/DEM, Marconi Perillo.

MA: Flávio Dino, do PCdoB, é candidato. O governador eleito em 2006, Jackson Lago do PDT, é candidato com apoio do PSDB. A atual governadora, Roseana Sarney do PMDB, derrotada em 2006, assumiu o governo com a cassação de Jackson Lago e é candidata à reeleição. O Encontro Estadual do PT aprovou a aliança com o PCdoB com maioria de 2 votos, e a minoria afirma que se tornou nova maioria e briga para alterar a resolução num próximo Encontro, a favor da coligação com o PMDB.

MG: Depois de muita disputa, o PT indicou o vitorioso da prévia, Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, como candidato. Ele enfrentará o candidato do PSDB, vice de Aécio Neves, Antônio Anastasia. Hélio Costa, do PMDB, tem exigido ser o cabeça de chapa em aliança com o PT. Porém, é de se considerar que a real força política que enfrenta o PSDB no estado é o PT. Helio Costa aparece nas pesquisas em primeiro lugar, porque já foi candidato ao governo (derrotado) duas vezes e foi Ministro das Comunicações no governo Lula, e essa é a principal alegação do PMDB para defender o nome de Costa. Porém, pesquisas mostram que a diferença entre ele e Pimentel vêm caindo, e há que se considerar que o PMDB é menor do que o PT no estado.

MS: O ex-governador Zeca do PT, em aliança com o PDT, disputará com a senadora Marisa Serrano do PSDB e com o André Puccinelli do PMDB.

MT: Sinval Barbosa do PMDB, em aliança com o PR do ex-governador Blairo Maggi e com o PT, disputará com Wilson Santos (PSDB/DEM/PTB).

PA: A reeleição da governadora Ana Júlia do PT é apoiada pelo PCdoB, PSB e PP. Enfrentará o candidato do PSDB, ex-governador Simão Jatene, com apoio do DEM. A governadora e o PT querem aliança com os partidos que atualmente fazem parte do governo, como PMDB, PTB e PR, que ainda não tomaram posição.

PB: A reeleição do governador José Maranhão (PMDB), derrotado em 2006, mas que tomou posse com a cassação de Cássio Cunha Lima do PSDB, é apoiada pelo PT. Disputará com o ex-prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho do PSB, que tem o apoio do PSDB e do DEM.

PE: A reeleição do governador Eduardo Campos do PSB é apoiada por PT, PCdoB, PTB e PR. Enfrentará a coligação PMDB/PSDB/DEM/PPS, tendo os líderes da oposição Jarbas Vasconcelos, Marco Maciel e Raul Jungmann como protagonistas.

PI: Wilson Martins do PSB disputa a sucessão de Wellington Dias com apoio do PT (o ex-governador é candidato ao senado). Silvio Mendes do PSDB/DEM é o oponente.

PR: O ex-governador Roberto Requião do PMDB (candidato ao Senado), que governou com o apoio do PT, não organizou sua sucessão. O PMDB lançou o vice e governador em exercício, Orlando Pessuti. Beto Richa do PSDB é um forte candidato da oposição, com DEM/PTB/PP. Osmar Dias, do PDT, é o candidato que teria o apoio do PT, com Gleisi Hoffman para o Senado. A dificuldade é que Osmar Dias exige que Gleisi seja candidata a vice-governadora.

RJ: A reeleição do governador Sérgio Cabral do PMDB terá o apoio do PT. Fernando Gabeira, do PV, lidera a coalizão de oposição com PSDB/DEM/PPS. Gabeira é o palanque de Marina e de Serra.

RN: Iberê de Souza, do PSB, vice da ex-governadora Wilma de Faria, que agora disputa o Senado, é candidato com o apoio do PT. Enfrentarão a senadora do DEM, Rosalba Ciarlini. No PMDB, divisão: Garibaldi Alves é candidato a renovar sua vaga no senado e apoia o DEM, enquanto Henrique Alves, líder do governo Lula e presidente do PMDB no estado, apoia Iberê.

RS: Tarso Genro do PT disputará com Yeda Crusius do PSDB e com o José Fogaça do PMDB. O PSB e o PCdoB apoiam Tarso, reeditando a Frente Popular no estado.

RO: Eduardo Valverde do PT enfrentará Expedito Júnior do PSDB/DEM. Confúcio Moura do PMDB também é candidato.

RR: Neudo Campos do PP, com apoio do PT, disputará com José de Anchieta Junior do PSDB, apoiado por PMDB e DEM.

SC: Ideli Salvati do PT, com apoio de PR, PCdoB e PSB, é candidata ao governo. São candidatos: Raimundo Colombo do DEM, Leonel Pavan do PSDB e Eduardo Pinho Moreira do PMDB. Ângela e Esperidião Amim, do PP, estão indefinidos.

SE: A reeleição do governador Marcelo Deda do PT é apoiada pelo PSB, PCdoB e PMDB. Disputará com João Alves do DEM/PSDB/PP.

SP: O senador Aloizio Mercadante do PT, com o apoio de PCdoB, PDT e PR, enfrenta o ex-governador Geraldo Alckmin do PSDB, que tem o apoio do PMDB/DEM/PPS.

TO: Paulo Mourão, do PT, é candidato e Carlos Gaguim, do PMDB, também é. A coligação PSDB/DEM/PR/PV apresenta José Wilson Siqueira Campos.

Postado em 31 de maio e sujeito a atualizações.

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