Está em desenvolvimento a crise do Governo Bolsonaro.
Ela se expressa, de modo mais aparente, no desarranjo e conflito interno no bloco que assumiu o governo. O agrupamento de extrema direita tinha unidade para derrotar o PT, mas está cada vez mais distante de se constituir em direção política do programa simultaneamente ultraneoliberal e ultraconservador. Nunca é demais repetir: não existe programa que se implanta por si mesmo ou somente pela pressão do mercado. As estruturas econômicas não governam a luta de classes. É preciso ter governo (e Estado). Quando não há abre-se uma crise. Essa regra básica da dominação vem desde Maquiavel.
A extrema direita brasileira é uma espécie de jabuticaba, uma peculiaridade. Além de ultrareacionária (e burra), é ultraneoliberal e entreguista. Esse conjunto leva à perda de bases de apoio popular (capturadas nas eleições) e incentiva mobilizações em autodefesa coletiva. Na economia, como previsto, o ultraneoliberalismo só tem feito aprofundar a estagnação, abrindo já o sério risco de levar o país para a recessão. Assim, o próprio programa desestabiliza o governo.
Nem sempre uma crise de governo permite a disputa de uma alternativa democrática e popular. Muitas vezes ela é resolvida no âmbito do bloco no poder.
Seria essa a situação brasileira?
Pensamos que não e lutamos para que não seja mesmo. Consideramos haver forças sociais e políticas para sustentar uma alternativa de esquerda com possibilidade de enfrentar os desatinos e a demência da extrema direita no governo. E de se fazer presente na crise em curso. Essas bases permitiram ao PT e a uma frente real de partidos, setores partidários e forças políticas-sociais expressar outro rumo para o país no 2º turno. Essas condições potenciais continuam presentes.
As grandes manifestações do 15M catalisaram boa parte desses sentimentos e devem impulsionar uma nova rodada de mobilizações culminando na greve geral em 14 de junho. Ao lado o governo continua a erodir em uma progressiva perda de apoio popular.
Buscamos construir a alternativa democrática-popular para intervir na conjuntura de uma crise de governo que está evoluindo. Ela implica em forma — a soberania popular (que significa: devolver ao povo a escolha de um novo governo) deve se impor ao jogo das elites — e conteúdo: uma força política e social deve ser capaz de reconquistar a maioria para um projeto democrático e popular.
Ainda não temos pronta essa hipótese, mas é a sua construção que deve nos guiar. Não estar pronta não significa esperar quatro anos para sua maturação. Ou seja, o tradicional cálculo do ciclo eleitoral não se aplica. Uma crise política desenvolve-se por saltos e não linearmente.
Uma alternativa democrática-popular pressupõe capacidade e clareza para defender sem titubeios outra condução do país. Isso quer dizer, programa e união de forças. Defendemos um programa comum das forças de esquerda e uma frente permanente da esquerda como base para disputar a saída da crise do governo Bolsonaro. O PT deve apresentar-se nesse debate e frente ao povo com o programa — por inteiro e sem cortes — que registrou com a candidatura Haddad. Deve propor a todas as forças — partidos, setores de partido, movimentos político-sociais — que se uniram a Fernando Haddad e Manuela D’ávila, no segundo turno, uma formação frentista permanente.
Nas manifestações que virão devemos gritar, com a juventude, Fora Bolsonaro!
É o repúdio à extrema direita, à barbárie. A agitação antecede e força o desdobramento político. O desenvolvimento da luta de classes não é controlável, desborda o cálculo. Devemos interpretá-lo com ousadia, buscar influenciar ao máximo o seu curso e conquistar a soberania popular com perspectiva de esquerda.
Todos e todas à greve geral!
23 de Maio de 2019, Democracia Socialista – tendência do Partido dos Trabalhadores.
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