Democracia Socialista

Artigo: 15M, um ano depois.

Por Daniel Raventós y Gustavo Búster, publicado originalmente no site SinPermisso. Traduzido por Rodrigo Mathias.

Três longos anos depois do início da grande crise econômica que estamos imersos, um grandioso acontecimento se pôs em curso. Em 15 de maio de 2011, há um ano, surgiu um movimento social que surpreendeu a quase todos. Grande parte da população recebeu a surpresa com grande simpatia. As pesquisas realizadas poucas semanas depois de iniciadas as grandes ocupações das ruas e praças de muitas cidades espanholas, não deixavam dúvidas a respeito do amplo apoio de grande parte da população ao movimento. Mas se as pesquisas eram esperançosas, as mobilizações nas ruas eram mais ainda.

Em maio de 2011 também completava um ano do grande giro à direita do governo do PSOE. Aquele giro foi responsável pela debandada de grande parte da base social que o governo ainda possuia e terminou com o fracasso eleitoral  do PSOE nas eleições de 20 de novembro do ano anterior. Logo após as eleições diziamos que  “os resultados (…) vieram para confirmar que o PSOE sofreu um desastre eleitoral sem prescedentes – muito superior aos prognosticos das pesquisas – perdendo cerca de 4 milhões e trezentos mil votos, enquanto para o PP do senhor Rajoy bastou ganhar meio milhão de votos para conseguir uma maioria parlamentar”. Com o novo governo do PP foram aprofundadas radicalmente as contrarreformas que o PSOE havia iniciado alguns meses antes.

Depois dos primeiros momentos de surpresa, o movimento que já era conhecido como 15 M foi visto com muita hostilidade por parte dos poderes públicos, que optou pela via opressiva. Foi na Catalunha onde a repressão idealizada pelo Conseller Felip Puig adquiriu toda sua magnitude. As imagens da atuação policial no dia 27 de maio de 2011 deram a volta ao mundo. Aquela atuação repressiva foi recebida como uma vitória do movimento, porque a grande presença popular no local do acampamento (a Praça da Catalunha), impediu que a policia desalojasse os protestantes. A simpatia popular pelo acampamento aumentou muito depois deste episódio. Logo vieram as gigantescas manifestações de 19 de junho. O 15 M havia se tornado um elemento de primeira importância na dinâmica social e política da Espanha. As desqualificações do movimento feitas por alguns jornalistas, políticos e acadêmicos foram ridicularizadas pelos feitos alcançados pelos manifestantes. Com muita prepotência eles atribuíram ao movimento a pecha de imaturidade, falta de organização, sectarismo, etc. Considerações que foram rapidamente varridas pelas grandes manifestações e pelas iniciativas do próprio movimento.

Se passou um ano desde o início dos acampamentos e do nascimento do 15 M. Nos últimos dias apareceram varias reflexões nos meios de comunicação sobre o que ainda sobrou daquele movimento. Será que realmente desapareceu o movimento como têm defendido alguns articulistas dos meios de comunicação?  O 15 M foi para o interior dos bairros neste último ano, onde tem amadurecido e recarregado seus motores.

Uma das grandes diferenças a respeito dos “programas”tirados nas mais diferentes assembleias de um ano atrás é a correção de alguns poucos pontos. Cinco, para ser preciso: 1) Nem um Euro a mais para resgatar os bancos; 2) educação e saúde pública de qualidade; 3) não à precarização do trabalho, não às reformas; 4) por uma vida digna e com garantias sociais; 5) renda básica universal. Ninguém pode alegar que estamos diante de um programa radical. É um programa que tenta expressar em poucos pontos as medidas que serviriam para se contrapor à ofensiva que a União Europeia e o governo do Reino da Espanha – completamente submisso aos mercados – têm lançado contra a imensa maioria não-rica da população. São cinco pontos defensivos – quase higiênicos – que, se podem parecer radicais é pela oposição à barbárie econômica e social desencadeada contra a grande maioria da população desde maio de 2010.

Outra grande diferença em relação ao início do movimento é uma maior aproximação com organizações que não estão diretamente ligadas ao 15M. Cabe aqui um destaque especial à aproximação dos sindicatos CCOO e UGT. A participação do 15M na greve geral do último 29 de março, convocada por estes e outros sindicatos, foi muito evidente em algumas cidades. Existem muitas desconfianças – e algumas atitudes demasiadamente cuidadosas do CCOO e UGT não ajudam a rompê-las – porém o estranhamento de parte a parte diminuiu bastante. O terceiro ponto do “programa”antes mencionado, o ponto contrario à reforma trabalhista e à precarização, é um ponto em comum com as reivindicações da greve geral de março. Alguns ativistas do 15M defendem que, mesmo que existam muitas discordâncias com os sindicatos majoritários, é necessário que os movimentos lutem juntos pelos objetivos comuns, mesmo que por caminhos separados. Assim também pensam muitos sindicalistas.

O 15M voltou à cena. O número de pessoas presentes nas manifestações do último sábado, 12 de maio, foram espetaculares. A Praça Catalunya, em Barcelona, e a Puerta del Sol, em Madri, tem sido cenários de um grande número de atos. Isso também tem acontecido em outras praças ao redor do país e pela Europa. Assembleias onde se fala de diferentes aspectos dos cinco pontos programáticos que destacamos acima.

Seria pretensioso apontar alguma previsão sobre como evoluíram os acontecimentos e haverá tempo para o movimento fazer seu balanço e ajustar seu rumo. Enquanto isso, desfrutemos do ar fresco que representou e está representando este grande movimento social que ocupa as praças de muitas cidades. Uma coisa é certa: o 15M veio para ficar e está conseguindo.

*Daniel Raventós y Gustavo Búster son membros do Comitê de Redação do site SinPermiso.