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Artigo: Uma janela para o mundo

219770Por Cláudio Puty, publicado originalmente no jornal O Liberal

Durante décadas, quando o Brasil vivia uma situação de baixo crescimento e estagnação econômica, profissionais e cientistas deixavam o país em busca de melhores condições e ambientes para a produção científica. Era o que comumente se chamava “fuga de cérebros” – uma verdadeira diáspora, como afirmou recentemente o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Nos últimos nove anos, com o crescimento econômico e o grande aquecimento do mercado de trabalho, aumentou enormemente a necessidade de profissionais qualificados para trabalhar aqui. Segundo recente matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, entre 2000 e 2010 a taxa nacional de formação de engenheiros ficou estagnada na casa dos 5% do total de concluintes do ensino superior, enquanto que em países desenvolvidos essa taxa atinge quase 20%.

Tais circunstâncias indicam que estão dadas as condições tanto para se reverter esse êxodo quanto para promover a ida de profissionais brasileiros ao exterior com o objetivo de aprimorar nossa capacidade científica e tecnológica. Foi nesse sentido que o governo federal lançou, no ano passado, o programa Ciência sem Fronteiras, que prevê a concessão de 101 mil bolsas no exterior até 2017. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes) e CNPq serão responsáveis pela concessão de 75 mil bolsas. E o governo espera que outras 26 mil bolsas sejam custeadas por empresas, tanto do setor privado quanto do estatal.

O governo estima investir até R$ 3 bilhões em 20 áreas estratégicas para o desenvolvimento do país, como engenharia, tecnologia da informação e ciências de saúde. As primeiras bolsas se destinam a estudos nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Itália e as áreas escolhidas foram matemática, física, química e biologia. Também terão ênfase as engenharias e as ciências aplicadas, como nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia mineral, petróleo, gás e carvão mineral – fundamentais para a qualificação da mão de obra e o desenvolvimento econômico do país.

Ainda segundo a matéria do Valor, em nove meses o governo já cumpriu 20% de sua meta, enquanto que o setor privado ainda não tirou as bolsas do papel. A Petrobras anunciou que financiará cinco mil bolsas e a Eletrobrás está sondando universidades nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Mas indústrias e instituições financeiras ligadas à Confederação Nacional da Indústria (CNI) e à Federação Nacional dos Bancos (FEBRABAN) garantem que pretendem oferecer mais de 10 mil bolsas nos próximos anos.

Temos um longo caminho pela frente. Embora a produção de pesquisa de alta qualidade tenha aumentado significativamente nos últimos anos no país em diversas áreas do conhecimento, índices importantes para o desenvolvimento ainda estão aquém das nossas necessidades. Um desses índices é a proporção de doutores por milhão de habitantes. Segundo o relatório da UNESCO de 2010, o Brasil tinha 657 doutores por milhão de habitantes em 2007, enquanto que nos países desenvolvidos esse número atingia 3.656 doutores por milhão de habitantes. Ficamos abaixo mesmo da média mundial, que em 2010 foi de 1.081. Isso sem falar de países como a Coréia do Sul, onde havia naquele ano 4.627 doutores por milhão de habitantes; da Rússia, com 3.304 e da China, com 1.071 doutores.

Outro desafio que teremos que enfrentar é a baixa frequência das publicações científicas brasileiras nos debates internacionais, num mundo cada vez mais globalizado. As instituições acadêmicas e centros de pesquisa dos países desenvolvidos e mesmo emergentes, como China, Índia e Rússia, aumentam cada vez mais sua visibilidade na pesquisa acadêmica mundial. Mas as instituições brasileiras, por serem muito novas no cenário internacional, ainda têm uma participação muito tímida nesse processo.

O programa Ciência sem Fronteiras deverá aumentar a visibilidade dos cientistas, profissionais e instituições acadêmicas brasileiras no exterior, estimulando a cooperação e o intercâmbio internacionais. Assim, serão criadas as condições para promovermos um avanço decisivo no desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, sem o que será impossível enfrentarmos os desafios do século XXI.

(*) Cláudio Puty é deputado federal (PT-PA). 

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