LEOPOLDO VIEIRA
“Um partido revolucionário deve necessariamente basear-se na juventude. Inclusive, podemos dizer que o caráter revolucionário de um partido pode ser julgado pela sua capacidade de atrair para suas bandeiras a juventude da classe operária.
(…) Sem sacrifícios heróicos, valor, decisão a história em geral não se move para frente. Porém o sacrifício somente não é o suficiente. É necessário ter uma clara compreensão do curso dos acontecimentos e dos métodos apropriados para a ação. Isso somente pode ser obtido por meio da teoria e da experiência vivida.
O mais contagiante entusiasmo rapidamente esfria-se ou evapora se não encontra uma clara compreensão das leis do desenvolvimento histórico. Freqüentemente, observamos como os jovens entusiastas, ao dar uma cabeçada na parede convertem-se em sábios oportunistas; como ultraesquerdistas desenganados passam em curto tempo a ser burocratas conservadores, assim como pessoas fora da lei se corrigem e se convertem em excelentes policiais. Adquirir conhecimento e experiencia e ao mesmo tempo não dissipar o espirito lutador, o auto-sacrificio revolucionário e a disposição de ir até o final, esta é a tarefa da educação e da auto-educação da juventude revolucionária”
(Leon Trótsky, Carta à Juventude)
1 – As premissas a serem superadas para uma refundação completa
a) É sobre a juventude brasileira que estão pesando os efeitos mais danosos da crise deflagrada em meados do ano passado, pois a expansão do desencanto com a política e com os partidos é maior entre ela. Pesquisas recentes demonstram uma rejeição ao de PT de 60% entre os jovens. Contrastante a ela, a pesquisa publicada pela Fundação Perseu Abramo, em 1999, revelava a juventude como a fortaleza social do petismo. O PT como referência da ética, da justiça social e da rebeldia socialista está duramente em xeque e o acúmulo dos últimos sete anos, pela inanição da SNJ, revela-se incapaz de garantir o mínimo de perdas. No entanto, nem tudo é crise. Se alta é a rejeição ao PT entre a “juventude social”, foi na juventude partidária que a consciência se insurgiu contra os desvios da direção anterior, levando às últimas conseqüências a indignação com o seqüestro do PT.
b) Coadunada negativamente a isso, a juventude do partido possui um enorme déficit organizativo. Não há hoje uma “juventude do PT” organizada nacionalmente e inserida nos movimentos sociais. Uma breve avaliação demonstra o distanciamento e a incapacidade de formular para intervir nas frentes em que atua sua militância jovem. O coletivo nacional convertido numa espécie de casamata da dinâmica burocratizante da juventude do PT.
c) O exponencial crescimento de candidaturas jovens nas eleições passadas, o Projeto Juventude, a Conferência Nacional de Juventude da Câmara dos Deputados, o Programa “Meu Primeiro Emprego”, a criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude do Governo Federal, a publicação dos progressivos anteprojetos de reforma da educação superior pelo MEC, a intervenção da JPT em espaço com as edições do FSM ocorridas em Porto Alegre aconteceram apesar da omissão da SNJ e sem nenhuma interferência organizada da JPT.
d) A falta de canais interativos e organizados entre o Governo Federal e a juventude partidária, cuja responsabilidade recai imensamente sobre a segunda – enfraqueceu ainda mais os laços do PT com a juventude brasileira, posto que desacumulou a potência de canalização social para o governo e da canalização política para o partido.
e) A organização flácida e gelatinosa da SNJ também responde pela atuação pulverizada do petismo no 49º CONUNE e pelo incremento da desarticulação do PT com movimentos juvenis não-tradicionais que se identificavam com ele. Hoje, os jovens petistas não possuem uma estratégia comum para os movimentos juvenis.
f) Toda essa desconstrução da SNJ irradiou uma cultura burocrática extremada na juventude partidária. Nota-se, extrapolando as fronteiras e topografias político-ideológicas internas, que ela irradiou visões do partido como meio de ascensão social, de funções dirigentes como “status” de prestígio e desmando político e pessoal; que sobrepõe a militância profissional – com certa dose de desprezo e desleixo – ao mundo concreto da juventude social, a dizer: o estudo que não a “teoria revolucionária” (ou os relatórios dessa repartição ou daquela agência multilateral do imperialismo) e o trabalho que não a “tarefa” para a qual se é liberado pela máquina partidária e adjacente. Algo que, além de não poder ser mantido pelo PT em virtude da sua crise, só prejudicará no médio prazo a capacidade política coletiva de formularmos a ação política petista na juventude a partir de pressupostos dialógicos com a realidade dela, sem os fetiches da sua condição que já inundam (e mistificam-na) os postulados hodiernos de fazer política junto a esse grupo social.
2 – Quando, enfim, o novo vence o velho.
a) A última gestão da Secretaria Nacional de Juventude do PT foi inviabilizada pela sua direção política eleita em 2001, controladora de mais da metade do Coletivo Nacional da JPT. Os motivos são notoriamente sabidos: inabilidade administrativa, recusa à iniciativa, prática de maioria presumida para deliberar etc. Sendo assim, todas as tendências petistas que compuseram o Coletivo Nacional durante aquele período, com exceção das que orbitavam em torno do ex-Campo Majoritário, ficaram impossibilitadas de operação política.
b) Ano passado, contudo, o Encontro Nacional da JPT rejeitou aquele modo de gestão política, que dividia a juventude partidária, obliterava consensos e formulações coletivas e se apropriava de modo obscuro e patrimonialista dessa instância do PT. Ali foi derrotada não uma tendência, mas uma cultura política, a mesma que protagonizou a crise atravessada pelo partido em 2005. Tal derrocada contou, inclusive, com a decisiva participação de opiniões dissidentes do ex-Campo Majoritário, por questões que variam desde a solidez de opiniões mais idealistas, que se recusaram a calarem-se diante da disciplina da direção da velha maioria até opiniões que se disfarçaram disto para travar uma disputa pelo controle do espólio da juventude dessa ex-maioria.
c) Desde a posse do novo Secretário e Coletivo Nacional de Juventude do PT, observa-se uma alteração qualitativa relevante na juventude partidária. O antigo debate sobre concepção de juventude renasceu e floresce entre velhas e novas teses há tempos esquecidas no altar do pragmatismo. É impossível determinar de antemão qual opinião se sagrará vencedora numa reunião da instância, o que força o exercício do consenso progressivo e desafia a capacidade de formulação das tendências e integrantes do Coletivo Nacional de Juventude do PT. A conduta republicana é flagrante e o trânsito dialógico permanente. E pelo que discursa e escreve, a JPT estará bem distante da correia de transmissão das iniciativas – a despeito de positivas, atrasadas ou não – do governo na seara juvenil e tentará ao máximo se pôr na vanguarda dos combates da juventude brasileira. E, afinal, o clima político está longe de qualquer sombra de revanchismo.
3 – A importância do investimento na juventude no contexto da crise de do PT
a) A juventude é a fase de formação da personalidade e um grupo social disposto – por inúmeros motivos de ordem psicossocial – ao sacrifício engajado e à abnegação pelas causas que encorajam seu comportamento. Logo, centrar fogo nela é a possibilidade de recuperarmos o espírito ofensivo que precisamos para superar a crise e semear essa superação nas novas gerações que seguirão ao processo de formação da juventude. Isso foi gravemente interrompido pelos acontecimentos e estancar a sangria da incredibilidade do PT junto à juventude é um passo seguro para a recuperação do patrimônio ético e político do partido junto à sociedade brasileira.
b) A alteração política na condução da SNJ imporá à nova gestão uma movimentação política mais coletiva e “realizadora” e, nesse contexto, as condições políticas de são as melhores. Não se devem permitir espasmos de comportamentos onde se tente forjar um campo político para, sob certa “direção”, “dar a linha” para o coletivo. O momento pede unidade para produzir política. É preciso que, todos os novos membros da instância e suas respectivas tendências “vistam a camisa” da nova SNJPT e lancem todas as suas fichas na reconstrução da juventude partidária enquanto tal, superando a relação utilitária guarda-chuvista.
c) Essa somatória de fatores, num ano eleitoral em que se corre o risco de reelegermos do presidente, é uma objetividade que não pode ser ignorada por todos, pois muitíssimo poderemos nos impor na campanha de 2006 e no próximo programa de juventude do Governo Federal.
4 – As medidas arrojadas da refundação socialista da JPT
a) Restabelecer o funcionamento democrático das instâncias da Juventude Petista de modo que retome no sentido da teoria e da ação, com uma estratégia nitidamente definida e a partir de um “corte de juventude” temas como gênero, etnia, orientação sexual, cultura e arte, meio ambiente, reforma da educação superior ação, mundo do trabalho, questão rural etc. Além dos tradicionais assuntos como concepção de juventude, PPJ, canais de diálogo, cultura de movimento e ação nas pastorais de juventude, dirigindo a diversidade petista no sentido das sínteses pela esquerda de matiz revolucionário ao máximo possível.
b) Ofuscar as visões utilitaristas da juventude, as concepções que a tomam como um “estado de espírito” , como coadjuvante da luta de classes, como o grupo dos “desocupados do partido”, dos animadores dos comícios etc.
c) Tornar a juventude do PT protagonista da formulação das políticas que serão implementadas no Governo Federal e outras dimensões da institucionalidade, qualificando nossas campanhas eleitorais para o executivo ou legislativo e subsidiando quem já se encontra nas funções de Estado.
d) Impor uma nova dinâmica nas campanhas eleitorais do PT para a juventude nas quais, por um lado, promovam-se avanços no sentido de uma integração nacional da linha de campanha, de uma organização mais aperfeiçoada e centralizada, com capacidade de planejar e agir de modo eficiente e coeso e, de outro, determine o protagonismo da JPT em elaborar seu programa, material e linha de campanha.
e) Produzir um projeto político comum que privilegie a aliança dos petistas dentro dos movimentos da juventude, com ênfase em reelaborar uma plataforma e uma estratégia que vise à retomada da UNE em longo prazo pela juventude do PT, o que não significa louvar posições sectárias em relação a atual direção da entidade.
f) No plano das relações internacionais, A intervenção da SNJ deve ser de dar mais organicidade às articulações já existentes como o FJPM, com o mais efusivo conteúdo antineoliberal e socialista sob a direção da reconstrução socialista da JPT. Na América Latina, toda a vanguarda juvenil nos mais diferentes países tem no PT uma das suas principais referências, e a construção de laços orgânicos entre essas juventudes de diferentes processos trarão um acumulo de consciência e experiências de lutas para todo o continente. Mas, aqui é preciso que o partido se imponha mais sobre os demais partidos da esquerda brasileira. Chamá-los a construir o FJPM, por exemplo, mas sob o devido controle e limite da direção petista.
g) Assumir a perspectiva de “partido dirigente na juventude”. Ou seja, recolocar a Juventude Petista na dianteira das lutas juvenis pelo passe-livre, contra o desemprego de inserção, contra a redução da maioridade penal, por educação de qualidade, dos protestos antiimperialistas e anticapitalistas etc. A juventude do PT usará broche e empunhará as bandeiras do partido toda a vez que organizar um combate juvenil. Não é questão de ter “vergonha” ou não de ser petista, mas de expor que a juventude do PT não apenas está presente nas lutas juvenis, como as lidera ou pretende-se líder.
h) Investir pesadamente na formação política da juventude partidária, sob os eixos de “partido”, “socialismo” e “juventude”, porém resgatando os clássicos, conceitos elementares e história do socialismo principalmente nos dois primeiros temas. Assim, “partido” é o Manifesto de Fundação, mas é também conhecer a teoria de Lênin e Rosa Luxemburgo. “Socialismo” é o “Socialismo Petista”, mas também tem a ver com o famoso manifesto de 1848, com “O Programa de Transição” e com “O Estado e a Revolução”.
5 – Breves contribuições ao Plano de Trabalho da nova SNJPT
O novo coletivo nacional da Juventude Petista precisa ser planejado (esforço já posto em marcha), ter metas de trabalho e suporte dirigente para que se posicione no centro da formulação da linha de massas do PT para a juventude. Para isso, cabem alguns objetivos e tarefas:
a) Acompanhamento permanente do andamento das secretarias e coletivos de juventude, de nossos gestores em PPJ de todos os níveis da administração pública, estabelecendo uma coordenação geral de intervenção para engendrar um padrão comum de comportamento e linha política.
b) Organizar periodicamente nos estados e cidades debates – com presença do novo coletivo – debates sobre PPJ, JPT e outros temas de relevância conjuntural e para o público jovem.
c) Acompanhar todas as iniciativas do Governo Federal e Congresso Nacional relacionada à juventude, produzindo material orientador sobre elas e organizando a nossa intervenção diante dessas ações.
d) Utilizar os espaços na imprensa partidária para publicações de temas relativos à juventude e PPJ.
e) Acompanhamento presencial das campanhas de juventude de candidaturas majoritárias do PT.
f) Incentivar, acompanhar e coordenar o lançamento de candidaturas jovens ao legislativo.
g) Pôr em marcha um plano permanente e periódico de formação política básica da juventude do PT nos estados, combinado com plenárias de filiação para qualificarmos e potencializarmos o crescimento nessa frente.
h) Organizar um Grupo de Trabalho de juventude do PT em cada estado em que não exista secretaria organizada ou que até a metade do mandato da SNJ estejam inativas, com a função específica de organizar a intervenção na juventude, nos debates de PPJ e na articulação dos movimentos juvenis. A essa instância caberia, também, montar o calendário do plano de formação e plenárias de formação referida acima. Ela cumpre um papel gerencial e não de substituir os fóruns formalmente existentes ou a perspectiva de organizá-los e/ou incentivá-los ao funcionamento.
i) Inibir na juventude do PT os comportamentos burocráticos, estimulando o estudo e o trabalho como meios de vida real e aproximação concreta com o lócus em que vive a juventude social, estabelecendo critério para a ocupação de funções determinadas, pelo menos, pela relação do militante em questão com duas das três dimensões da prática social: o estudo, o trabalho e a ação política.
Leopoldo Vieira é membro do Coletivo Nacional de Juventude do PT