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As violências sobre as mulheres

Em uma semana, tivemos duas notícias trágicas que envolvem a opressão sobre as mulheres – que ainda há quem se recuse a enxergar. Mas o mais trágico é que casos como esses, diferentes entre si, repetem-se com uma indesejável frequência.

Alessandra Terribili *

Uma mulher foi morta pelo seu ex-companheiro, mesmo após registrar inúmeras denúncias, depois de recorrer à Lei Maria da Penha, depois de instalar, ela mesma, câmeras de vídeo, com intenção de se proteger dos anunciados ataques.

A cena do homem transtornado entrando no local de trabalho da ex-companheira e atirando nela a sangue frio chocou Minas Gerais e o Brasil. Especialmente por se tratar de um típico caso de “crônica de uma morte anunciada”. Agora, ele está preso. Mas agora, ela já está morta.

As pessoas devem ter ouvido falar nas vezes em que juízes não aplicaram a Lei Maria da Penha – uma conquista das mulheres brasileiras – e alegaram sua suposta “inconstitucionalidade”. Se é assim, não sei mais o que é Justiça. Os tristes dados estatísticos sobre violência contra mulheres atestam veementemente que o machismo existe, é explícito e se expressa concretamente. Justiça é atuar de verdade para combater essa realidade. Justiça é sonhar com um mundo onde igualdade não seja discurso barato de “respeito à diferença”. Diferença que me inferioriza, muito obrigada, não quero. Fique com ela.

Violência sexista é uma das formas mais crueis que tomam o machismo e a opressão. E o ato de violência, quase sempre, é precedido por ameaças ou outros indicativos de que vai acontecer. Grito é violência. Perseguição é violência. Tortura psicológica é violência. E a dita “Justiça” em nosso país deveria trabalhar para impedir que a violência aconteça.

As mulheres são vítimas de violência porque são tratadas como propriedade de um homem. Como objetos que devem obedecer a um senhor. Se saírem da linha, a punição é a violência. Se o mundo sai da linha, a violência é sobre a mulher. Se o álcool sai da linha, a violência é sobre a mulher. Nada é atenuante. Ninguém enche a cara e vai bater no chefe.

Nessa lógica de ser objeto, está uma outra morte de mulher acontecida nesta semana: a jornalista que se submetia a uma cirurgia de lipoaspiração. A ânsia de corresponder a um padrão, de se encaixar numa forma, pode chegar a esse nível de pressão.

Tem aquele discurso bobo e liberal: “se ela vai se sentir melhor, deixa ela fazer”. E tome intervenção cirúrgica, medicalização… como se essas coisas não tivessem impacto sobre a saúde da indivídua! Como se fosse natural modelar corpos em série! Como se fosse destino das mulheres ter que se adaptar a exigências que o mercado, legitimado pelos grande meios de comunicação, impõe.

Natural é que a gente reaja a isso. “Somos mulheres, e não mercadoria”. A pressão por um corpo correspondente ao padrão mata. Matou muitas mulheres em mesas de cirurgia, matou muitas mulheres de depressão, matou muitas mulheres de anorexia. Vez ou outra a mídia aborda um desses casos e provoca comoção nacional. Mas não se comove com o contexto de opressão representado em cada um deles.

Pelo fim de todas as violências que as mulheres sofrem, a solução é o feminismo. É a organização das mulheres para conquistar a igualdade e a justiça. É a presença feminista das mulheres em todos os espaços em que estão. É uma leitura feminista de mundo. É a luta feminista pra mudar o mundo, e, assim, mudar a vida das mulheres.

Não podemos permitir que novas Islaines, Lanusses, Eloás, Ana Carolinas paguem o preço de fingirem que a desigualdade e o machismo são peças de ficção.

* Alessandra Terribili é integrante da Secretaria Nacional de Mulheres do PT.

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