Três eleições mostram crescimento da esquerda na América do Sul.
No mesmo 31 de outubro, a oposição venceu pela primeira vez a disputa presidencial no Uruguai,tendo à frente Tabaré Vazquez do Movimento Participação Popular; os setores que apóiam Hugo Chávez na Venezuela ganharam a disputa em 20 dos 22 dos governos estaduais e a votação das forças de esquerda no Chile também cresceu nas eleições para prefeito e vereador.
A Frente Ampla no Uruguai foi eleita com 51% dos votos, já no primeiro turno, e conta com maioria parlamentar. Entretanto, há sinais de uma “via brasileira”. O indicado como o Ministro da Economia, Danilo Astori, já declarou que “controle da in flação, superávit primário e cumprimento dos compromissos com os organismos financeiros internacionais não são instrumentos exclusivos da direita, e também podem ser aplicados pela esquerda”.
Do Chile vêm sinais de novidades. A frente criada pelo Partido Comunista e pelo Partido Humanista alcançou a mais expressiva votação registrada pelas esquerdas que estão fora do governo.
Mudanças na América do Sul
Tabaré leva pela primeira vez oposição uruguaia ao poder.
As forças de esquerda avançam eleitoralmente na América Latina. As evidências vieram no mesmo domingo, 31 de outubro, do Uruguai, da Venezuela e do Chile.
Tabaré Vázquez, candidato da Frente Ampla, chegou à presidência do Uruguai no primeiro turno. Na Venezuela, os setores chavistas conquistaram 20 dos 22 governos estaduais que estavam em disputa e ainda avançaram no nível municipal. No Chile, a esquerda que está fora do governo teve uma votação de quase 10 % do eleitorado. Há, de fato, nesses processos, elementos comuns, mas também diferenças de ritmos políticos que merecem ser estudados.
A marcha da Frente Ampla
Tabaré Vázquez ganhou no primeiro turno com 51% dos votos e terá maioria parlamentar. Uma outra especificidade do caso uruguaio é que a principal força entre aquelas que se uniram para eleger Tabaré é o Movimento de Participação Popular. Criado nos anos 80 pelos Tupamaros, o MPP conta entre seus principais quadros com ex-dirigentes da guerrilha que passaram mais de uma década nas prisões em condições inumanas.
Desde a volta da democracia nesse país, em 1982, os Tupamaros defendem uma tese – a da “Frente Grande” em aliança com setores médios e da burguesia, contra a “pátria financeira”, para favorecer a produção como parte da fase da “libertação nacional” – que agora vêem se concretizar. Outra característica do caso uruguaio é que no mesmo dia da eleição presidencial aconteceu um plebiscito nacional no qual mais de 64% dos eleitores se posicionaram contra a privatização da água.
No entanto, sinais de uma “via brasileira” no Uruguai existem. Meses antes das eleições, Tabaré – dentro da lógica de “acalmar os mercados” – convidou para ser seu ministro de Economia Enrique Iglesias, presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e grande impulsionador do neoliberalismo no continente nos anos 90. Iglesias não aceitou. A segunda opção foi o senador Danilo Astori, economista moderado que, em vários momentos nos últimos anos, polemizou publicamente ao apoiar teses conservadoras contra a maioria da Frente.
A escolha de Astori foi uma sinalização evidente e ele é muito claro: “A experiência do governo Lula mostrou aos uruguaios que a esquerda pode chegar ao poder e fazer mudanças sem sobressaltos”. Para ele “questões como o controle da inflação, o superávit primário e o cumprimento dos compromissos com os organismos financeiros internacionais não são exclusivamente da direita, também podem ser aplicadas pela esquerda. O problema é como (…), com que sistema tributário e com que redução do gasto público”. A chance de não ser uma versão mais setentrional de Palocci estaria no fato de que Tabaré terá maioria parlamentar – ainda que não os necessários 3/5 para algumas mudanças estruturais.
Os setores que se reivindicam como “esquerda radical” dentro da FA tiveram uma votação pequena (3% dos votos da Frente) e, apesar do seu descontentamento com a linha anunciada há meses, afirmam que buscarão (para usar um termo conhecido nosso) “disputar rumos” do governo e da Frente.
Venezuela e Chile
Na seqüência das vitórias de Hugo Chávez no referendo e nas eleições regionais e locais, seus aliados ganharam a disputa em 20 dos 22 estados venezuelanos e avançaram também no nível municipal. Essas vitórias acontecem num contexto em que o presidente radicaliza seu discurso social e econômico, fazendo prever a abertura de um período de fortes enfrentamentos com a direita.
Chile, o laboratório neoliberal da América Latina, dá sinais do novo. A frente criada pelo Partido Comunista e pelo Partido Humanista, Poder Democrático e Social (PODEMOS) atingiu 9,10% nos votos para vereadores e 5,91% na votação para prefeitos. Trata-se da mais expressiva votação registrada pelas esquerdas que estão fora do governo. Ao mesmo tempo, os partidos da Concertação (Democracia Cristã e Socialista) avançaram sobre a direita pinochetista. Totalizadas as votações majoritárias, o resultado foi 45% a 37%.
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