O longa Bacurau, vencedor do Prêmio do Júri no 72º Festival de Cannes e Melhor Filme no Festival de Cinema de Munique, vem atraindo o grande público com sua trama surpreendente e envolvente e sua linguagem direta. Mas conquista principalmente por suas referências ao cenário nefasto que se desenha no Brasil e em outros países do mundo onde a extrema direita está no poder. Culto à violência com porte de armas liberado, xenofobia, ataque aos direitos humanos, políticos vendidos aos interesses norte-americanos, o lobby da indústria farmacêutica que prejudica a saúde coletiva, racismo, preconceito contra os nordestinos e o complexo de vira-latas estão todos explícitos nesta obra ficcional.
Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais no mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.
O filme, dirigido por Kleber Mendonça Filho ( de Aquarius e O Som ao Redor) e Juliano Dornelles, é subversivo como foi Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol, remete ao desejo e necessidade de resistência quando tudo parece ter chegado ao fim diante dos ataques a toda uma comunidade.
Nas palavras de Mendonça Filho em entrevista concedida ao jornal A Tarde, publicada em 10 de agosto:
“A gente captou uma energia, um estado de espírito do Brasil. Muito do futurismo do filme é passado, corrupção, violência, falta de respeito, falta de educação, problema da água no sertão. Tudo que está em Bacurau é bem antigo, já vem sendo abordado ao longo dos anos com Luiz Gonzaga, Euclides da Cunha, Dias Gomes, O Bem-Amado, Glauber. Mas como estamos vivendo uma época de retrocesso, é quase como se estivéssemos num Brasil retrô. O filme é futurista e o Brasil é retrô. O que é triste, né? A gente sempre acha que as coisas vão para frente. É muito estranho perceber que há um trabalho para piorar. Isso é que não dá para entender.”
Bacurau
Produção: Brasil, 2019
Direção e roteiro: Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles
Prêmios: Prêmio do Júri, ARRI/Osram Award for Best International Film e Melhor filme no Festival de Munique
Publicação original: https://fpabramo.org.br/2019/09/10/bacurau-um-filme-futurista-no-brasil-do-retrocesso/