Lúcio Costa
O poeta, jornalista e funcionário público, Mario Benedetti, que, aos 88 anos, continuava ativo – produzia novo livro sob o título Biografia para Encontrar-me – se foi em 17 de maio, nos deixando seus escritos a povoar nossos recuerdos, inspirar nossas lutas, iluminar nossas alegrias e amores.
Nascido em 1920, na cidade de Paso de los Toros, no Uruguai, iniciou sua carreira em 1948. Tornou-se célebre em seu país em 1956, com a publicação da coletânea de versos Poemas de Oficina.
Internacionalmente, Benedetti ganhou reconhecimento com a publicação da obra A Trégua. Ao longo de sua carreira, escreveu cerca de 80 livros, entre romances, contos, ensaios literários, coletâneas poéticas e roteiros cinematográficos.
Benedetti foi um dos mais importantes escritores não só de seu país, mas de todo o continente latino-americano, junto a Gabriel García Márquez, Mário Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Júlio Cortázar, Octávio Paz e Roa Bastos.
Mario Benedetti viveu e escreveu em tempos de golpes e resistências. Com a ditadura uruguaia, foi obrigado a exilar-se, em 1973, tendo vivido no Peru, Argentina, Cuba e Espanha. Permaneceu no exílio durante doze anos.
As relações do poeta com Cuba foram muito estreitas. Lá viveu de 1967 a 1968, tendo sido membro do Conselho de Direção da Casa das Américas – instituição na qual fundou e dirigiu o Departamento de Literatura Latino-americana. Durante o exílio, em 1976, voltou a viver em Cuba. Residiu em Havana até 1980, quando foi à Espanha.
Na relação do poeta com Cuba, vê-se nítida a solidariedade dos povos latino-americanos com Cuba. Benedetti dizia ser aquela a “sua revolução” e, destacando a importância daquele processo revolucionário, afirmava que, “com a revolução cubana, o marxismo passou a falar em espanhol”.
Hoje, compartindo da reflexão do poeta, podemos dizer que a Revolução Cubana foi um dos passos decisivos para um marxismo construído desde o Sul, pensado a partir de nossas realidades, vivido desde nossas culturas, que tenha a sonoridade e a poesia do quéchua, do ayamara, do guarani e do variado português falado no Brasil.
Hugo Chávez, falando sobre o significado da obra de Benedetti, disse que “com ele aprendemos – entre muitas outras coisas – a não deixar cair às pálpebras, pesadas como julgamentos, uma frase que sintetiza a sua ação. Pois viveu sempre vigilante do que o rodeava e profundamente comprometido com a realidade de todos os povos de Nossa América. Com palavras proféticas, disse infortúnios e medos, assinalou o terrível, mas também defendeu em diversas ocasiões as alegrias e esperanças dos seus, respondendo a essa aguda consciência que foi retratada na sua obra com fino entendimento da realidade do homem e da mulher comuns, de nossos Povos, é esse o legado que transcende e, ao mesmo tempo, o consolo que nos deixa”.
Benedetti nos deixou o legado sua poesia, de seu compromisso com a esperança e a utopia que, como disse Galeano – outro mestre uruguaio da palavra –, ensina e convida a caminhar.
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