Notícias
Home / Temas / Eleições / Bolsonaro comete ‘estelionato eleitoral’ nos combustíveis, afirma FUP | Tiago Pereira

Bolsonaro comete ‘estelionato eleitoral’ nos combustíveis, afirma FUP | Tiago Pereira

Governo deve segurar os preços da gasolina e do diesel até as eleições. No mês que vem, no entanto, brasileiros serão chamados a pagar mais caro, para garantir o lucro dos investidores.

Isac Nóbrega/PR/José Cruz/Agência Brasil

Na semana passada o preço da gasolina nos postos de combustível do país teve alta de 1,47%, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O aumento dos preços é consequência da alta do petróleo no mercado internacional. Assim, distribuidores e importadores já reajustam preços dos combustíveis, repassando aos consumidores. A Petrobras, no entanto, não anunciou aumento dos preços dos combustíveis que saem das refinarias. Mas esse “refresco é apenas momentâneo”, e está diretamente ligado ao calendário eleitoral do país.

Sem abandonar a política de Preço de Paridade de Importação (PPI), a tendência é que a estatal aumente os preços dos combustíveis assim que passar as eleições. Trata-se, portanto, de uma espécie de fraude que busca favorecer o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Como o governo Bolsonaro não mudou a política do PPI – e só baixou e segurou preços por motivos eleitoreiros –, é de se esperar que a Petrobras aumente os preços dos derivados nas refinarias, após as eleições”, analisa o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar. “Até lá, o governo seguirá com o uso político da maior empresa do país, seguindo com a prática peculiar de Bolsonaro de estelionato eleitoral”, afirmou ele.

“Está claro pra todo mundo que a Petrobras está, sim, segurando os preços. Se o preço do barril tivesse caindo, como caiu meses atrás, ela reajustaria rapidamente. Quando o preço sobe, no entanto, a Petrobras não acompanha na mesma velocidade. Então, sim, a gente pode entender como um processo de estelionato. Porque, na verdade, eles não estão cumprindo aquilo prometeram”, afirma o economista Cloviomar Cararine, da subseção do Dieese na FUP.

Defasagem

De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina praticado no Brasil está 5% defasado, na comparação com o mercado internacional. Para voltar à paridade, o reajuste médio no país deveria ser de R$ 0,18 por litro. No diesel, a defasagem é ainda maior, de 12% em média. Assim, para manter o PPI, a Petrobras deveria aumentar em R$ 0,70 o litro nas refinarias.

O movimento dos preços praticados pela Refinaria Mataripe, em São Francisco do Conde (BA), também desnuda o jogo eleitoreiro praticado neste momento. O governo Bolsonaro privatizou a refinaria em março do ano passado para o grupo Mubadala Capital. Desde dezembro passado, a Acelen, que controla a refinaria, vem praticando preços livres, em consonância com o mercado internacional.

Desse modo, a empresa já fez dois reajustes sucessivos. No último sábado (15), a empresa elevou o preço da gasolina em 2%. Já o diesel-S10 subiu 8,9%. Na semana anterior, gasolina e diesel tiveram seus preços aumentados em 9,7% e 11,3%, respectivamente.

Cenário externo

Essas variações têm relação com a flutuação dos preços do petróleo no mercado internacional. No primeiro trimestre, com a eclosão da guerra na Ucrânia, o barril do tipo brent chegou a US$ 130. Assim, os preços da gasolina e do diesel subiram nos meses seguintes. A partir de junho, no entanto, o barril passou a custar menos de US$ 100. Em setembro, o barril do petróleo caiu para US$ 82, menor valor desde janeiro. Foi nesse período em que a Petrobras realizou sucessivas reduções dos preços dos combustíveis no Brasil. Sem falar na redução artificial, a partir da aprovação do teto do ICMS sobre combustíveis e outros serviços essenciais.

O cenário internacional, no entanto, mudou novamente. Diante da queda da atividade econômica mundial, além do receio de recessão nos Estados Unidos, que contribuíram para a desvalorização do petróleo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) anunciou no início deste mês um corte de produção de 2 milhões de barris de por dia (bpd) a partir de novembro. Assim, o barril saltou para quase US$ 100 há cerca de 10 dias, e hoje está cotado em cerca de US$ 92,50.

Com o agravamento do conflito no Ucrânia, e perspectivas de crise energética na Europa, em função dos embargos contra a Rússia, o preço do petróleo no mercado internacional deve manter tendência de alta, o que torna inevitável o aumento dos preços no país, caso a Petrobras não abandone o PPI.

Pós-eleição

Desse modo, passado as eleições, principalmente em caso de derrota de Bolsonaro, a Petrobras deverá subir os preços até o fim do ano. Se Bolsonaro vencer, a situação também é parecida, segundo Cararine. A mudança viria somente a partir do ano que vem, em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já se comprometeu a “abrasileirar” os preços dos combustíveis, abandonando o PPI.

A estatal vem aplicando o PPI desde 2016. Desse modo, a companhia repassa as variações do petróleo no mercado internacional – com cotação em dólar – diretamente ao consumidor brasileiro. Além disso, o PPI também considera custos de logística para importação que são inexistentes.

Contudo, os custos de extração, produção e refino são em real. A dolarização dos preços dos combustíveis no Brasil representa a defesa – por parte dos governos Bolsonaro e Temer – dos interesses dos acionistas da Petrobras e também dos importadores. Mirando sempre os preços mais altos possíveis, a companhia garante lucros exorbitantes aos seus investidores privados. No segundo trimestre deste ano, por exemplo, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 54,3 bilhões e distribuiu R$ 87,8 bilhões em dividendos aos acionistas. É essa farra, às custas do bolso da maioria dos brasileiros, que Lula pretende pôr fim, se eleito.

Via Rede Brasil Atual

 

Veja também

Resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores

Leia a íntegra do documento aprovado na reunião do Diretório Nacional do PT realizada no …

Comente com o Facebook