Polarização estadual repetiu-se na cidade do interior gaúcho.
A primeira explicação da nossa derrota é a unificação do bloco de partidos anti-PT a partir do governo Olívio Dutra. O tema dos incentivos fiscais, o fim das privatizações, a priorização da agricultura familiar e a tentativa de construir uma segurança cidadã abriram conflitos explosivos. A falta de habilidade para lidar com alguns desses temas reforçou a estigmatização do PT desenvolvida pela mídia e pela direita.
O PMDB lidera o conservadorismo gaúcho, com apoio de partidos aliados ao governo Lula, como PTB e PL. Esta aliança foi ampliada pelo PPS e PDT no governo Germano Rigotto. O PPS foi tomado de assalto pelo Brittismo. O PDT resolveu seu confronto em favor da ala conservadora, tanto durante o governo Olívio, provocando a saída da sua esquerda para o PT, como na oposição Brizolista ao Governo Lula.
O cenário estadual refletiu-se nas alianças locais. A recusa do PT em ceder a vice-prefeitura para o PDT em 2000 (derrotando a posição da DS) gerou ressentimentos, uma vez que desde 98 integrava o governo em Caxias do Sul. A definição da candidatura Marisa (vice-prefeita de 97-2000) e Mário (ex-PDT), ambos do PT, deu-se por consenso. Duas pré-candidaturas retiraram-se para evitar as prévias. Uma delas contava com simpatia de parte da DS, mas a tendência não conseguiu unificar posição. Apesar de procurar partidos da base do governo Lula, o PT só atraiu o PMN. PCdoB e PSB nos apoiaram no segundo turno.
Despolitização
A alta aprovação da Administração Popular (68% de ótimo e bom) levou a uma estratégia de consenso no primeiro turno: candidatura de defesa da continuidade, mostrando o quanto a cidade melhorou, apresentando propostas para o futuro, evitando provocações e ataques desnecessários. Marisa saiu do terceiro lugar nas pesquisas para vencer o primeiro turno, embora abaixo dos percentuais de 96 e 2000.
No segundo turno, esta estratégia era insuficiente, mas a coordenação da campanha, na qual éramos minoria, não compreendeu que era preciso mudá-la. Os adversários exploraram temas locais, como o déficit conjuntural (em 2002) da estatal municipal dirigida pela nossa candidata. Atacaram a saúde, área com enorme avanço sob nosso governo. Produziram uma armação política com suposta tentativa de compra de voto por parte do PT. Valeram-se de panfletos anônimos caluniosos. Estes ataques não foram respondidos ou o foram de forma insuficiente.
A campanha, em geral, foi despolitizada, com foco em quem era o candidato mais competente. O PT ressaltou o currículo da Marisa, seu compromisso com a continuidade e suas propostas para o futuro. Eles, afirmando o seu candidato, colocando em dúvida a capacidade da Marisa, sem apresentar seu programa,dizendo que iam manter o que é bom (até o OP) e mudar o que fosse preciso. Não demarcamos campos ideológicos, não denunciamos as administrações que nos antecederam, não contrapomos a era FHC frente aos ataques ao governo Lula, não questionamos o governo Rigotto, nem seu descaso com a saúde quando atacaram o SUS municipal. A despolitização influenciou a baixa mobilização e facilitou a estratégia adversária.
Vitória política
Sofremos uma derrota eleitoral, não política. Para nos derrotar apresentaram-se como continuadores de bandeiras do PT, sem mudanças radicais. Fizemos 47% dos votos (vencemos nos bairros operários e populares, perdemos nos ricos e de classe média), elegemos a maior bancada de vereadores de nossa história (35,29% da Câmara), deixamos marcas profundas na cidade e um governo cuja boa imagem será difícil suplantar.
O peso das questões nacionais não pode ser secundarizado (empobrecimento da classe média, reforma da previdência, desemprego, salário mínimo, juros, caso Valdomiro Diniz), embora esta não tenha sido uma eleição em que a maioria votou para protestar contra o governo federal.