Passavam das dez da noite e quatro horas do início do fechamento dos centros eleitorais na Venezuela quando a presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Tibisay Lucena, difundiu o primeiro boletim com resultados parciais das eleições municipais realizadas domingo (08/12). Na disputa por prefeituras, o chavismo manteve a maioria dos municípios, com 196 dos 257 onde os resultados já eram considerados irreversíveis, e obteve a maioria dos votos.
A coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática), liderada pelo governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, ganhou, por sua vez, 53 prefeituras, conseguindo reeleição em grandes centros urbanos como Maracaibo, capital do estado petrolífero de Zulia, e o Distrito Metropolitano, que engloba os cinco municípios de Caracas. Outras organizações políticas conseguiram vitória em oito prefeituras, segundo Lucena.
Os opositores, que encaravam o pleito municipal como um plebiscito acerca do apoio ao governo, ficaram mais aquém em número de votos em comparação com as presidenciais de 14 de abril deste ano, quando o presidente Nicolás Maduro derrotou Capriles por 225 mil votos (1,5%) . Oito meses depois, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e seus aliados obtêm mais de 5,1milhões de votos (49,24%), enquanto as alianças opositoras conseguem 4,4 milhões (42,72%).
Maduro comemorou o fato de o chavismo ter mantido a hegemonia das prefeituras do país e o maior número de votos totais. “Hoje, sem lugar a dúvidas, obtivemos uma grande vitória, o povo da Venezuela disse ao mundo que a Revolução Bolivariana continua com mais força que nunca”, declarou, em discurso a apoiadores, complementando: “Nem mesmo a guerra econômica que a direita armou, pode com a revolução”.
Usando um cachecol com as cores da Venezuela e acompanhado por Jorge Rodríguez, prefeito reeleito com 54,55% no município de Libertador, o mais importante de Caracas, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, além de membros de seu gabinete, Maduro também afirmou que a projeção do governo é ter ganhado três prefeituras para cada vitória da oposição.
“Espero que ele [Capriles] aprenda e reconheça que foi derrotado outra vez, que mostre a cara ao país e renuncie à direção política da MUD”, expressou o chefe de Estado venezuelano, ovacionado por chavistas que entoavam cantos conhecidos, como “assim, assim, assim é que se governa” e “Chávez não morreu, se multiplicou”. Uma nova canção, porém, surgiu após o pleito, em alusão a Capriles: “Capri Caprichito [caprichinho], toma seu plebiscito!”.
Segundo Maduro, dados atualizados no momento de seu discurso davam ao chavismo vitória em 210 prefeituras. Para ele, o lançamento de candidaturas de aliados do governo paralelamente a de candidatos do PSUV impediu a vitória do chavismo em algumas cidades. O presidente lamentou a perda para a oposição da prefeitura de Barinas, capital homônima do Estado onde nasceu o falecido presidente Hugo Chávez, enquanto comemorou a vitória em Los Teques, capital do estado governado por Capriles.
Capriles
O discurso de Maduro foi sucedido pelo do líder opositor, que afirmou que sua leitura dos resultados divulgados era a de um país “dividido”, que clama por um diálogo. “Este país não tem dono, aqui nenhum partido é dono da Venezuela, nem o governismo, nem a oposição”, disse Capriles, cercado de dirigentes opositores, ressaltando que o índice de participação eleitoral, de 58,92%, deve ser interpretado porque “muitos” deixaram de votar.
“Nos primeiros resultados o PSUV ganha em porcentagem de prefeituras e total de votos nacionais, enquanto a oposição aumenta seus símbolos”, escreveu no Twitter o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León, afirmando que, com os resultados, a oposição não consegue o objetivo de “castigar” a gestão de Maduro e o governismo mostra que não conseguiu reverter o favoritismo opositor nas principais cidades do país.
Votação
De acordo com autoridades estatais, o processo eleitoral municipal transcorreu com normalidade neste domingo. Maduro afirmou, logo após votar, que alguns incidentes esporádicos foram registrados, mas que estão sendo investigados. Em entrevista ao canal Globovisión, o ministro do Interior, Miguel Rodríguez Torres afirmou que 141 delitos eleitorais foram registrados em todo o país, uma cifra que considera “ínfima” quando comparada com a quantidade de eleitores.
No início da tarde, em Los Dos Caminos, na zona leste de Caracas, um carro com alto-falante convocava os moradores dos edifícios às urnas. “Não fiquem em suas casas, saiam para votar”, dizia a mensagem, enquanto o veículo circulava pelo bairro nobre. Durante a tarde, mais ao leste, na região popular de Petare, um caminhão com cartazes do candidato governista à prefeitura metropolitana de Caracas ecoava por altos falantes canções alusivas a Chávez, em meio ao intenso tráfego de pessoas, automóveis e motocicletas.
Em um centro de votação próximo, após discutir com as responsáveis de mesa de uma sala eleitoral, a dona de casa Yolanda Herrera Díaz afirmou que não conseguiu votar. “Coloquei minha impressão digital no aparelho que acionar a urna, mas ainda tinha uma senhora votando. Ela acabou votando por mim e as meninas da mesa me mostraram o voto para ver se eu concordava, mas ela votou em um opositor. Então pediram para assinar uma ata para anular o voto, mas eu quero votar. Isso nunca tinha acontecido comigo”, disse a Opera Mundi.
Após algumas reclamações de que no momento de retirar o comprovante de voto da urna eletrônica para depositar na urna de papelão, o papel saía rasgado, uma responsável de mesa da sala pediu aos eleitores que esperavam que não retirassem o boleto antes do tempo. A opositora Lila Merchand, por sua vez, afirmou que apesar de ter pedido ajuda a um dos responsáveis de mesa, não esperava que este observasse seu voto, como segundo ela aconteceu.
“Ela viu em quem eu votei. Isso está acontecendo muito, como é possível que a esta hora já tenha rumores de quem ganhou?” questionou. Segundo o tenente Morales, que atuava para proteção deste centro em Petare, os resultados dos pleitos são difundidos antes do anúncio do CNE porque, durante a apuração, testemunhas transmitem os dados das atas para centrais de dados, tanto do governo como da oposição, que contabilizam os votos.
Em um centro eleitoral menor, em meio à baixa afluência de votantes, a comerciante Estrella Kelzi saía com seu dedo mindinho pintado com a tinta indelével que comprova que os eleitores já votaram. “Foi muito fácil votar, não tive nenhum problema. As pessoas se confundem, erram e atrasam o processo porque chegam sem saber como é a votação. Mas é só se informar”, expressou.