A internet está no centro de uma mudança significativa nas forças produtivas: é a base material sobre a qual já se desenvolve a sociedade da informação, que vem tomando o lugar da sociedade industrial (pensamento que está presente nos trabalhos de Manuel Castells e Pierre Lévy). Transformações nas forças produtivas demandam, necessariamente, novas formas de organização social, econômica e política. Ou seja, começa a nascer um novo modelo de cidadania que para ser exercido em sua plenitude exige que sejamos capazes de receber e processar informações em um volume imensamente maior do que qualquer cidadão do século XX.
Esse imenso volume de informações excede a capacidade de qualquer indivíduo, forçando a necessidade de um processo coletivo de apreensão, troca e produção de conhecimento. Ser capaz de agir coletivamente é o grande desafio dessa nova era (a sociedade da informação) e o individualismo que hoje vemos nas redes sociais (em que a grande maioria produz e consome conteúdo sozinho; em que a grande maioria só quer falar, mas não quer ouvir) são marcas da fábrica de celebridades que foi o século XX (que tem na televisão seu ícone maior – com seus hits e estrelas). A ampliação da democracia na sociedade da informação está colocada na nossa capacidade de produzir e distribuir conteúdos e ações coletivamente, construindo grandes e organizados coletivos que promovam ações no ciberespaço e nas ruas (interferindo decisivamente na vida sociocultural, política e econômica das cidades, estados e países – ou até mesmo em escala global). Grandes coletivos que se coloquem como interface entre o indivíduo e a coletividade (interface que foi quase destruída pelos 30 anos de neoliberalismo global).
Nesse cenário que o presente nos coloca, não se pode falar em verdadeira inclusão social sem se falar em inclusão digital; não se pode falar em ampliação da democracia sem se falar em democratização do acesso a banda larga (por isso um verdadeiro plano nacional de banda larga é uma das condições fundamentais para os processos de desenvolvimento social e econômico do país); não se pode falar de negócios sem se falar em comunicação em rede (que otimiza recursos materiais, financeiros e humanos); não se poderá falar de cidade sem se falar de cidade digital (ou cidade em rede); não se poderá falar de política sem se falar de coletivos digitais.
Por isso, uma das missões atuais de uma verdadeira política de esquerda é pensar novas formas de representação política que levem em conta essa nova base material e cultural (as plataformas e a cultura digital) que permite uma maior e mais estreita articulação entre a população e seus representantes nos parlamentos e nos governos. Hoje, já é possível e necessário pensar em estratégias de organização de mandatos em rede e de governos em rede, nos quais, a população colabora na construção de projetos de políticas públicas. Essa nova forma de organização da relação entre representante, política pública e população pode e deve estar presente já no processo de campanha eleitoral, no qual, o candidato ao parlamento ou ao executivo constrói seu programa de ação a partir de coletivos articulados em redes de debate e ação.
* Gabriel Medina é psicólogo, militante do PT, do Movimento Música para Baixar (MPB) e do Fórum Nacional das Juventudes.
**Cleyton Boson é jornalista e cientista social, desenvolve pesquisa sobre as novas organizações sociais promovidas pela popularização da internet