Democracia Socialista

Com ajuda de movimento estudantil, centro-esquerda vence eleições legislativas chilenas

Do Opera Mundi

Caso seja eleita presidente em 15 de dezembro, a socialista Michelle Bachaelet terá maioria no Parlamento do Chile. Do contrario, sua adversária, a conservadora Evelyn Matthei enfrentará um cenário político desfavorável. Uma vez confirmada a realização do segundo turno neste domingo (17) para a eleição presidencial, o foco de atenção se voltou rapidamente para a contagem de votos que definiu  a renovação do Parlamento. Além do destino da chefia de Estado, os chilenos também elegeram 120 deputados e 20 dos 38 senadores. O grande destaques dessa votação foi o desempenho apresentado pelos candidatos saídos do movimento estudantil.

De acordo com os resultados finais divulgados pelo Servel (Serviço Eleitoral do Chile), a Câmara de Deputados será composta de 67 representantes da coligação Nova Maioria (centro-esquerda), que apoia Bachelet, 49 da governista Aliança pelo Chile (direita conservadora), três independentes e um do Partido Progressista (esquerda), de Marco Enríquez-Ominami. Já para o Senado, a Nova Maioria ficou com 12 das vagas em disputa contra oito da Aliança.

Movimento estudiantil

Alguns dos rostos que ficaram famosos pelas grandes mobilizações pela educação gratuita promovidos pelos estudantes em 2011 farão, dois anos depois, parte do novo Parlamento chileno. Na eleição de domingo foram eleitos os ex-dirigentes estudantis Camila Vallejo, Karol Cariola, Giorgio Jackson e Gabriel Boric. O único dos principais líderes do movimiento que não conseguiu chegar ao Congresso foi Francisco Figueroa.

Além desses quatro, outros 16 rostos novos obtiveram seus primeiros mandatos, fato inédito desde o retorno da democracia no país. Além da mostra de apoio ao movimiento estudantil, esses resultados indicam um desejo de mudança por parte da sociedade chilena.

Outra mostra da força das jornadas estudantis é que os candidatos eleitos citados acima estão entre os dez deputados mais votados no país. Camila Vallejo, candidata do Partido Comunista (pertencente à Nova Maioria), obteve o primeiro lugar com 43% dos votos no distrito de La Florida, região sudeste da capital Santiago. Jackson, que disputou pelo movimento RD (Revolução Democrática), criado por ele mesmo, ficou com 48% no distrito Santiago-centro, sendo um dos três eleitos como independente. A RD não faz parte da grande coligação de centro-esquerda, mas obteve dela apoio indireto, já que nenhum membro da Nova Maioria concorreu em sua zona.

Outro nome emblemático dos movimentos sociais que obteve sucesso foi a do dirigente sindical Iván Fuentes, que saiu eleito como deputado por Aysén. No início de 2012, Fuentes liderou o movimento regional de Aysén, na zona sul do Chile, que se estendeu por um mês e meio e gerou uma forte queda na popularidade do presidente Sebastián Piñera, chegando a níveis inferiores a 30%.

Mulheres e primeiro deputado homossexual

A representação parlamentar feminina também melhorou, com 16 mulheres sendo eleitas deputadas – duas a mais do que em 2009 – nove pró-Bachelet, cinco da direita e duas independentes. No Senado elas foram quatro que, somadas às três cujas vagas não foram renovadas este ano, acumulam sete cadeiras de um total de 38.

Outro fato inédito foi a vitória de Claudio Arriagada, que se tornou o primeiro deputado chileno a se declarar abertamente homossexual. O surpreendente é que ele pertence ao Partido Democrata Cristão, ala mais conservadora da Nova Maioria e que sempre teve postura contrária às visões mais progressistas, se posicionando contra o casamento homosexual, o direito ao aborto, entre outras.

Bipartidarismo

Um caso curioso ilustrou como o sistema eleitoral chileno beneficia, na prática,  o bipartarismo das grandes coligações: Marisela Santibañez, candidata do PRO (Partido Progresista, de Marco Enríquez-Ominami), obteve o primeiro lugar no distrito de Buin, com 27% dos votos. No entanto, os eleitos foram Leonardo Soto (25%), do PS (Partido Socialista) e Jaime Bellolio (22%), da UDI (União Democrática Indepedente). Isso se explica porque ambos pertencem às duas grandes coligações partidárias chilenas e as duas vagas de cada distrito são dadas ao total de votos obtidos pela coligação (máximo de dois por distrito), e não pelo desempenho individual. Assim, eles se beneficiaram dos votos somados pelos respectivos colegas de chapa, que superaram aos da dulpa do PRO e deixaram de fora a primeira colocada.