O racismo constrói mecanismos de perpetuação brutais. Uma elite organiza as leis, opiniões, ações públicas e midiáticas para garantir sua manutenção. Essa ação selvagem acontece em detrimento de outra parcela da população, majoritária, a comunidade negra. Isto é racismo. É recorrente falar que desde a falsa abolição pouco se fez. O debate agora é a urgência do que há por fazer.
Percebe-se o capitalismo começando a discutir de forma tardia a inclusão dos negros e das negras. O que queremos influenciar é a partir de qual estratégia acontece essa inclusão. As empresas começam a discutir diversidade étnico-racial, público negro como comprador, produtos específicos para a comunidade negra. Mas até onde estas ações são reparadoras? O Sistema vigente atual não nos interessa.
Defendemos o socialismo como superação do sistema capitalista que usa o racismo para sustentar-se. Queremos uma sociedade na qual a diversidade seja respeitada. As políticas de reparação existem para corrigir distorções históricas provocadas pela elite branca. Esta elite construiu postos de trabalho, Universidades, espaços de lazer e cultura que não nos permitem acessar. Espaços reservados aos negros apenas para servirem. Não aceitaremos as exceções, como se a inclusão de um ou dois negros resolvesse. O problema é global e sistêmico. As políticas de reparação devem ser para toda população negra.
Nos movimentos de juventude e estudantil, o relacionamento não é muito diferente. A inclusão da pauta racial deu-se a partir do sangue e suor da militância negra nas universidades. Mas onde estão e quais são as pautas principais do movimento estudantil? Quais espaços são prioridade e onde estão os investimentos políticos e financeiros? É um enorme avanço entidades como a UNE e o Conselho Nacional de Juventude incluírem atores e atrizes sociais negros e negras. Mas a pauta deve ser centralmente direcionada para a questão racial, problema estruturante para as relações excludentes do país.
Há uma efervescente luta cotidiana pela inclusão e manutenção dos jovens negros na Universidade. Mesmo sem muitos perceberem, os principais ataques da mídia continuam sendo fascistas, racistas, homofóbicos e machistas. Suas ações são contra os movimentos sociais e as políticas de inclusão da comunidade negra, reflexo do alcance das políticas públicas do último período e da nítida luta de raça e classe que vivemos contra as elites hegemônicas do país.
Todas essas constatações deixam algumas tarefas para o Coletivo Nacional Enegrecer. A primeira é constituir nas Universidades brasileiras e no movimento estudantil um movimento negro jovem politizado e de massas. Não há processo revolucionário sem muita luta, ampla mobilização, conscientização das bases e muito debate político. Essa ação não nega a importância das organizações negras que já existem nas Universidades. Algumas dessas organizações construíram um conteúdo programático profundo e qualificado que deve servir como essência para esta ação de unificação. Este Movimento Nacional deve ter eco e contar com toda a juventude negra organizada e independente.
A segunda tarefa é ocupar os espaços de poder para pautar a questão racial. Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos, DCEs, entidades representativas, Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional. Elabora quem intervem. Garantir uma intervenção negra é estar nos espaços onde as políticas são elaboradas e implementadas.
A última tarefa é urgente. Nós, juventude negra organizada, temos que estimular as lideranças negras. Só haverá centralidade na pauta racial quando formarmos aqueles que representam, que falam e que escrevem. Nessa perspectiva, é tático ocuparmos papéis principais. É fundamental tratarmos desses espaços como prioritários para nossa luta. Se não colocarmos a juventude negra, mesmo quando sem “experiência” para liderarem, estes nunca terão experiência.
Por que quase sempre as indicações para cargos e espaços de poder não são de pessoas negras? Essa é uma constatação cruel e desumana. Os nomes representativos não surgem instantaneamente. Eles são construídos; precisamos construir mais nomes da juventude negra. Só haverá centralidade na pauta racial quando formos aqueles que representam, que falam e que escrevem. Não podemos aceitar argumentos falsos como o da experiência, legitimidade ou falta de acúmulo político. Todos estes objetos são alicerçados, se não colocarmos o jovem para adquiri-los, eles nunca os terão.
Nós, do coletivo Enegrecer, lançamos nossa carta de apresentação. Somos jovens que se organizam na Democracia Socialista e independentes. Reafirmamos nosso compromisso com O PT, com a JN13 e com as lutas do povo Negro. Queremos nos somar às lutas e ajudar a construir vitórias coletivamente. Para tal, queremos construir uma cultura racial para todos os espaços juvenis.
Vida longa às organizações Juvenis Negras!
Coletivo Nacional Enegrecer