A favor dos trabalhadores, contra o projeto da mídia comercial:
Fora Bolsonaro e fora Mourão, juntos!
Se a imprensa é comercial, ela pode ser comprada.
E a brasileira não foge à regra.
Pois ela tem subido o tom das críticas em relação a Bolsonaro.
Algumas empresas de comunicação e seus colunistas já arriscam pedir o impeachment.
Fazem isso sem, apresentar autocrítica, claro.
Afinal, apoiaram a eleição de Bolsonaro e continuam apoiando o modelo econômico do seu governo.
Enquanto as barbaridades eram dirigidas à destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários, essas empresas apoiaram Bolsonaro, como apoiam as privatizações e a destruição dos serviços públicos.
A cada ataque que o SUS sofre, sempre ficaram calados.
A pandemia veio confirmar a importância do SUS, mas não o salva da sanha capitalista, seja privatizando, terceirizando serviços ou cortando recursos.
Pela Lei Orçamentária Anual – LOA para 2021 – a dotação para a saúde volta a sofrer as restrições impostas pela Emenda Constitucional (EC) 95/2016, emenda esta proposta por Michel Temer e aprovada pelo Centrão, ao qual Bolsonaro pertencia.
Voltar a aplicar a EC 95 significa que o orçamento do SUS para 2021 será de R$ 123,9 bilhões.
Ou seja, cerca de R$ 62 bilhões a menos que em 2020, que foi equivalente a R$185,01 bilhões.
Pelo silêncio, a imprensa comercial apoia essa redução de gastos com a saúde.
Essa imprensa é a voz da elite/burguesia brasileira que nunca se preocupou com o bem estar e a vida do povo brasileiro, tanto que a Covid-19 mata sem críticas profundas da imprensa de negócios.
Criticam agora porque é demais: morrer por falta de oxigênio dentro de hospitais é coisa típica de calamidade por guerras e/ou por catástrofes naturais.
No nosso caso, a catástrofe é fruto de um governo eleito com e pela imprensa comercial.
Mas, o que a deixou a nossa mídia comercial “indignada” (ou seria envergonhada?) é o comportamento desumano e ações do senhor Bolsonaro.
Elegeram-no, mas não esperavam que ele descesse tão baixo.
Sobem o tom de crítica de maneira às vezes leve e indireta.
Exemplo disso é o editorial Araújo, o estorvo, da Folha de S. Paulo, de 21 de janeiro, que ataca o ministro Ernesto Araújo como se fosse o único responsável pela política exterior do Brasil.
Araújo cumpre ordens de Bolsonaro e filhos, do oficialato (que tem revelado capacidade e mediocridade assustadoras) e das forças armadas que com ele governa.
Os comerciantes das informações sabem disso.
Mas, preferem se dizer surpresos por discursos de ataques a China, Venezuela, França e muitos outros países.
Por exemplo, as manifestações de alguns aloprados que festejam o fato de o Brasil ter se tornado um pária internacional.
Curiosamente, esses mesmos comerciantes da informação se comportaram de maneira amena quando Bolsonaro e Araújo menosprezaram o grupo dos BRICS, do qual fazem China e Índia, responsáveis pelo fornecimento de cerca de 90% dos insumos básicos para a produção de medicamentos e vacinas.
Tampouco vi cobranças maiores sobre o Brasil acompanhar de maneira rastejante a política ditada por Trump.
A política externa comandada pela dupla Bolsonaro/Araújo – e nunca negada pelo oficialato, principalmente generais do exército – tem sistematicamente se manifestado contra a China, inclusive acusando-a de ter criado o coronavírus em laboratório.
Não só isso. Com o avanço das pesquisas para a obtenção da vacina, começaram a fazer acusações infundadas de que o agente imunológico altera o DNA.
Ao longo do ano passado, o debate girou em torno da economia e das eleições, aliás, muito focadas nas questões municipais e ignorando totalmente a grave situação sanitária do país.
Enquanto muitos países se reuniam, formavam grupos de cooperação e buscavam a solução para a pandemia, o Brasil de Bolsonaro ficou de fora, sequer teve a iniciativa de buscar no mercado a quantidade de doses de vacinas que necessitamos.
No seu editorial de 21-01, a Folha rifa diretamente Araújo e indiretamente Bolsonaro.
Sobre Araújo escreve:
Obviamente, tornou-se carta fora do baralho na relação com o principal parceiro comercial do Brasil.
Sem citar Bolsonaro, indiretamente também o rifa:
Existem canais de comunicação alternativos, que passam pela Vice-Presidência, pelo Ministério da Agricultura e até pelo estado de São Paulo. Mas não poder contar com o Itamaraty significa que o chanceler se tornou um ônus.
Via Folha e outros porta-vozes da elite é possível deduzir que querem a saída de Bolsonaro.
Para eles, Mourão é mais elegante, palatável e confiável – no cargo de presidente – para aplicar as políticas econômicas que tanto lhes interessa.
Para eles, Mourão é a possibilidade – há que se provar – da construção de um nome da direita para disputar 2022.
Este nome não existe hoje. Vários estão sendo testados.
Daí, impichar Bolsonaro e construir o nome do vice, que manterá a destruição do serviço público e o neoliberalismo.
Com o impeachment de Bolsonaro, a imprensa comercial – culpada por tudo que está acontecendo no Brasil – quer se redimir e, como sempre, manter as rédeas do País.
Mourão é da confiança deles, executará o cardápio neoliberal.
Já para a classe trabalhadora tudo continuará como dantes: sem emprego e sem esperanças.
A luta deve ser fora Bolsonaro e fora Mourão. É muito pedir?
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Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2019, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Publicação original : www.viomundo.com.br/arapuca/dr-rosinha-a-favor-dos-trabalhadores-contra-o-desejo-da-midia-comercial-fora-bolsonaro-fora-mourao.html