No Centro de São Bernardo, que culminou na Assembléia Popular da Classe Trabalhadora, na histórica Praça da Matriz. A manifestação, parte das comemorações dos 25 anos de vida da Central Única dos Trabalhadores, aconteceu na tarde da última sexta, dia 8.
Por Isaías Dalle
O ponto de partida da passeata foi a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para onde se dirigiram as delegações vindas da 12ª Plenária Nacional, que acontecera em São Paulo, e também delegações de outras regiões – havia 19 Estados da Federação representados.
O secretário-geral da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, foi o coordenador, ou pode-se dizer também mestre-de-cerimônias, da passeata. No início da caminhada, lembrou a importância histórica daquela esquina da rua João Basso, onde fica o Sindicato, e a rua Marechal Deodoro. “Naquele momento de enfrentamento ao regime militar, quando lutávamos pelo direito básico de nos organizarmos, lá no final dos anos 1970, começava essa história de lutas e conquistas que tanto nos orgulha, a história da CUT”, disse ele.
Também no caminhão de som, o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, destacou que a luta, que teve início na reivindicação de direitos essencialmente trabalhistas, aprofundou-se e ganhou amplitude. “Claro que no início, como ainda hoje, precisávamos de melhores salários, condições minimamente dignas de saúde e segurança e de outros direitos, mas nossa batalha constante nos colocou em outras lutas, por justiça social para todos, saúde e educação públicas de qualidade, porque de nada adiantaria termos bons salários se nossas cidades não tiverem políticas públicas voltadas aos trabalhadores”, afirmou.
Júlio Turra, que iniciou sua carreira de professor e consolidou sua militância política no ABC, fez um paralelo entre as passeatas do período 1970-1980 e a caminhada de sexta-feira pela Marechal, como carinhosamente é chamada a rua pelos moradores. “Quantas vezes não fomos recebidos com bombas de gás lacrimogênio, com mordidas de cães e cassetetes. Mas foi a garra e a coragem da classe trabalhadora, unificada pela Central Única dos Trabalhadores, fundamentais para romper a ditadura, que nos permitem hoje caminhar por essa rua em festa, com todo o comércio aberto, em pleno funcionamento. Naquela época, o conflito com o regime fazia todas essas portas se fecharem”, lembrou.
O gaúcho Quintino Severo, secretário-geral da CUT, reafirmou sua origem para poder lembrar o caráter plural da entidade e de suas lutas. “A CUT representa todo o Brasil, todas as regiões. A CUT é o Brasil, refletido nas lutas históricas e imediatas da classe trabalhadora, composta por negros, mulheres, indígenas, camponeses, assalariados e trabalhadores informais, de Norte a Sul”.
Lúcia Reis, diretora executiva, dirigiu-se aos manifestantes com inconfundível sotaque carioca para destacar que a luta da CUT é por igualdade e distribuição de renda, e que nesse sentido a exigência de um Estado cada vez mais forte e presente, assim como aberto à participação das entidades populares é essencial. “Nestes próximos meses, como definido pela 12ª Plenária, uma de nossas prioridades é garantir a negociação coletiva no setor público, para democratizar e aperfeiçoar o serviço e o atendimento à população”, disse.
O presidente Artur Henrique, que havia caminhado a maior parte do trajeto, subiu ao caminhão de som para anunciar a proximidade da Praça da Matriz e do início da Assembléia Popular. “Estamos aqui para celebrar e reafirmar nossas raízes, para dizer de peito aberto a razão de viver da CUT são as lutas populares, a valorização de todos que vivem de sua força de trabalho, e o sonho de que cada brasileiro e brasileira, independentemente de suas origens, merece viver bem e ser dono de seus destino”, falou Artur.
Na chegada à Praça da Matriz, sob chuva ainda maior, as falas dos dirigentes tiveram, todas, o tom emocionado próprio à lembrança das lutas ali travadas em diversas ocasiões e da guarida que aquela paróquia deu a dirigentes grevistas perseguidos pelo regime militar, e, claro, da evidente influência da CUT na mudança que o Brasil experimentou nas três últimas décadas. José Lopez Feijó, diretor executivo, destacou que a CUT nasceu para encaminhar as lutas gerais da classe e para construir a unidade, já que “a dispersão seria ótima para os patrões e para muitos governos”. Rosane da Silva, secretária nacional Sobre a Mulher Trabalhadora, afirmou que uma das razões para a CUT ser grande e ser forte é ter “acreditado desde o início na importância da diversidade e na busca por igualdade de oportunidades e direitos”.
Expedito Solaney, secretário nacional de Políticas Sociais, reafirmou que “essa história de 25 anos e o aprendizado que nos trouxe, o acúmulo que temos, são essenciais para a superação das desigualdades que ainda persistem e para a construção dos próximos anos de luta”. Temístocles Marcelos Neto, titular da Comissão Nacional da CUT para a Amazônia, abriu sua fala proclamando o orgulho que tem de fazer parte da CUT e “a certeza de que essa Central é a verdadeira entidade que pode aglutinar os interesses e as lutas da classe trabalhadora e promover o diálogo com outros movimentos populares”.
Artur Henrique encerrou o ato com entusiasmo, apresentando aos presentes a Jornada de Lutas da CUT, elaborada e aprovada pela 12ª Plenária. Leu o documento, aprovado por unanimidade.