Na metade do século 19, durante o curso das revoluções burguesas na Europa, Marx e Engels iniciaram a construção de uma estratégia revolucionária e de transição da nascente sociedade capitalista para a comunista. Para tanto, formularam a primeira teoria da Revolução Permanente que era permeada por uma idéia de etapas históricas da construção do socialismo, na qual caberiam à burguesia as tarefas democráticas de superação das estruturas feudais e absolutistas, e ao proletariado, a radicalização desse processo, desaguando numa profunda revolução social.
Anderson Campos e Estevão Cruz *
Pelas influências do seu próprio contexto, numa conjuntura que foi denominada como “era das revoluções”, Marx e Engels conservavam a ilusão (essa posição foi assim caracterizada por Engels na Introdução às Lutas de Classe na França de 1895) de que a revolução social estava na ordem do dia e que seria um processo desencadeado tão logo a burguesia derrubasse os regimes absolutistas.
A partir de 1905, na Rússia Czarista, Trotsky retoma e reorganiza a teoria da Revolução Permanente. Sua concepção incorpora uma nova perspectiva do desenvolvimento das lutas do proletariado nos países atrasados da periferia do capitalismo. Compreende que a burguesia não estaria comprometida com as tarefas democráticas. Caberia ao proletariado tal missão. A permanência da revolução sustentar-se-ia pelo transcrescimento da revolução democrática em revolução socialista; pela revolução nacional como primeiro ato da revolução internacional e mundial; e por transformações constantes das relações econômicas e sociais.
Tarefas da revolução democrática
A Democracia Socialista foi fundada como uma corrente que busca uma síntese entre essa tradição e a originalidade da luta de classes no Brasil, da qual o PT é uma das maiores expressões. Por isso, buscou ligar a identidade marxista-revolucionária com o processo de construção do Partido dos Trabalhadores.
Ao analisarmos e atuarmos sobre situações concretas, buscamos desenvolver e nos somar em nova estratégia para a revolução socialista do século XXI. É assim que buscamos atualizar a idéia de revolução permanente como um processo de radicalização democrática, isto é, de socialização da política indissociada da socialização dos meios de produção.
Nossa compreensão estratégica busca superar a idéia de golpes liderados por uma vanguarda autoritária, autoproclamada dirigente e autossuficiente programaticamente. Ao mesmo tempo, é uma estratégia baseada na construção de um partido socialista e democrático, como parte de uma vanguarda mais ampla da luta pela transformação socialista. Nosso programa adquire sentido prático quando a construção do partido avança e quando conquistamos vigorosos e democráticos processos de participação das massas.
Assim, os desafios atuais da revolução democrática no Brasil estão associados ao fortalecimento da classe trabalhadora em suas lutas e sua organização, à construção da democracia participativa de massas, à universalização de políticas públicas que tencionem os limites do capital e tornem hegemônicas a economia do setor público diante da economia capitalista monopolizada; o feminismo e a desfamiliarização diante do patriarcalismo e da família burguesa; a cultura nacional e popular diante das culturas eurocentradas e elitistas; a solidariedade e a defesa da autodeterminação dos povos diante do imperialismo; a liberdade e igualdade diante do racismo, da homofobia e opressões de qualquer ordem.
Além dos clássicos, próxima etapa
A tradição marxista que alimenta nossa organização e luta social não parou nas contribuições pioneiras. Ela se desenvolveu ao longo de décadas, incorporando elementos das novas conjunturas e diante de situações concretas, não vivenciadas pelos clássicos do marxismo.
O próximo momento presencial do curso ocorrerá no início de 2011. Até lá, os noventa dirigentes da DS serão orientados a aprofundar temas apontados até aqui, nos debates sobre a atualidade da transição ao socialismo. Marxistas contemporâneos serão estudados, de forma a ampliarmos o entendimento sobre a construção do socialismo democrático e do Partido dos Trabalhadores como instrumento dessa construção.
As possibilidades da luta pela hegemonia da classe trabalhadora; as formas estabelecidas entre democracia e capitalismo hoje; o protagonismo popular na cultura política brasileira e; a dimensão do internacionalismo militante tal qual se desenvolve na América Latina nos anos 2000: são assuntos a serem estudados, discutidos e sistematizados na próxima etapa do Projeto de Formação Política da DS.
* Anderson Campos é membro da Coordenação Nacional da DS e Estevão Cruz é participante do Projeto Formação da Nova Geração de Dirigentes da DS.