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Derrotar outra vez o PSDB

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Ao se defrontar, enfim, com uma oposição forte e dotada de um forte discurso contraditório, a longeva hegemonia de Aécio Neves em Minas veio abaixo. Será diferente no Brasil?

Antes de qualquer prognóstico sobre o segundo turno das eleições presidenciais, é preciso antes prestar contas dos erros e acertos cometidos sobre a avaliação feita sobre os resultados do primeiro turno.

Ao se prever que uma vitória no primeiro turno de Dilma Roussef era possível, mas uma vitória no segundo turno – contra Aécio ou Marina – era muito provável, estabelecia-se uma escala de possibilidades.

Em primeiro lugar, a vitória no primeiro turno, embora anunciada por vários índices de aferição ociosos, não se realizou. É preciso entender, em primeiro lugar, porque o possível não aconteceu.

Ora, a ultrapassagem de Marina por Aécio ocorreu na última semana e seguramente sua votação de 33,5% se fez possível por uma aceleração deste movimento nos últimos dois dias que precederam as eleições. Isto ocorreu porque houve um movimento político-midiático organizado pela direção nacional do PSDB convergente nesta direção: já na segunda-feira as manchetes dos jornais de circulação nacional, em compasso com pesquisas no Jornal Nacional, anunciadas de dois em dois dias, combinando Ibope e Datafolha, passaram a se centralizar nesta hipótese. O debate na Rede Globo na quinta-feira expressou uma espécie de clímax e sua edição no dia seguinte no Jornal Nacional confirmou esta hipótese.

A concentração de críticas a Marina por parte da campanha de Dilma, somado à diferenciação crítica produzida pela campanha de Aécio, aceleraram as tendências de queda de Marina. Ao mesmo tempo, sem contraditório, Aécio pôde fazer, enfim, o seu movimento de nacionalização que havia sido interrompido com o acidente que vitimou Eduardo Campos e seus companheiros.

Esta dramatização política, que atualizava as razões do voto contra Dilma, contribuiu para diminuir e conter o seu crescimento para além dos 41,5%. O epicentro desta operação político-midiática foi exatamente São Paulo, onde o PSDB era mais forte e a campanha de Dilma mais vulnerável, mas espalhou-se com força pelo Sul do país (com exceção do RS) e pelo Centro-oeste, territórios que, em menor proporção, reproduzem este quadro.

Esta operação política-midiática de um Aécio renovado e empoderado quer agora transitar para um protagonismo vitorioso no segundo turno. Retoma-se a estratégia chamada pelo PSDB, de um “mutirão das oposições”, isto é, a conquista de uma vitória no segundo turno que não se justifica positivamente como alternativa mas apóia-se na rejeição ao que aí está.

Neste quadro, mantém-se a avaliação de que a vitória de Dilma no segundo turno é provável, tal como formulada no ensaio “O que virá neste outro outubro?”. Por que?

O paradoxo Minas

Se temos hoje um paradoxo hoje de um candidato à presidente da República derrotado em seu próprio estado, mas vitorioso em outros dez, inclusive por larga margem no principal colégio eleitoral do país, é preciso explicá-lo. Aécio ficou cerca de 4% atrás de Dilma, com 39% dos votos em seu próprio estado, passou a maior parte de setembro amargando uma terceira posição e nunca conseguiu se estabilizar muito para além dos 40%, apesar de universalmente conhecido pelos mineiros.  Além disso, seu candidato a governador foi derrotado no primeiro turno por 11% de diferença em relação ao candidato do PT, com pouco mais de 41% dos votos. O PSDB teve diminuída sua bancada na Assembleia Legislativa para nove deputados nestas eleições.

Uma boa explicação para a votação muito fraca de Aécio em Minas deveria consultar várias razões convergentes: o histórico recente de maus resultados do PSDB nas eleições de 2010, a força da candidatura Pimentel em relação à má performance da candidatura de Pimenta da Veiga, os desgastes junto a movimentos sociais importantes da última gestão do governo pelo PSDB. Mas a principal delas é que havia uma ilusão sobre a força política de Aécio: a ausência de uma oposição forte e de um forte contraditório em Minas havia aberto a possibilidade de passar de uma condição eleitoral majoritária para um “consenso passivo” dos mineiros, que votaram majoritariamente em Lula, por duas vezes, e em Dilma, mas continuavam votando no PSDB para o governo estadual.

Uma forte oposição com um forte contraditório fez desmanchar esta ilusão: “Minas não tem dono”, foi a frase mais forte que ecoou da candidatura Pimentel nestas eleições. A cisão da política revelou as bases sociais e regionais do aecismo, a sua dificuldade de passar para uma condição majoritária ou tendencialmente universalizante.

A verdade é que mesmo antes do acidente que vitimou Eduardo Campos e da ascensão de Marina, Aécio já mostrava muito dificuldade para ascender nacionalmente. Esta oportunidade veio na última semana do primeiro turno quando, como assinalamos, Aécio pôde crescer sem o contraditório, retomando o mote do anti-petismo. Aécio fez assim neste primeiro turno o caminho de sua nacionalização. Agora tem diante de si o desafio da conquista da maioria dos votos no segundo turno. Conseguirá?

“Muda mais”? Ou “mutirão das oposições”?

Uma maioria de segundo turno se forma somando minorias, isto é, agregando forças políticas, regionais, sociais, culturais. Em um quadro político como o brasileiro no qual a maior parte da população não tem uma identidade partidária pré-fixada, esta soma ou agregação de minorias para formar uma maioria não se faz só pela convergência de lideranças (embora ela seja importante) mas em torno a uma ideia-força catalizadora. Foi assim na eleição de Collor, foi assim nas eleições de Lula ou Dilma.

Qual é a ideia-força de Aécio? Ela não pode ser mais a rejeição ao governo Dilma que apresenta um quadro excedente importante de ótimo/bom em relação ao péssimo/ruim e que é considerado regular por uma parcela expressiva. Pois ela não forma uma maioria, pois em setembro isto mudou e é muito improvável que a popularidade do governo Dilma se deteriore. Seria, então, o eixo anti-petismo-corrupção ? Reconhecemos que ele forma hoje sentimentos proto-majoritários em certos contextos, isto é, que crescem de forma virulenta se não encontram uma resposta à altura. Mas Aécio, como político e como representante do PSDB, está em condição mesmo de liderar uma cruzada republicana nacional em defesa da ética?  Será possível demonstrar exatamente o contrário: que o PSDB é um dos partidos mais anti-republicanos do país, profundamente marcado pela corrupção e em particular pelo acobertamento e impunidade destes crimes. Parece-nos pouco provável que esta cruzada ética se apresente majoritariamente convincente.

Qual é a idéia-força de Dilma? Penso que é o “Muda mais”, isto é, uma disputa sobre as mudanças e o futuro, que se opõe ao retrocesso, enuncia as conquistas, reconhece seus limites e afirma o que será feito de novo. Na nossa avaliação, esta ideia-força – em sua identidade pública e social e em seu contraditório com Aécio – tem maior poder de polarização do que o anti-petismo-corrupção de Aécio. Em torno dele, pode-se formar uma larga maioria ao mesmo tempo que demonstra a condição política e social minoritária de Aécio.

As três grandes dificuldades de Aécio neste segundo turno – o paradoxo mineiro, a votação muito minoritária no Nordeste, a dificuldade de fazer convergir todas as forças de oposição para sua candidatura – têm relação, no fundo, com a estreiteza histórica da base política e social do PSDB.

As três grandes dificuldades de Dilma neste segundo turno – São Paulo, o anti-petismo e a possibilidade de uma convergência de todas as forças de oposição contra ela – podem, ao contrário, ser parcialmente superadas pela força do “Muda Mais”.

O segundo turno terá três momentos concentrados: o da reacomodação dos votos do primeiro ao segundo turno, o da disputa identidade-contraditório e a convergência final de cristalização e decisão de voto. O primeiro momento já começou e quanto antes começar o segundo para nós é melhor: agora, horas são dias, dias são meses e neste mês de outubro se definirá o futuro do Brasil pelos próximos anos.

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