Imagine viver em uma sociedade onde sua identidade e relacionamentos afetivo-sexuais são rotineiramente desvalorizados, onde você é objeto de estereótipos, pior ainda, onde sofre discriminação e violência apenas por ser quem você é.
Para muitas mulheres lésbicas, essa realidade é tristemente familiar. Em pleno século XXI, quando a luta por igualdade e respeito deveria ser uma realidade, mas a invisibilidade e o preconceito ainda assombram a vida das mulheres que se relacionam com outras mulheres. Neste texto, exploraremos a importância do Dia da Visibilidade Lésbica, um dia dedicado a visibilizar esses desafios e dar voz a histórias que há muito tempo merecem ser ouvidas
Numa sociedade profundamente patriarcal, a vida das mulheres se restringiu a prestar serviços aos homens. A sociedade brasileira tem avançado na superação dessa premissa, através da garantia de direitos e das lutas sociais travadas cotidianamente.
Entretanto, mulheres lésbicas ainda são violentadas, seja pelo não reconhecimento de suas relações afetivas, pela hiperssexualização das suas relações, como se estas servissem ao prazer masculino, ou pela prática de violência com o objetivo de “corrigir” a sexualidade das mulheres, correspondendo ao senso comum de “a mulher lésbica não teria encontrado o homem certo”.
Há 27 anos atrás, no dia 29 de agosto de 1996, um marco histórico aconteceu no Brasil que reverbera até os dias de hoje. Neste ano, mulheres lésbicas de diversas organizações sociais do país se uniram no 1º Seminário Nacional de Lésbicas, conhecido como SENALE, realizado no Rio de Janeiro. Esse encontro não apenas simbolizou a coragem dessas mulheres em se afirmarem publicamente, mas também representou um ponto de virada no movimento lésbico brasileiro. Estas tinham como objetivo incidir politicamente na construção de estratégias e ações na busca por direitos e dignidade das mulheres lésbicas.
Assim, celebrar o dia da visibilidade lésbica, 29 de agosto, e fazer de agosto um mês inteiro de ações, é reafirmar a luta das mulheres (cis e trans) lésbicas pelo reconhecimento de sua sexualidade e o combate as discriminações e violências sofridas. E qual o compromisso da categoria profissional em relação a visibilidade lésbica?
As/os/es assistente sociais, ao se comprometerem com o código de ética profissional, se comprometem com um projeto ético-político de profundas transformações sociais. Assim, a luta pela visibilidade lésbica deve ser um compromisso de todas/dos/des profissionais, de modo a produzir reflexões junto as equipes e usuárias/os/es de onde estivermos inseridas(os/es). O código de ética profissional enfatiza o respeito à dignidade humana, a eliminação de preconceitos e discriminação, e a promoção da justiça social. Portanto, ao alinhar-se com esses princípios, os assistentes sociais têm a responsabilidade de desafiar a invisibilidade e as injustiças enfrentadas pelas mulheres lésbicas.
Assim, a conexão entre o Código de Etica Profissional e a promoção da visibilidade lésbica é inegável. É um chamado à/aos assistentes sociais se engajarem ativamente na luta contra a discriminação, apoiando a visibilidade lésbica como um passo essencial em direção a uma sociedade mais justa. Não se pode furtar à temática, bem como à luta por individualmente não se enxergar afetado por ela.
A defesa dos direitos das pessoas LGBTQIAPN+ é uma bandeira de Luta do conjunto CFESS/CRESS. A invisibilidade lésbica é opressora e violenta! E deve ser um compromisso de toda a categoria profissional.
Cari Portal é assistente social, especialista em Saúde Coletiva (UFRGS), mestra em Serviço Social Internacional (Universidade de Aalborg/DK) e
Natália Doria é assistente social, especialista em saúde mental (GHC), trabalhadora do Sistema Único de Saúde (SUS).
Publicado em CRESS RS – Conselho Regional de Serviço Social do RS