O vídeo com o General Pazuello negociando vacina fora da agenda e acima do preço é um escárnio. Quando esteve na CPI, Pazuello afirmou que Ministro não deve se reunir com empresa fornecedora de vacina, e usou essa justificativa para explicar porque não respondeu à Pfizer. A pretensiosa lição de moral era, na verdade, cinismo para esconder a corrupção.
No período em que esteve à frente do Ministério da Saúde, o General deu inúmeras manifestações de que a inteligência não era o seu forte, demonstrou que não sabe onde é o hemisfério Norte e que não conhece o SUS. Não providenciou respiradores, deixou testes de COVID-19 em estoque, atrasou a compra de vacinas. Deu aulas de como não se faz planejamento e gestão logística, explicitou sua subserviência de cócoras diante do seu chefe sociopata e genocida.
Mas, ao contrário do que imaginávamos, não era negacionismo, era negócionismo. Pouco inteligente, mas muito espertalhão, o ministro general abriu mão de fazer acordo com o Instituto Butantã para a compra da Coronavac em benefício de realizar negociatas com intermediários, ao que tudo indica, para viabilizar ilícitos e propinas.
Diante desse cenário, o Legislativo deve reconduzir Pazuello de volta à CPI na condição de investigado. O STF não deve tratar Pazuello como insuspeito, há indícios e provas sobre as quais ele tem a obrigação de falar e se explicar. As FFAA devem reconhecer que um general da ativa fez negócio e negociata com a vacina e a vida da população. A Presidência deve ser cobrada de porque mantém no Palácio figuras nebulosas como Pazuello e Elcio Franco.
O caso põe a baixo qualquer mito de superioridade moral, intelectual ou de gestão dos militares. Os fardados devem retornar aos quartéis e às suas funções constitucionais, sem direito a tweets ou cartas. Quem vai reorganizar a República e limpar essa lambança são os civis, partidos e movimentos que tem compromisso com a república, com a democracia e com a vida.
- William Nozaki é Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo
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